quarta-feira, 5 de junho de 2024

NOSTRADAMUS JÁ SABIA

Era muito bonita, com dicção perfeita e postura adequada ao horário.

E que senso de humor! Senão, como poderia ter desejado boa noite a todos os seus telespectadores sorrindo depois daquela notícia?!

"O Mar do Norte está sendo poluído por material radioativo de um submarino nuclear naufragado em 1989 através da sua fuselagem corroída pela ação do mar. Quarenta e dois homens morreram no acidente na ocasião e calcula-se que as proporções de um desastre ecológico futuro serão maiores que o de Chernobyl."

Sozinho, com a imagem daquela geringonça vingativa gravada no cérebro, me senti invadido pelo lixo do nosso progresso.

Nos detalhes da notícia, fiquei sabendo que era um super submarino, transportando dois mísseis com ogivas nucleares, daqueles que no dia do batismo a imprensa noticia e a nação que o gerou garante, de pés juntos, ser o mais seguro, perfeito e avançado do mundo. Lembram-se do Titanic?

Pois bem. Depois de tantos anos de esquecimento, ele agora resolvera se vingar de quem o criara para a glória e o levara à ruina. E, por essa raiva irracional, todos nós "pagaremos o pato".

Minha bela e ingênua repórter! Como poderei, de hoje em diante, ter boas noites, bons dias ou boas tardes? Não lhe ensinaram que no nosso mar, deste Brasil abençoado, há gotinhas e gotinhas desse infeliz Mar do Norte? Lua vai, lua vem, o mar também.

Aliás, como todos os seres vivos deste Planeta, somos totalmente dependentes do meio ambiente - céu, ar, água, terra, mar - para sobreviver e veja você o que estão fazendo com nosso Jardim do Éden!

Desliguei o televisor e me lembrei: "Sou brasileiro. Tenho esperança. Com certeza o pessoal do Greenpeace foi avisado e já deve estar mexendo seu barquinho".

Consegui, então, me arrastando sob o peso de uma possível desgraça iminente, chegar em meu quarto e adormecer. Não profundamente.

Dia seguinte, a primeira coisa que fiz foi procurar por meus jornais. Assino todos os que dão cupons de desconto, patrocinam eventos, fazem um pouco de tudo pra ganhar leitores. Afinal, sou um cidadão desta aldeia global e preciso saber o que se passa por aqui.

Nas primeiras páginas... nada! Na  seção de ciência e saúde... nada! Na seção mundo... nem uma notinha de rodapé. Li tudo: horóscopo, coluna social, economia, notas de falecimento, esportes, nas linhas e entrelinhas. Só encontrei acidentes de superfície: corrupção, assassinatos, futebol.

"Não é possível", reagi indignado. "Será que ninguém mais vai à praia nem come bacalhau na sexta-feira santa? O Mar do Norte está morrendo e nós também."

O Mar do Norte é um mar do oceano Atlântico entre a Noruega, a Dinamarca e outros países do lado de lá. 

Minha indignação crescia na mesma proporção da minha tristeza. Eu folheava de trás pra frente, de frente pra trás, desesperançado, quando uma manchete me paralisou: Stallone chega para acabar com o futuro do mundo - "O Demolidor".

Aí estava a explicação para tanta indiferença. Já tinham contratado alguém para acabar de vez com a humanidade.

Dá-lhe Rambo!

LIC, nov. 1993

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