Em uma parede, Marilyns e o Cristo preso à cruz dourada disputam espaço e devoção.
Na outra, do teto ao rodapé, o espelho de camarim é uno e soberano senhor.
A janela está escancarada, feito pernas de mulher vadia, expondo o Mangue sem pudor nem retoques.
Lasar SEGALL | Dois nus | 1930 |
Brota do teto um fio descamado a sustentar o lustre japonês de papel de arroz. A lâmpada vermelho incandescente demarca aquele território.
Sobre uma tosca mesa de centro, o vaso bico de jaca acolhe girassóis de plástico salpicados de cocô de mosca.
De costas para a janela, o encosto da cadeira de fórmica verde sustenta seu vestido de cetim vermelho e um terno de linho cru.
No ar, tem perfume de jasmim-do-cabo e o choro faminto do menino enjeitado entretecido de gemidos e sussurros. - LIC, 2002.
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