O Walter é funcionário de um órgão público paulista. Na sua área profissional, ele convive com alguns colegas de trabalho que são cegos ou têm baixa visão.
Há uns tempos atrás, eles convidaram o Walter para ser goleiro do time de futebol de 5. Para quem não sabe, essa modalidade esportiva é exclusiva para pessoas com deficiência visual. Cada time é formado por cinco jogadores – um goleiro e quatro na linha. Só o goleiro tem visão total.
O Walter aceitou o convite e foi assim que ele ganhou um dos seus melhores amigos, o Ronaldo. As esposas foram apresentadas, ficaram amigas e os filhos também.
Com a convivência, o Walter não passa mais incólume quando divisa uma pessoa andando com uma bengala branca. Foi o que aconteceu naquele dia.
Ele vinha descendo a Consolação e viu um senhor cego parado em uma esquina, na beira da calçada do posto Shell, esperando alguém para ajudá-lo a atravessar a rua.
Sem pensar duas vezes, desviou a moto para a pista da direita e entrou no posto, passando por trás do senhor de bengala. A Harley Davidson roncou alto e fez o ar estremecer.
Estacionou a moto e foi oferecer ajuda.
– O senhor quer atravessar a rua?
Enquanto atravessavam, o Walter comentou que aquela rua era muito perigosa e que por causa do tráfego intenso ninguém estava atento aos pedestres.
Ao que o senhor respondeu:
– Você tem razão. Agorinha mesmo, um maluco de um motoqueiro entrou no posto a 100 por hora, passou por trás de mim e quase me atropelou. Acho que nem me viu!
LIC / jan. 2015
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