domingo, 16 de junho de 2024

NO MINHOCÃO


Eu estava fazendo o curso de Lógica de Programação com a Sandra Maciel desde dezembro.

Naquela época, ela morava no 7° andar, apartamento 73,  do edifício Abreu Sodré, na avenida São João n° 2035, bairro de Santa Cecília.

O Minhocão passa por cima da rua Amaral Gurgel e dessa avenida.

Naquele trecho da São João, mora muita gente sob o viaduto, no espaço central da avenida, entre as colunas do elevado.

Era segunda-feira. Dia de aula.

Desci do ônibus e fiquei ali, na calçada, debaixo do Minhocão.

Eu sabia que, um pouquinho pra trás de onde eu estava, tinha um semáforo. Quando fosse fechado para os carros, eu poderia atravessar com segurança, tranquilamente.

Foi então que senti alguém se aproximando. Junto veio um bafo de álcool.

Meu olfato é melhor que de cão farejador.

Segurei a bolsa mais fortemente junto ao meu corpo e esperei. O movimento do trânsito - carros, motos, ônibus, ambulância - estava intenso. Não dava pra atravessar.

"Vamo lá, dona. Vamo fazê eles pará!"

Sem pedir licença, o bom samaritano agarrou minha bengala pelo meio e me puxou da calçada pra rua.

"Deus meu", pensei, "se eu soltar da bengala, tô perdida. Se eu não soltar, tudo pode acontecer." Comecei a rezar. "Valha-me, Santa Luzia."

O bom samaritano, me puxando pela bengala, berrava pra qualquer veículo que se aproximasse: "Pára, num tá vendo que a mulhé é cega? Olha a bengala!"

Santa Luzia me valheu. Buzinadas, freadas bruscas, palavrões foram nos acompanhando enquanto atravessávamos as duas pistas, mas chegamos na calçada oposta sem um arranhão.

"Pronto, dona. Tá entregue. Gente sem caridade, né? Na volta, se precisá, tô por aqui."

Agradeci comovida e voltei pra casa de táxi. Vai que Santa Luzia já tivesse encerrado seu expediente... 🤷🏻‍♀️

LIC

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