Em uma parede, Marilyns e o Cristo
preso à cruz dourada disputam espaço e devoção.
Na outra, do teto ao rodapé, o
espelho de camarim é uno e soberano senhor.
A janela está escancarada, feito
pernas de mulher vadia, expondo o Mangue sem pudor nem retoques.
Do lado de dentro da porta, ela tem
dependurado o calendário seicho-no-ie do ano que se foi, no dia que hoje é. A
jaculatória alimenta e engorda sua primeva ignorância: "um suspiro para o
que foi, um sorriso para o que será, eis a vida".
Brota do teto um fio descamado a
sustentar o lustre japonês de papel de arroz. A lâmpada vermelho incandescente
demarca aquele território.
Sobre uma tosca mesa de centro, o
vaso bico de jaca acolhe girassóis de plástico salpicados de cocô de mosca.
De costas para a janela, o encosto
da cadeira de fórmica verde sustenta seu vestido de cetim vermelho e um terno
de linho cru.
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