Antigamente...
Ouvi minhas avós - as duas - repetirem essas palavras inúmeras vezes.
Anos depois, minha mãe passou a dizê-las quando eu, da altivez de minha juventude, queria mudar o mundo "reinventando a roda".
Estou contando isso porque meu filho, vencida a burocracia e um longuíssimo, custoso e intrincado percurso, conseguiu a cidadania italiana.
Ele está em Milão desde o ano passado.
Hoje, telefonou dizendo que vai ficar por lá.
Quanto tempo ainda?, perguntei.
Pra sempre, ele respondeu.
Bateu um aperto no coração, mas sem lamentos, pois na ordem natural da vida as crianças crescem e se vão.
Mas raramente se iam pra tão distante.
Às vezes, iam pra um outro bairro, ou pra uma cidade vizinha, ou pra um estado daqui mesmo.
Os porquês do antigamente era assim e os porquês do atualmente é assim são numerosos e diversos.
Como isto não é um ensaio, vou contar algo de que me lembro sempre quando penso nessa atual onda migratória de filhos para o exterior - tenho muitos parentes e amigos com filhos morando em outro país e que veem os netos crescerem por meio de chamadas de vídeo.
Em 1933, Adolf Hitler, líder do Partido Nazista, foi nomeado chanceler da Alemanha e iniciou a perseguição aos judeus.
Em 1º de setembro de 1939, sob seu comando, os alemães invadiram a Polônia. Foi o início da 2ª Guerra Mundial e da Shoá, o assassinato em massa de cerca de seis milhões de judeus.
O psiquiatra judeu austríaco Viktor Frankl, esse mesmo ano, obteve um visto para emigrar para os Estados Unidos, mas seus pais não tinham como se refugiar em outro país.
Indeciso entre o desejo de ir e ficar por causa da circunstância dos pais, um dia...
“Ao chegar em casa, encontrei sobre o aparador do rádio um pedaço de mármore que meu pai tinha apanhado nos entulhos do que restara da destruição da maior sinagoga de Viena."
"Perguntei a ele o que era aquilo. Na pedra estava gravada em dourado parte das leis da Torá, o quarto mandamento: ‘Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na Terra’."
"Depois disso, decidi permanecer na Áustria.”
Isso me impressiona e emociona. Acho que porque meu tempo está se aproximando, cada vez mais, do antigamente do que do atualmente.
Deve ser isso. 🤷🏻♀️
P.S.: Para quem quiser conhecer o fim da história, recomendo ler "Em busca de sentido", ed. Vozes.
LIC, 18 maio 2024
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