Meu ideal seria escrever uma carta para meu filho.
Em uma folha de papel branco, tão alvo como a primeira luz do dia, para que as palavras ali resplandecessem como a estrela da manhã.
Enviaria pelos Correios, envelopada, a ser entregue pelas mãos de um carteiro.
Seria tão somente uma carta assim endereçada:
Para meu filho, com carinho.
De sua mãe
Desse modo, eu poderia lhe falar, sem a timidez a que o afeto me constrange, sobre a dor do que passou.
E lhe pediria perdão pelo garoto travesso que você não foi, pela pipa que deixamos de empinar, pelas bolinhas de gude guardadas na gaveta à espera de um chão de terra.
Pelas poucas gargalhadas que demos, pelas histórias que não contei e por não ter escutado seus sonhos.
Lhe pediria também compreensão por meus desacertos, pois eu estava aprendendo – a partilhar meu tempo, meus pensamentos, meu querer. Estava aprendendo a amar.
Hoje, nos separamos. É preciso, é da vida. Mas ainda há tempo.
De subirmos no galho mais alto de uma velha árvore para, de lá, admirar o mundo, com o olhar confiante de um menino.
E recomeçarmos nossa história, descuidados, comendo escondidos toda a sobremesa do jantar, esperando de mãos dadas pelo ataque dos índios.
LIC, jan. 1998
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