Meu nome é Marcella.
Um dia, acho que foi domingo, fiz sete anos.
A festa foi no salão do nosso prédio, teve bolo de chocolate enfeitado com M&M, brigadeiro, sorvete, pipoca, cachorro-quente e outras coisas que eu não gosto.
Todo mundo diz que estou uma mocinha. "Nossa, como ela está alta!" Que linda, de batom!"
Estou grandinha, mas não posso atravessar a rua sozinha. Preciso dar a mão.
Estou crescida, mas ainda não tenho um celular nem posso assistir televisão à noite.
Meus irmãos vivem dizendo que eu só atrapalho e por tudo eu levo bronca.
"Anda logo, Marcella, a perua já chegou!" É meu irmão, o Ricardo, gritando, todo dia, logo cedinho, na hora de irmos pra escola.
"Marcella, desliga a televisão!" É minha irmã, a Patricia, que sempre resolve estudar na hora do Castelo Rá-Tim-Bum.
"Agora chega, sua manteiga derretida." É meu irmão, o Rafael, toda vez que eu choro.
Eu queria mesmo é ser só eu aqui em casa ou ser pequena de novo.
Antes de eu dar a chupeta pro Papai Noel, eles me beijavam o tempo todo, me seguravam no colo, davam risada quando eu fazia uma gracinha e minha irmã até brincava de boneca comigo.
Quando eu comecei a andar, tudo mudou.
Até o Papai Noel mudou.
Ele me dava presente de graça, nem boazinha eu precisava ser.
Agora, é tudo "se". "Se você for bem na escola, se você for obediente, se você comer feijão, se você escovar os dentes, se você..."
Ele começou a ficar chato como meus irmãos.
Mas, num dia de Natal, ele chegou lá em casa com uma cachorrinha que eu nem tinha pedido. E fazia um tempão que eu não comia feijão.
Fiquei sabendo, o papai me contou, que foi porque, quando eu já estava na barriga da mamãe, ela perguntou pros meus três irmãos o que eles preferiam: um cachorro ou outro irmão?
Bem... eu nasci e ela estava devendo o que eles tinham escolhido.
LIC
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