O pós-operatório recomendava manter repouso, evitar carregar peso, não abaixar a cabeça.
Tinha permissão para ler, assistir televisão e comer à vontade.
Depois de comer à vontade, resolvi repousar no sofá assistindo televisão.
Mas televisão é um sonífero potente pra mim; bastam cinco minutos diante da tela acesa e eu adormeço.
Pra não correr esse risco, pois, de três em três horas, tinha que pingar o colírio, procurei um filme numa plataforma de streaming.
Gosto de drama com humor, bom humor.
Como a vida exibe magistralmente esses dois gêneros, aparentemente incompatíveis, escolhi um filme baseado numa história real.
Intocáveis ("Intouchables"), de 2011.
É sobre a amizade entre o milionário francês tetraplégico Philippe Pozzo di Borgo e o imigrante senegalês Abdel Yasmin Sellou contratado para ajudá-lo nas suas necessidades básicas de sobrevivência.
Dois seres humanos que aprenderam não ser possível viver acreditando nos clichês ingênuos de autoajuda que, atualmente, circulam pelas redes sociais.
Autoajuda é um perigo, caros leitores! Nos fazem acreditar que é possível viver um dia inteirinho cor-de-rosa.
Os dias não têm uma única "cor". Não, eles têm todas as cores da paleta infinita do viver e, graças a Deus, pois seria insuportável viver uma sucessão interminável de dias róseos.
Pois a consciência se dá por contraste: perda e ganho, sofrimento e prazer, quente e frio, bom e ruim, bem e mal etc. etc. etc.
Não pretendo fazer a apologia do sofrimento. Seria antinatural.
Mas reforço apenas o que ouvi de minhas amadas e sábias avós: "O completo bem-estar pode ser o fim da alma".
Então, bem-vindos domingos, segundas, terças, quartas, quintas, sextas, sábados... e domingos, com seus diversos matizes, tonalidades e intensidades, do preto ao branco.
LIC
P.S.: Philippe morreu em junho do ano passado (2023).
Liane sempre dissertando com bons comentários do seu dia a dia e nos inspirando a não desistir jamais.
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