domingo, 3 de agosto de 2014

Os castelos ameaçam ruína

   Toda transformação começa por um despertar. Cai a ilusão e fica a desilusão, desvanece-se o engano e sobra o desengano. Sim, todo despertar é um desengano, desde as verdades fundamentais do Príncipe Sakkiamuni (Buda) até as convicções do Eclesiastes. Mas o desengano pode ser a primeira pedra de um mundo novo.
   Se analisarmos as origens dos grandes santos, se observarmos as transformações espirituais que ocorrem ao nosso redor, descobriremos em tudo uma espécie de passo prévio, um despertar: o ser humano convence-se de que toda a realidade é efêmera ou impermanente, de que nada possui solidez, a não ser Deus.
   Em toda adesão a Deus, quando é plena, esconde-se uma busca inconsciente de transcendência e de eternidade. Em toda saída decisiva para o Infinito, palpita um desejo de libertar-se da opressão de toda limitação e, assim, a conversão transforma-se na suprema libertação da angústia.
   Ao despertar, o ser humano torna-se um sábio: sabe que é loucura absolutizar o relativo e relativizar o absoluto; sabe que somos buscadores inatos de horizontes eternos, e que as realidades humanas só oferecem marcos estreitos que oprimem nossas ânsias de transcendências, e assim nasce a angústia; sabe que a criatura termina “aí” e não tem escapatória, por isso seus desejos derradeiros permanecem sempre frustrados; e sabe principalmente que, no final das contas, só Deus vale a pena, porque só ele oferece meios para canalizar os impulsos ancestrais e profundos do coração humano. - Ignacio Larrañaga, O Irmão de Assis 2012, pp. 11-12.

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