O meu olhar. O olhar do outro. O olhar profano. E o místico. Feminino e masculino. Olhares apaixonados. Outros, razão pura. Todos, restritos. Poucos se aproximam do Infinito. São nossos olhares, distintos olhares sobre o mesmo Universo. Porque "agora vemos em espelho e de maneira confusa, mas, depois, veremos face a face. Agora meu conhecimento é limitado, mas, depois, conhecerei como sou conhecido" (1Cor 13, 12).
terça-feira, 30 de setembro de 2014
A face esquerda
Hævnen (In a Better World), Melhor filme estrangeiro | Golden Globe Award | 2011; Melhor filme estrangeiro | Oscar | 2011.
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Mais sobre a alegria
- Olha como os peixes estão alegres no rio.
O outro replicou:
- Como é que tu, que não és peixe, sabes que os peixes estão alegres no rio?
O primeiro respondeu:
- Por minha alegria em cima da ponte. Apólogo chinês - Ignacio Larrañaga, Sofrimento e Paz 2013, p. 5.
Terry GILECKI | Paint Brush |
domingo, 28 de setembro de 2014
sábado, 27 de setembro de 2014
Eu, salvador de mim
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
Ébrio de mim mesmo
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
Amém!
Em seguida, desde de cima da página, começou a escrever a longa e dolorosa história de sua vida: os fracassos imprevistos, as grandes calamidades, os desenganos e as incompreensões. Amém à insônia, à fadiga, à chuva e ao sol, aos tórridos verões e aos invernos gelados. Amém aos companheiros irritáveis, cheios de nervos e manias. Amém aos pais que padecem pela idade, que os tornam egoístas e de mau gênio.
Mas aquele amém que, com letras grandes, havia colocado ao pé da página, havia transformado tudo em amor, havia neutralizado o veneno e transformado a amargura em doçura.
Desta maneira, olhando para trás, aquele amém de letras grandes havia convertido sua vida em uma existência radiante. - Ignacio Larrañaga, Carta Circular nº 21 junho 2006, p. 11.
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
Em busca do sentido perdido
Em contrapartida, surgem por toda parte seitas, ofertas e propostas de todas as espécies – sinal evidente de que infinitos finitos da sociedade consumista não podem saciar um poço infinito. Só um Infinito pode enchê-lo.
terça-feira, 23 de setembro de 2014
A Sagração da Primavera, parte 1
Fantasia - Le Sacre du Printemps (Partie 1) por disney-world81
CENA
Em uma parede, Marilyns e o Cristo
preso à cruz dourada disputam espaço e devoção.
Na outra, do teto ao rodapé, o
espelho de camarim é uno e soberano senhor.
A janela está escancarada, feito
pernas de mulher vadia, expondo o Mangue sem pudor nem retoques.
Do lado de dentro da porta, ela tem
dependurado o calendário seicho-no-ie do ano que se foi, no dia que hoje é. A
jaculatória alimenta e engorda sua primeva ignorância: "um suspiro para o
que foi, um sorriso para o que será, eis a vida".
Brota do teto um fio descamado a
sustentar o lustre japonês de papel de arroz. A lâmpada vermelho incandescente
demarca aquele território.
Sobre uma tosca mesa de centro, o
vaso bico de jaca acolhe girassóis de plástico salpicados de cocô de mosca.
De costas para a janela, o encosto
da cadeira de fórmica verde sustenta seu vestido de cetim vermelho e um terno
de linho cru.
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
Morrer ou Deixar-se morrer
Gustave DORÉ | Caronte | 1857 |
domingo, 21 de setembro de 2014
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
Jesus realmente existiu?
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
Desperte!
É a mente que aperta e asfixia o pobre homem entre seus muros circulares até que ele se sinta sufocado, sem saída possível. Ou melhor, é a mente que se sente aprisionada em si mesma.
Não há pior prisão nem mais dura escravidão que uma mente ocupada com suas obsessões. Mas essa notícia, em vez de ser amarga, é uma boa notícia porque, assim como nossa mente gera a angústia, também pode gerar a liberdade. Tudo está em nossas mãos: o bem e o mal. O problema é um só: despertar. - Ignacio Larrañaga, A Arte de Ser Feliz 2012, pp. 33-34.
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
Ainda sobre a alegria
Evangelii Gaudium*
*exortação apostólica do papa Francisco publicada em 2013
Fonte: http://www.news.va/pt/news/primeira-exortacao-apostolica-de-papa-francisco-te
terça-feira, 16 de setembro de 2014
Onde a morte é o dobro da vida
segunda-feira, 15 de setembro de 2014
Sobre a alegria
sábado, 13 de setembro de 2014
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
Não sabemos nada
O outro, como mistério que é, é um mundo sagrado; e, como sagrado, merece respeito.
A primeira coisa que um sábio sabe é que não sabemos nada do outro, porque o outro é um mundo desconhecido. E a atitude elementar ante o desconhecido é, quando menos, a do silêncio, porque no fundo não sabemos nada do outro. [...]
A falta de respeito chama-se maledicência. - Ignacio Larranãga, Transfiguração 2012, p. 109.
quinta-feira, 11 de setembro de 2014
O impossível
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
Short story
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Manuel BANDEIRA | Libertinagem | 1930
terça-feira, 9 de setembro de 2014
Um poema oriental
segunda-feira, 8 de setembro de 2014
Humana humilitas
Um dia me dei conta de que, quando dou as costas ao Sol, não vejo mais que minha própria sombra. - Ignacio Larrañaga, Cartas Circulares, Carta Circular nº 26 jun. 2010, p. 2.
sábado, 6 de setembro de 2014
Ainda o amor...
O ferro é forte, porém o fogo o derrete.
O fogo é forte, porém a água o apaga.
O homem é forte, porém os temores o deprimem.
O temor é forte, porém o sono o dilui.
Somente o amor sobrevive a tudo. - Ignacio Larrañaga, O Casamento Feliz 2011, p. 29.
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
Desejo
a ânsia de em mim
o ser amado ter,
por uma lucidez que redentora
os deuses dizem ser.
Por que conter o desejo devo
se pecadora, nem bacante,
ou, como Madalena, penitente sou,
mas só uma frágil fêmea amante? - LIC, fev. 2007
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
As múltiplas faces do amor
O que é o amor? Emoção? Convicção? Conceito? Ideal? Energia? Êxtase? Impulso? Vibração?
O que se vive, não se define. Tem mil significados, veste-se de mil cores, confunde como um enigma, fascina como uma sereia.
Alguns acham que não existe diferença entre o amor e o ódio, que são duas faces da mesma coisa. Outros dizem que o egoísmo e o amor são a mesma energia. E isso é verdade. Só muda o destinatário. - Ignacio Larrañaga, Suba Comigo 2011, p. 111-112.
terça-feira, 2 de setembro de 2014
A irracionalidade de Deus e do amor
Dizer que Magia ao luar é entretenimento inteligente é dizer pouco. Trata-se do filme mais engenhoso e “redondo” de Woody Allen em muitos anos. Mais que isso: sintetiza à perfeição suas reflexões de maturidade a respeito da vida e seus mistérios insolúveis. Tudo isso com a leveza e o savoir-faire dos melhores momentos do diretor.
Numa narrativa em que tudo gira em torno do engano e do autoengano, a trama é, ela própria, enganosamente simples: Stanley (Colin Firth), um célebre mágico inglês que atua sob o nome artístico de Wei Ling Soo, é incitado por um velho colega de profissão (Simon McBurney) a desmascarar uma jovem médium norte-americana, Sophie (Emma Stone), que está causando furor na Europa.
A ação se passa em 1928, no sul da França, onde Sophie está prestes a ficar noiva de um rapaz milionário (Hamish Linklater).
Crer ou não crer
Não cabe aqui entrar em detalhes sobre o desenvolvimento e as reviravoltas da história, mas apenas atentar para a ideia básica que conduz a narrativa: a tensão entre a credulidade e o ceticismo. O interessante, na evolução dramática do filme, é fazer com que essa oposição se instale no íntimo do protagonista Stanley, abalando sua firme posição inicial de misantropo arrogante e sarcástico. A frase que resume sua filosofia de vida, antes da crise, parece ter saído diretamente da boca do diretor: “Nascemos e, apesar de não termos cometido nenhum crime, somos condenados à morte”. Crer ou não crer, eis a questão.
Na dialética proposta por Woody Allen, se a fé é a tese e a descrença é a antítese, uma síntese possível seria o amor, capaz de evidenciar, sem explicar, a substância mágica de todas as coisas do universo, inapreensível tanto pela ciência como pela religião.
O método de construção aqui é o que, com alguma liberdade, poderíamos chamar de socrático: o diálogo que solapa certezas e introduz a dúvida. O discurso do protagonista se enche progressivamente de expressões adversativas, do tipo “apesar de”, “se bem que”, “não obstante” (“in spite of”, “though”, “notwithstanding that”). Essa argúcia discursiva atinge o ápice no diálogo entre Stanley e sua tia Vanessa (Eileen Atkins) a respeito da médium Sophie, no qual tudo o que se fala quer dizer exatamente o seu contrário. O efeito é reforçado pelo fato de se tratar de dois estupendos atores ingleses tarimbados na arte do understatament e do subtexto.
Epifania e sacanagem
Já se disse com razão que Woody Allen é muito mais um escritor, um dramaturgo, do que propriamente um grande cineasta. Ao contrário de um Welles ou de um Kubrick, não é na expressão visual que reside a sua força. Mesmo tendo como locações a paisagem deslumbrante da Riviera francesa, bosques e palácios majestosos, o filme poderia ser uma peça de teatro sem grande perda de substância. Ainda assim, há momentos visualmente inspirados.
Um deles é antológico. O mágico e a médium refugiam-se da chuva num velho observatório à beira-mar. Quando a chuva passa – e a intimidade entre os dois aumenta –, Stanley aciona o mecanismo que abre parcialmente a cúpula do observatório, deixando ver as estrelas e uma lua minguante. É um momento de epifania e, ao mesmo tempo, uma imagem quase pornográfica, em que o fálico telescópio está prestes a penetrar a fresta em forma aproximada de vagina. Poesia e safadeza juntas, mostrando que o velho Woody Allen, quando quer, também sabe ser um tremendo cineasta.
Por José Geraldo Couto, no blog do IMS / http://www.blogdoims.com.br/ims/woody-allen-e-o-amor-como-sintese
Indivi(dualidade)
Dizem os amadores que, na marcha geral da experiência erótica, o clímax mais unificante é o momento em que os dois corpos e as duas almas se entregam ao frenesi vertiginoso do prazer, em que se esvaneceu toda individualidade e ficou somente reinante uma única realidade na que se fusionaram dois corpos em um corpo e duas almas em uma alma.
Porém, esta descrição não deixa de ser enganosa; a verdade certa é outra: ainda que no ápice de semelhante êxtase, ele é ele, e ela é ela. - Ignacio Larrañaga, O Casamento Feliz 2001, p. 11.