Não importa saber quando ou onde
nasceu, e mesmo seu nome. Minha heroína é uma mulher como outras tantas da sua
idade. Em seu rosto, o passado emaranhou muitas histórias.
Por mais íntimo e pessoal que possa parecer
o fato que se vai narrar, a leitura diária de um jornal prova que tem caráter
universal. O que ocorre a uma mulher ocorre a todas.
O relógio marca três horas de uma
madrugada fria e premonitória.
Talvez fosse outono... Insone, ela
se levanta da cama.
Há muito não consegue ter um sono
tranquilo, angustiada por um pesadelo recorrente: sem precisar detalhes, sê vê
diante de uma extensa muralha, tão alongada quanto a que o primeiro Imperador
da China, um dia, acreditou pudesse conter a morte.
Vai para a sala, acende o abajur e
folheia as páginas de uma revista. Por entre palavras e imagens que lhe parecem
vagas, confusas, sem sentido, seu desconforto vagueia no tempo.
Foi às vésperas do Natal de 1998 – o
mesmo ano da morte de seu pai. Se apaixonara. A eventos prosaicos se unem as
tragédias humanas.
Decide se libertar do inferno. Lera
que o amor cobre uma multidão de pecados. Pecara por amor.
Volta para o quarto determinada a
reescrever sua história. Não é a primeira vez que se dispõe a isso. Desde que o
filho nascera, há sete anos, quer revelar sua verdade.
Na soleira do quarto, apoia o corpo
cansado no umbral da porta e observa o marido dormindo.
Pé ante pé, se aproxima.
Ajoelha-se ao lado da cama e
balbucia. “Carlos... você me perdoa?”
Ele se mexe, se ajeita, lhe dá as
costas.
Ela insiste. “Me perdoa?”
O pêndulo do relógio da sala
sinaliza o momento. É chegado o tempo de despertar.
Quer esquecer, apagar o remorso para
que a culpa não exista.
Senta-se na beirada da cama. Da
gaveta do criado-mudo, tira as cartelas de comprimidos. Engole um, dois, três,
quatro... todos.
Triste, mas bonito!
ResponderExcluirObrigada por sua visita. Foi uma tentativa... nem sei se conseguiu. Bj
Excluir