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Seja Bem-Vindo(a)!

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Jesuína se despoja

Por quem? Por todas as Madalenas, Marias, Verônicas brancas, mulatas, pretas, pardas, índias, obscuras. Nem feias nem bonitas, assim como chitas. Por todas, Jesuína multiplicaria a capacidade de sofrer, para que sua dedicação chegue aos extremos do inverossímil. 
   Sujeita-se a dar pública manifestação de sua erótica humildade, lábios vermelhos, seios a saltar do vestido decotado, curto, apertado, marcando o corpo desgraçado. 
   Dia e noite, nos monturos das esquinas, disputa passo a passo seu espaço com córregos de urina e vômito dos bêbados ulcerados, leprosos, nos quais nada existe de seu. Pra dar testemunho do seu apostolado: redimir os pecados dos que fingem alegre seu triste fardo. Pra que possa existir a inocência, a virtude, a moral e os bons costumes.
   Por quê? Era de pouco estudo, mas muita compreensão. Porque, no grupo escolar, assistira palestra dos Villas-Bôas, aqueles três irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo, que levaram incenso e mirra pra gente que ouro já tinha. Gente de pra lá do rio Araguaia, que se banha em pelo, três, quatro, sete vezes por dia. Sempre gostou de tomar banho. Fecha os olhos e a água escorre lá das nuvens, água quentinha de Sol, desce fazendo caminho pelo rosto, pescoço, cosquinha no bico do seio, que saltava feito moleque espevitado, segue manso pela barriga e entra curioso na mata púbica, se emaranha e jorra feito cachoeira-véu de noiva. Os dedos dos pés, livre das alpercatas, se distendem. Sensação de sublime. 
   Sentiu sua missão. Partiria com os três irmãos magos. Ia viver pelada, ter filho de índio e viver grudada nele, feito canguru. Ia dar conhecimento pra quem tinha sabedoria. Os Villas-Bôas partiram. Por que me abandonaste, senhores? Ficou dias engasturada, assim como com precisão de fazer.
   Não foi, mas não teria a fraqueza de mudar de caminho. Cumpriria a missão pra cá do rio Araguaia: salvar todo o povo deicida, homicida, infanticida, parricida."  
Então Jesus lhes disse: Em verdade vos digo que os publicanos e as prostitutas vos precederão no Reino de Deus (Mt 21, 31). - LIC, ago. 2003.

“Sereis como deuses”

   Se pudesse dominar o mundo, o homem o faria. Se pudesse apropriar-se de todas as criaturas, assim o faria. Sente uma sede insaciável de estima popular. Com frequência, sua vida é competição para ver quem logra maior supremacia. O pecado é apenas um: pretender ser “deus”.
   Tudo que ameace ofuscar seu brilho constitui um inimigo e, em seu coração, dá lugar à inimizade para desencadear uma guerra, com o fim de anular qualquer competidor.
   Quanto mais tem, crê ser mais livre, quando na realidade é mais escravo. Quanto mais propriedades possui, crê ser mais “senhor”, quando na verdade está mais atado que nunca, mais dependente é. Por seu insaciável desejo de ser o primeiro, castiga a si mesmo com invejas, rivalidades, sonhos impossíveis, manobras para lograr hegemonias que, em definitivo, o transformam em uma pobre vítima. Vive preocupado com a conquista de prestígio pessoal e, quando o consegue, vive morto de medo de perdê-lo.
   Em resumo, o homem é escravo de si mesmo e de suas apropriações, e a escravidão consiste na idolatria ou egolatria. A solução de seu problema está em desalojar o “deus-eu” e substitui-lo pelo Deus Verdadeiro. - Ignacio Larrañaga, Transfiguração 2012, pp. 71-72.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Dia Internacional da Amizade

"A amizade é o amor sem cláusula de exclusividade e sem a ditadura da libido." Zuenir Ventura

O melhor remédio é o amor

   Amar é perder tempo com o irmão. Hoje em dia, todo mundo vive com a água pelo pescoço e com a língua de fora. Corremos contra o relógio, como dizem os esportistas. Há perigo de que cada um se perca no bosque de suas atividades, bastante desordenadas, em geral. Amar implica perder tempo
   Perder tempo quer dizer dedicar fragmentos de tempo aos outros mesmo sem um porquê, sem uma utilidade concreta. - Ignacio Larrañaga, Suba Comigo 2011, p. 198.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Como um outro dia qualquer

Em algum lugar do planeta Terra… 
Amanhece o dia do Senhor. Para todos.
Terráqueos despertam de sonhos vãos e são obrigados a viver, obedientes aos desígnios do Universo. 
O destino os espreita.
Aguardam-nos hábitos cotidianos, os lugares e os outros.
De afazeres se ocupam na tentativa de esquecer a presença constante da morte.
Aos prazeres se entregam acreditando serem livres, mas amam e odeiam sob o jugo dos deuses. 
Na incerteza se este será o último dia de espera, copulam desejando a imortalidade.
Invadem espaços na tentativa de encontrar o além sem se dar conta de que o ponto de partida é o mesmo de chegada. Vão e voltam, num moto-contínuo.
Anoitece. Para todos.
Fatigados pela repetição secular do existir, adormecem.
Crentes, ingênuas criaturas, de ter, amanhã, mais uma chance de descobrir o que são. - LIC, jan. 2000.

Por último

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Se passarmos a vida construindo pontes em lugar de muros, se abrirmos janelas para o mundo e não nos encerrarmos em uma cela cheia de espelhos em que só vemos nós mesmos, não temos porque temer a solidão. - Ignacio Larrañaga, As Forças da Decadência 2005, p. 181.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Se eu quiser falar com Deus... II


Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios

domingo, 27 de julho de 2014

O silêncio oportunista

Por que, para a paz mundial, a derrubada do avião malaio é muito menos ameaçadora do que a invasão de Gaza
   Não pergunto aos meus botões em que mundo vivemos, temo a resposta. A crise mundial dispensa maiores apresentações. Moral e intelectual antes que econômica, embora esta confirme aquelas precedentes. Por que a humanidade rendeu-se à religião do deus mercado? Por que aceitou passivamente as leis de uma fé que aproveita a poucos e infelicita os demais?
   Às vezes me colhe a sinistra sensação de que já começou uma nova, peculiar Idade Média. O mundo, seduzido pelo chamado avanço tecnológico, vítima de uma globalização dos interesses da minoria, distanciados os homens uns dos outros não somente pelo crescente desequilíbrio social, mas também pela versatilidade da mirabolante internet, não se apercebem do eclipse dos valores e dos princípios, e da ausência de poetas e pensadores.

Problemas de perdão

   Perdoar é abandonar ou eliminar um sentimento adverso contra o irmão. - Ignacio Larrañaga, Encontro 2012, p. 155.

sábado, 26 de julho de 2014

"Quem gosta de tristeza é o Diabo."


Ariano Suassuna (N. Sra. das Neves, 1927 - Recife, 2014)
Biografia, Bibliografia, Discurso de Posse, Textos escolhidos, Artigos, Vídeos e Notícias no sítio oficial da Academia Brasileira de Letras (em português)
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=305

Mocinha
   Em 1990, quando tomei posse de minha cadeira na Academia Brasileira de Letras, agi de modo a ligar o mais possível a cerimônia, o uniforme, o colar e a espada aos rituais de festa do nosso povo. Eu lera, de Gandhi, uma frase que me impressionou profundamente. Dizia ele que um indiano verdadeiro e sincero, mas pertencente a uma das classes mais poderosas de seu país, não deveria nunca vestir uma roupa feita pelos ingleses. Primeiro, porque estaria se acumpliciando com os invasores. Depois, porque, com isso, tiraria das mulheres pobres da Índia um dos poucos mercados de trabalho que ainda lhes restavam.
   A partir daí, passei a usar somente roupas feitas por uma costureira popular, Edite Minervina. E também foi ela quem cortou e costurou meu uniforme acadêmico, bordado por Cicy Ferreira. Isaías Leal fez o colar e a espada, unindo, nesta, num só emblema, a zona da mata e o sertão.

Um ser social

   A época em que vivemos, humanamente falando, é horrível: a tendência para a competitividade não só isola as pessoas e familiares entre si, mas também transforma os competidores em adversários e inimigos. A economia de mercado impulsiona o egocentrismo e produz solidão social, e a globalização é uma imensa solidão no âmbito internacional. - Ignacio Larrañaga, As Forças da Decadência 2005, p. 171.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Antes que a próxima 2ª feira chegue

Trabalho alienado
Fernando Pessoa ganhou a vida como tradutor de cartas comerciais; T. S. Eliot como bancário. John Stuart Mill dava expediente na East India Company, e Charles Peirce, no instituto de geografia americano. Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade foram servidores públicos exemplares.
O que é trabalho? O exemplo desses criadores - entre tantos que poderiam ser lembrados - é sugestivo. Embora premidos a trabalhar para pagar as contas no fim do mês, eles souberam encontrar no seu trabalho fora do emprego - independente de paga e, em alguns casos, até do apreço dos contemporâneos - uma razão de viver.
Isso permite distinguir duas concepções discrepantes: o trabalho como ganha-pão, exercido sob a pressão da necessidade, e o trabalho como vocação, ou seja, como uma atividade voluntária, não necessariamente remunerada, por meio da qual se busca dar vazão ao impulso criador e alcançar um sentido de realização pessoal.
O ideal de um mundo liberto do trabalho imposto de fora, como obrigação alheia à livre escolha individual, tem uma longa história. A formulação clássica é devida a Marx.
Na sociedade comunista, afiançava ele na "Crítica ao Programa de Gotha" de 1875, "quando tiver desaparecido a subordinação escravizadora dos indivíduos à divisão do trabalho", o trabalho deixará de ser "apenas um meio de vida para tornar-se, ele próprio, a primeira necessidade vital".
O comunismo, sabemos, não honrou a promessa. Ao contrário, levou a alienação do trabalho a novos píncaros, como no conhecido lamento do funcionário soviético - "nós fingimos que trabalhamos e eles fingem que nos pagam". Nada disso, porém, diminui o problema ou faz dele uma prerrogativa do marxismo.
Como já alertava Mill em 1848: "Trabalhar pelo preço oferecido por outro e para o lucro deste, sem interesse algum pelo trabalho - sendo o preço do trabalho ajustado pela competição hostil, com um lado pedindo o mais possível e o outro pagando o menos que puder - não é, mesmo quando os salários são elevados, um estado satisfatório para seres humanos que deixaram de julgar-se inferiores àqueles a quem servem".
O espantoso é que, não obstante o furioso aumento da produtividade desde o século 19 - o que poderia, em tese, reduzir a necessidade do trabalho alienado -, estamos hoje ainda mais distantes do ideal projetado pelos economistas clássicos do que quando eles o formularam.
A escalada do consumo atropelou o valor da autonomia na vida prática e engoliu o sonho do trabalho como esfera de autorrealização humana. O ter - e não o fazer - nos define. Não é à toa que o sentimento do vazio, em meio à toda tecnologia e abundância ocidentais, só faz crescer.
Eduardo Giannetti escreve às sextas-feiras nesta coluna.

Para o abandono na paz

   Em suas atividades diárias, as pessoas andam normalmente alienadas, isto é, fora de si mesmas. Consciente ou inconscientemente, são fugitivas de si mesmas, não querem enfrentar o seu próprio mistério.
   Quando, porém, entram em profundidade com Deus, entram também em seus próprios níveis mais profundos e tocam necessariamente em seu mistério que se condensa nestas perguntas: “Quem sou eu? Qual o projeto fundamental de minha vida? Que compromissos mantêm esse projeto em pé?”. -  Ignacio Larrañaga, Mostra-me o Teu Rosto 2011, p. 135.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

You and I Are the Problem, Not the World

   The world is not something separate from you and me; the world, society, is the relationship that we establish or seek to establish between each other. So you and I are the problem, and not the world, because the world is the projection of ourselves, and to understand the world we must understand ourselves. That world is not separate from us; we are the world, and our problems are the world's problems. - J. Krishnamurti, The Book of LifeJKOnline RSS


Necessidade de Deus

   A doença da Humanidade desde sempre e para sempre é a solidão existencial. Eis o que, às vezes, se ouve dizer: eu tenho tudo, mas me falta tudo. Milhares de pessoas têm me dito: tenho um bom marido, uma bela família, uma boa renda, saúde, tenho tudo, mas, às vezes, parece que me falta tudo. Sinto que, às vezes, sou como um poço infinito que todas as criaturas do mundo, todas as riquezas da Terra não podem encher e suponho que só um Infinito acabará por preenchê-lo. - Ignacio Larrañaga, Manual do Guia 2005, p. 62.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

O paraíso perdido

   - Para com isso, Pedro! Você ainda vai fazer estrago.
   Dizem que mãe sabe tudo. A minha ia além. Predizia desgraças.
   Há poucos minutos, o vidro da janela da sala desabou sob o impacto de um tiro não muito certeiro. O alvo era o Ulisses. Maldito gato!
   Pra me safar de beliscões e do puxão de orelha, me refugiei no banheiro com a arma do crime. Tranquei a porta, guardei o estilingue no bolso da calça e sentei encolhido de medo, sobre a tampa da privada. Imóvel, mudo, aguardei as consequências.
   - Pedro, que foi isso?
   E lá estava ela, esmurrando a porta.
   - Abra essa porta, moleque! Se demorar, vai ser pior.
   Preferi apostar no pior.
   - Você vai ver quando seu avô chegar!
   Preferi esperar pra ver. Homem com homem se entende, pensei.
   Minha mãe era de acessos. Filha única, enviuvara cedo. 
   Logo ouvi passos se afastando, descendo as escadas e depois... apenas o silêncio de uma cela solitária.
   Me dei conta que a espera seria longa. Acabara de almoçar e meu avô voltaria do trabalho apenas no final da tarde.
   Minha bunda começou a ficar fria, minhas costas a doerem. Experimentei a privada com a tampa levantada. Depois o bidê. Sentei no chão encostado na porta do box sobre o tapetinho de crochê. Por fim, me estiquei na banheira.
   Era de louça branca, com uma reentrância para acomodar a cabeça. Foi o que fiz. Me dei por morto. Afinal, a tarde estava perdida.
   Antes do último suspiro, uma visão. Uma mosquinha cega, dessas que nascem para a eternidade nos banheiros, colada na imensa parede de azulejos azuis, bem próxima do meu rosto. 
   Era menos que uma caca de nariz. Não servia pra nada. Pensei assoprá-la. Como pressentindo, voou em direção à porta e ousou posar sobre uma peça de roupa ali esquecida.
   Um sutiã. De renda vermelha.
   Desviei o olhar, mas minha atenção fora enfeitiçada.
   Eu tinha onze anos e estava só.
   Seios começaram a preencher e se despir daquele sutiã ao ritmo desordenado de lembranças e devaneios.    Seios vistos, pressentidos, imaginados, queridos. Os seios da minha mãe, da minha avó, de tias, primas, professoras, de todas as mulheres. Seios pequenos, grandes, fartos, murchos, arrojados, envergonhados. Seios brotando, maduros, em flor. Seios negros, mulatos, seios beijados, mordidos, lambidos, deleitados, sorvidos. De mamilos rijos, róseos, da cor do carmim, escarlates, a jorrar leite e prazer.
   Um fluxo de desejo agitou meu sangue. A correr desordenado, acelerou as batidas do meu coração e retesou, robusteceu, fez crescer parte do meu corpo. Isso nunca tinha acontecido.
   De um salto, levantei. 
   No espelho que cobria a parede, me vi projetado, macho da minha espécie. 
   Ainda confuso, mas já poderoso, esmaguei com a palma da mão a mosquinha cega. 
   Eu fora expulso do paraíso. - LIC, jul. 1999.

Amar é dialogar

   "Sua verdade? Não. A Verdade. Venha procurá-la comigo. A sua, guarde-a para você." Antonio Machado - Ignacio Larrañaga, Suba Comigo 2011, p. 174.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Consumidores de emoções

   Somos uma perpétua contradição: queremos estar ao mesmo tempo satisfeitos e insatisfeitos, concentrados e dispersos, em calma e em tensão.
   Não somos capazes, porém, de viver sem estímulos, porque somos insaciáveis consumidores de emoções; saltamos como estrelas cadentes de um estado a outro, de um hemisfério a outro, mostrando-nos alternadamente alegres, tristes, humildes, altivos; enfastiados, arrojados, desconfiados; satisfeitos, ofendidos, cheios de mil formas de receio, tendo, como diz Quevedo, “um breve descanso muito cansado” entre um estado e outro.
   No centro de nossa personalidade, no fundo do coração, mora um inventor de novos sentimentos e estranhas ocorrências que precisamos deixar acontecer e que, no fim, vão nos arrastar para o poço do cansaço. E assim vai indo a roda giratória da vida: mil necessidades fizeram surgir novos desejos; e as paixões, que estes geram, são a fonte mais fecunda de desordens que afligem o ser humano, cansam-no e o fatigam. - Ignacio Larrañaga, As Forças da Decadência 2011, pp. 40-41.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Entendendo a dor do corpo e da alma

   O workshop "Entendendo a dor do corpo e da alma" revela como a meditação e a visualização criativa permitem controlar a sensação de dor - do corpo e da alma. E como, entendendo sua psicologia, é possível transcender e metabolizar a dor, a angústia e o sofrimento para reencontrar caminhos mais plenos de identidade, superação e realização pessoal.
Palestrante: Omar Mustafá, diretor da Organização Método Silva Brasil.
Quando: 26 de julho de 2014, das 9h às 13h.
Onde: Hotel Feller, rua São Carlos do Pinhal, 200, Bela Vista, São Paulo (SP).
Mais informações e inscrição no site www.metodosilva.com.br ou pelo telefone: (11) 9 4968-4537.
LIC

Solidão, medo, angústia

   O medo não é o inimigo número um do homem, é o inimigo único. O mal da morte não é a morte, é o medo da morte. O mal do fracasso não é o fracasso, é o medo de fracassar. O mal de que não me queiram ou me ponham de lado é o medo de que isso aconteça.
   É espontânea e óbvia esta conclusão: removido o medo dos inimigos, os inimigos desaparecem, por mais valentões que possam estar parecendo aí na minha frente. -  Ignacio Larrañaga, Salmos para a Vida 2013, p. 62.

sábado, 19 de julho de 2014

Ideais

   "Os ideais são como as estrelas: nunca as alcançaremos. Porém, assim como os marinheiros, em alto mar, traçaremos nosso caminho seguindo-as." Jean-Paul Sartre - Ignacio Larrañaga, Transfiguração 2012, p. 5.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Nosce te ipsum


Ansiedade

   O pior dos sofrimentos – a ansiedade – deriva do pior dos males: não saber para que se está neste mundo. Por isso, dissemos que a ansiedade se parece com um suicídio lento e com a região da morte. Nietzsche dizia que quem tem um objetivo na vida é capaz de suportar qualquer coisa. Eu acrescentaria que a vida que tiver sentido jamais vai conhecer a ansiedade, ao menos a ansiedade profunda e permanente. - Ignacio Larrañaga, Suba Comigo 2011, p. 20.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Amar é também dizer Não

Aos avós, pais, parentes e padrinhos das nossas pobres e abastadas crianças, empanturradas de guloseimas, biscoitinhos, salgadinhos, refrigerantes: assistam "Muito além do peso" e parem de matá-las por amor.

Sonhar e despertar

   A vida real se encarrega de destruir os sonhos; as fantasias são levadas pelo vento e ficamos com a realidade descarada entre as mãos: o casal ideal não existe. 
   Para muitos casais jovens este despertar é cruel, ainda que necessário e benéfico, como disse A. Machado: "Após o viver e sonhar, está o que mais importa: despertar". - Ignacio Larrañaga, O Casamento Feliz 2001, p. 42.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

À sombra da oliveira

"Na Porciúncula, vive um franciscano que dará muito o que falar no futuro. Chama-se frei Alessandro, tem 34 anos e foi descoberto este ano (2012) por Mike Hedges, empresário do U2, sendo convidado a gravar o CD Voice from Assisi nos lendários estúdios dos Beatles em Abbey Road, em Londres. Alessandro revelou-se um grande tenor, comparável a Andrea Bocelli. No álbum lançado há um mês (novembro) canta, entre outras, em seu humilde hábito franciscano, peças famosas como Irmão Sol, Irmã Lua, do filme de Zeffirelli, a Ave Maria de Schubert, o Kyrie da Misa Criolla do argentino Ariel Ramírez (1964), até as Lodi di Dio Altissimo, baseadas em uma oração escrita pelo próprio São Francisco no século XIII."
Fonte: Oliviero Pluviano. O Som da Imagem. CartaCapital, 15 dez. 2012. http://www.cartacapital.com.br/cultura/a-sombra-da-oliveira

Os fugitivos

   A tentação do ser humano – hoje, mais do que nunca – é a superficialidade, isto é, viver à superfície de si mesmo. Em vez de enfrentar o próprio mistério, muitos preferem fechar os olhos, apertar o passo, fugir de si mesmos e buscar refúgio em pessoas, instituições e diversões. [...]
   Nunca foram tão vigorosos como hoje os três inimigos da interioridade: a distração, a diversão e a dispersão. A produção industrial, a pirotecnia da televisão, a vertigem da velocidade, são um atentado permanente contra a interioridade. [...] 
   Existe tão pouco amor porque as pessoas vivem na superfície, tanto na fraternidade como no casamento. A medida da entrada em nosso mistério será a medida de nossa abertura aos irmãos.
   Nossa crise profunda é a crise de evasão. Fugindo de nós mesmos, vivemos fugindo também dos irmãos. É preciso que o irmão comece a ser pessoa, isto é, comece enfrentando e aceitando seu próprio mistério. - Ignacio Larrañaga, Suba Comigo 2011, p. 14-15

terça-feira, 15 de julho de 2014

Todo mundo pode mudar o mundo

"Quem se importa" é um longa metragem filmado em sete países diferentes: Brasil, Peru, USA, Canadá, Tanzânia, Suíça e Alemanha. O filme estreou comercialmente em abril de 2012 e, além da exibição em cinema, tem sido apresentado em diversas conferências no Brasil e exterior, inclusive é recomendado pela Unesco. "Quem se importa" é também um Movimento. Nos 93 minutos de filmagem, empreendedores sociais, gente como a gente, provam que, com ações simples, tão simples que poderiam parecer ingênuas, é possível fazer a diferença. Assista o trailer e colabore com quem se importa. Ficha técnica Direção de Mara Mourão e produção de Mamo filmes e Grifa filmes. Narração de Rodrigo Santoro. http://www.quemseimporta.com.br/

A noite escura

   Deus não é para ser “entendido” analiticamente porque nunca entrará em nosso jogo acrobático de silogismos, premissas e conclusões, induções e deduções. “Entendemos” Deus de joelhos: assumindo-o, acolhendo-o, vivendo-o. [...] Conquistar (intelectualmente) a Deus? Nesse sentido, o Senhor Deus é “inexpugnável”. O difícil e necessário é deixar-se conquistar por ele. - Ignacio Larrañaga, Mostra-me o Teu Rosto 2011, p. 96.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Taizé

   Taizé (lê-se Têzê) fica entre Chalon-sur-Saône e Mâcon, na Borgonha, França, a 1h35 de Paris por TGV.
   Em Taizê, há mais de 70 anos, existe uma comunidade ecumênica cristã que acolhe todos os integrantes da raça humana, independente de seu passaporte dogmático.  
   Jovens, principalmente, vêm a Taizé para viver uma experiência de trato pessoal com Deus por meio da oração.
   Irmão Roger (1915-2005), seu fundador, acreditou que o Amor apregoado por Cristo pode concretizar utopias.
LIC, 2014
Ouça Nada te Turbe, gravada em Taizé.

O Medo

7 minutos com Mia Couto

Apropriar-se

   Qualquer um de nós pode sentir o desejo de possuir algo, de torná-lo “meu”, “para mim”. Esse algo pode ser uma ideia, uma pessoa, um êxito, um cargo, um projeto, um nome, a imagem de mim mesmo... Torno-os “meus” na medida que os utilizo para minha própria satisfação ou proveito.
   E, assim, podemos estender uma ponte de energias adesivas, enlaçando minha pessoa com esse algo; a este enlaçamento, a este “torná-lo meu”, chamamos  apropriação. O pior que pode acontecer é que esse algo seja “eu mesmo”: nesse caso, eu me transformo em proprietário de mim mesmo. [...]
   Quando o “proprietário”, ligado emocional e possessivamente a algo, pressente que sua apropriação está ameaçada ou há o risco de perdê-la, emite uma descarga de energia emocional em defesa das propriedades ameaçadas; é o medo que, rapidamente, pode tomar, de acordo com o caso, a forma de sobressalto, ansiedade, agressividade. - Ignacio Larrañaga, Transfiguração 2012, pp. 49-50.

domingo, 13 de julho de 2014

Workshop: A viagem do viver

   Viver é uma experiência apaixonante se há constante crescimento e renovação.
   Neste workshop, Omar Mustafá, diretor da Organização Método Silva Brasil, revisa os principais itens que acompanham o ser humano na viagem de sua existência material. E pontua como gerar a energia da mudança para redescobrir e viver o real propósito de nossa estada neste Planeta. 
Quando: 26 de julho de 2014, das 15h às 19h.
Onde: Hotel Feller, rua São Carlos do Pinhal, 200, Bela Vista, São Paulo (SP).
Mais informações e inscrição no site: www.metodosilva.com.br ou pelo telefone: (11) 9 4968-4537.
LIC

A última noite

   A vida me ensinou que o amor é a suprema energia do mundo e o princípio de toda a santidade consiste em deixar-se amar, porque somente os amados amam.
   Também, no transcorrer desses anos, a experiência de vida me deixara uma série de evidências: que a única grandeza do Pai é a compaixão; que o Pai sempre está esperando, sem forçar ninguém e respeitando a liberdade; que não existe em seu dicionário a palavra castigo; pelo contrário, se os homens lhe jogam pedras, Ele, em troca, lhes dá flores; quando os homens lhe lançam flechas envenenadas, Ele, em troca, lhes oferece um sol de ouro; que carrega nos ombros a ovelha rebelde e fugitiva e leva-a para pastar em verdes campinas; que, enfim, seus melhores cuidados e presentes Ele os reserva aos rebeldes. - Ignacio Larrañaga, A Rosa e o Fogo 2012, pp. 102-103.

sábado, 12 de julho de 2014

Um olhar divino

 [...] quando os olhos do homem estão povoados de Deus, tudo o que esses olhos contemplam aparece revestido de Deus. - Ignacio Larrañaga, Transfiguração 2012, p. 32.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Abertura para a vida

   Quanto mais a pessoa se abre para a vida, tanto mais delicada se faz a sua capacidade de captar a beleza da criação, as alegrias da humanidade. Quanto mais ela cresce em compreensão, em percepção estética, na apreciação de valores, tanto mais cresce como pessoa, por conseguinte, e amadurece a consciência de sua própria singularidade.
   Essa consciência, que nasce como fruto de um amadurecimento pessoal, não leva a pessoa à frustação ou ao isolamento; ao contrário, leva-a à abertura para os irmãos, com um sentimento de respeito pelo mistério individual. - Ignacio Larrañaga, As Forças da Decadência 2005, p. 177-178.

Os segredos mais íntimos

   O homem livre é aquele que sabe passar por cima de suas cadeias com paciência. [...] A felicidade não está em ter ou não ter, mas em aceitar tudo em paz. O Pai distribui entre seus filhos os presentes e as contrariedades e, às vezes, estas são um sinal de um carinho maior, porque a contrariedade, vencida em paz, é uma tempestade calada que quebra e limpa os galhos mortos. - Ignacio Larrañaga, O Pobre de Nazaré 2012, p. 129. 

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Meu ideal seria escrever...

Meu ideal seria escrever... uma carta para meu filho.
   Em uma folha de papel branco, tão alvo como a primeira luz do dia, para que as palavras ali resplandecessem como a estrela da manhã.
   Enviaria pelos Correios, envelopada, a ser entregue pelas mãos de um carteiro.
   Seria tão somente uma carta assim endereçada:
Para meu filho, com  carinho 
De sua mãe
   Deste modo, eu poderia lhe falar, sem a timidez a que o afeto me constrange, sobre a dor do que passou.
   E lhe pediria perdão pelo garoto travesso que ele não foi, pela pipa que deixamos de empinar, pelas bolinhas de gude guardadas na gaveta à espera de um chão de terra.
   Pelas poucas gargalhadas que demos, pelas histórias que não contei e por não ter escutado seus sonhos.
   Lhe pediria também compreensão por meus desacertos, pois eu estava aprendendo – a partilhar meu tempo, meus pensamentos, meu querer. Estava aprendendo a amar. 
   Hoje nos separamos. É preciso, é da vida. Mas ainda há tempo. 
   De subirmos no galho mais alto de uma velha árvore para, de lá, admirar o mundo, com o olhar confiante de um menino.
   E recomeçarmos nossa história, descuidados, comendo escondidos toda a sobremesa do jantar, esperando de mãos dadas pelo ataque dos índios. - LIC, jan. 1998.

Cara metade

Você há de querer que eu seja
o que te falta.
Mas falto a mim mesma! - LIC, 7 out. 2010

Aprender a Orar para aprender a Viver


Você conhece as Oficinas de Oração e Vida?
São encontros semanais onde se aprende, por meio de um método bastante simples, a se aprofundar na prática da Oração e a estabelecer uma relação pessoal com Deus.
As Oficinas de Oração e Vida têm início nos meses de março e agosto, simultaneamente nos 44 países onde está presente. 
No transcorrer dos 15 encontros semanais, de duas horas cada, você será conduzido a:
  • Relacionar-se com Deus como um amigo.
  • Orar com a Bíblia, sentindo a presença de Deus, seu consolo, sua força e sua paz.
  • Libertar-se das tristezas, ansiedades e angústias mentais. Livrar-se dos ressentimentos, mágoas, ódios, frustrações e complexos.
  • Conciliar as relações na família, no trabalho e na comunidade.  
  • Enfrentar com sabedoria e serenidade os desafios do dia a dia.
  • Ser mais saudável, alegre, livre e feliz.
Venha participar conosco!

Início: 5 de agosto, terça-feira, das 14h às 16h.
LocalÁrea Pastoral São Domingos de Gusmão, rua Carapiranga, 278, Vila Caraguatá, São Paulo (SP).

Início: 6 de agosto, quarta-feira, das 14h30 às 16h30.
Local: Paróquia Nossa Senhora do Carmo da Aclimação, rua Braz Cubas, 163, Aclimação, São Paulo (SP), salão paroquial.

Fé pura e despida

   A imagem de Deus esteve muitas vezes revestida de uma multiplicidade de roupagens: nossos medos e inseguranças, nossos interesses e sistemas, nossas ambições, incapacidades, ignorâncias e limitações. Para muitos, Deus era a solução mágica para todas as coisas impossíveis, a explicação de tudo que ignorávamos, o refúgio dos derrotados e incapazes.
   Nessas muletas apoiavam-se a fé e a “religiosidade” de muitos cristãos.
   A desmistificação está demolindo todo esse conjunto de imagens, retirando essas roupagens e, graças à secularização, começa a aparecer o verdadeiro Rosto do Deus da Bíblia: um Deus que interpela, incomoda e desafia. Não responde, pergunta. Não soluciona, põe em conflito. Não facilita, dificulta. Não explica, complica. Não gera meninos, faz adultos. - Ignacio Larrañaga, Mostra-me o Teu Rosto 2011, pp. 11-12.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Haikai

Ano Novo
me desafio, 
anos a fio. - LIC, 1º jan.  

O porquê deste Blog

   Em outubro de 2013, na última entrevista concedida por frei Ignacio Larrañaga, ele diz que, ao se aposentar, "no para hacer siesta", pensava iniciar outro trabalho “dentro de la casita, no andando pelo mundo, que no me gusta nada”. 
   E qual seria esse trabalho? Propagar, via internet, trechos dos diversos livros que escrevera.
   Porém, em 28 desse mês, no cumprimento de intensas atividades na direção das Semanas de Culminância, reuniões com grupos de Guias das Oficinas de Oração e Vida [Talleres de Oración y Vida-TOV], em mais de 22 cidades de vários continentes, frei Ignacio partiu. 
   Senti, então, que poderia dar uma pequena contribuição a seu projeto inconcluso. 
   No dia 11 de dezembro desse ano, iniciei o envio de mensagens diárias com fragmentos de seus livros aos meus contatos de e-mail. Alguns destinatários ficaram agradecidos. Outros, nem tanto.
   Assim sendo, por meio deste Blog, resolvi concluir dois projetos inconclusos, o de frei Ignacio e o meu, sem incomodar ninguém. 
   Neste endereço, compartilho o meu olhar e outros olhares sobre a complexa e diversa identidade deste mundo com quem quiser, de livre e espontânea vontade, me dar a alegria de sua companhia. E divulgo fragmentos extraídos dos livros de frei Ignacio Larrañaga, que falam, essencialmente, de Deus e do Amor.
   Sejam bem-vindos! - LIC jul. 2014.

Ignacio Larrañaga (1928-2013), sacerdote franciscano capuchinho, é o idealizador e fundador das Oficinas de Oração e Vida, encontros semanais onde se aprende, por meio de métodos bastante simples, a se aprofundar na prática da oração e a estabelecer uma relação pessoal com Deus. 

A última entrevista

A razão de ser

   Foi em março de 2013. Início das Oficinas de Oração e Vida. Até então, só conhecera um Deus vestido de relâmpagos. Logo na Primeira Sessão, foi apresentado o novo nome de Deus - Abba - e assegurado que o 1º Mandamento havia caído para sempre. De agora em diante, não consistiria em "Amar a Deus", mas em "Deixar-se amar por Deus".
   Foi a descoberta de um Mundo Novo, resumido e dilatado ao infinito e pela eternidade à máxima "Tudo é Amor"! A transcendência e a beleza desse admirável mundo novo foram sendo desvendadas ao longo das quinze sessões das Oficinas de Oração e Vida criadas por Ignacio Larranãga em 1984. 
   Pela primeira vez, ouvia falar de Ignacio Larranãga, um franciscano capuchinho nascido no ano de 1928, em Azpeitia, na província de Gipuzkoa, comunidade autônoma do País Basco, Espanha.
   Em "A Rosa e o Fogo", seu livro autobiográfico, ele se desnuda como ser humano, consagrado para a missão de reafirmar que "o espírito é o verdadeiro ‘lugar’ do encontro com o Pai". Que "os verdadeiros adoradores, de agora em diante, devem adorá-lo ‘além’ dos ritos, templos, cerimônias e palavras: adorarão em espírito e verdade. E é desse tipo de adoradores que o Pai está precisando, e os deseja”. - LIC jul. 2014.

A Rosa e o Fogo, Ignacio Larrañaga. 8 ed. São Paulo: Paulinas, 2012. Coleção Em busca de Deus.