terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

COMER OU NÃO COMER?

Logo na primeira mordida, Maria Elisa engasgou.

A massa da esfirra “esticadinha” estava seca, quase carbonizada, e o recheio de zátar parecia areia do Saara. Zátar é pó granulado... de tomilho, orégano, manjerona, gergelim torrado, coentro, sumagre, sal e, por vezes, cominho e coentro. Não foi uma boa escolha, foi péssima.

No passado, quando almoçava no Farabbud aos domingos, Maria Elisa pedia, e comia com prazer, a “esticadinha” de carne. E se deliciava!

Mas ela decidiu ser vegetariana. Lera a descrição feita por Tolstói do matadouro da sua cidade de Tula e ficou horrorizada. Está lá, no ensaio “O primeiro degrau”, os detalhes do assassínio sem piedade de animais indefesos e de seu sofrimento, criados e transformados em hambúrguer e churrasco.

Chocada com a barbárie, não hesitava em afirmar que “qualquer pessoa de bom coração diante desse relato também deixaria de se alimentar do cadáver de animais”.

“Não podemos acreditar que, como avestruzes, se não vemos o que não queremos ver não existe. Os animais sofrem, mesmo que alguns produtores alardeiem abate humanitário para que sofram menos”, ela grifava. 

Para dar validade sagrada e milenária à opção vegetariana, ela citava um verso do primeiro capítulo de Gênesis. “Vede, eu vos entrego as ervas que dão semente sobre a face de toda a terra; e todas as árvores frutíferas que dão semente vos servirão de alimento.”

Como, então, a humanidade se atrevia a desobedecer às prescrições do Livro da Criação?!

Num instante, Maria Elisa se viu no meio de um fogo cruzado.

Era nítida, entre todos, a passionalidade em favor da necessidade humana de proteína animal e dos prazeres da carne para ser forte e feliz.

Não sem muita discussão, todos tinham algo a dizer na contramão do Criador, com opiniões abalizadas por médicos, nutricionistas, estrelas de Hollywood, influencers famosos, vídeos Tik Tok, o Google, a Wikipédia etc.

Para oficializar o fim da polêmica, Heitor bateu o martelo quando afirmou que a vida não seria normal nem valeria a pena estar vivo para comer um “churrasco” à base de abobrinha, milho, berinjela, brócolis, pimentão e couve-flor. Foi aprovado unanimemente com gargalhadas e aplausos entusiastas.

Chamaram o garçom e pediram mais uma porção de esfirras de carne, basturma com ovos, quibe assado, quibe cru, quibe frito, kafta.

Acuada, Maria Elisa se calou, quase acreditando que, talvez, Tolstói tivesse exagerado. Apesar de ser um luminar do universo literário, ele era dado a excessos.

Mas... e quanto ao Criador? Os ensinamentos doutrinários que recebera afirmavam que ele era onisciente.

Decidindo que não era hora nem lugar para se ocupar seriamente desse tema sem dominar os fundamentos necessários, Maria Elisa chamou o garçom e pediu a sobremesa. 

Ao chegar em casa, procurando a Bíblia para ler novamente o Gênesis, deu de cara com o livro “Flor de Obsessão: as 100 melhores frases de Nelson Rodrigues”. Uma delas veio de imediato à sua mente. “Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar.”

Foi dormir conciliada com o Criador e com Tolstói.

LIC







terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

LÁ EM CIMA

Terça-feira, 6h da manhã. Saí pra caminhar. 

Como tem chovido bastante, graças a Deus, ergui o olhar para o céu. 

Acima da minha cabeça, as formas fantásticas das nuvens, como eu nunca vira, encobriam o sol. Não se moviam, oferecendo um espetáculo de azuis celestes.

Fiquei parada, na calçada, admirando aquela obra de arte suspensa no firmamento. 

Mas uma brisa leve começou a varrê-las. Pouco a pouco, elas foram se dispersando. Algumas empalideceram, outras fugiram para o horizonte, porém nenhuma se avolumou em forma de tempestade. 

Portanto, naquele momento, não ia chover. 

Fui caminhar.

LIC

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

SE EU QUISER FALAR COM DEUS...

OFICINAS DE ORAÇÃO E VIDA
UMA NOVA EVANGELIZAÇÃO

As  Oficinas de Oração e Vida são encontros semanais onde aprendemos, por meio de um método bastante simples, a nos aprofundar na prática da oração e a estabelecer uma relação pessoal com Deus. 

Em 1984, seu idealizador e fundador, frei Ignacio Larrañaga, iniciou sua difusão pelo mundo e, hoje, 44 países oferecem as Oficinas de Oração e Vida a milhares de pessoas, nos cinco continentes.

Venha aprender a Orar para aprender a Viver!
INÍCIO: 5 de fevereiro de 2025, quarta-feira, às 19h30.
LOCAL: Paróquia Santo Agostinho (salão paroquial), praça Santo Agostinho 37, Aclimação, São Paulo (SP).
Não precisa fazer inscrição.
ACESSE: www.oficinasdeoracaoevida.org.br

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

LER

VOCÊ JÁ TEVE SEU MOMENTO DE LEITURA DE UM LIVRO HOJE?

"Diversos mestres da Literatura recomendam a leitura diária de livros, sete dias por semana."

"Essa prática melhora a capacidade de se expressar, permite contemplar o mundo sob diversas perspectivas, pensar de forma cada vez mais ampla e viver uma infinidade de experiências novas, entre outros benefícios."

ORAR

VOCÊ JÁ FEZ SEUS 30 MINUTOS DE ORAÇÃO HOJE?

"Diferentes diretrizes de saúde recomendam 30 minutos diários de oração, sete vezes por semana."

"Essa prática beneficia a prevenção de tristeza, angústia, ansiedade, ajuda a enfrentar com sabedoria e serenidade os desafios do dia a dia, estimula o "ponto de Deus" no cérebro, um caminho para o equilíbrio espiritual, entre outros benefícios."




CAMINHAR

 

VOCÊ JÁ FEZ SEUS 30 MINUTOS DE CAMINHADA HOJE?

"As principais diretrizes de saúde recomendam 30 minutos diários de caminhada moderada, cinco vezes por semana."

"Essa prática beneficia a prevenção de doenças, aumento da expectativa de vida e melhora do sono, entre outros benefícios."

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

BELLA ITALIA - LA FINE DEL VIAGGIO

 

DA LUCCA A MILANO - DA MILANO AL BRASILE

Terminado o passeio a Cinque Terre, retornamos de La Spezia para dormir uma última noite no Villa Lucrezia em Lucca.

Logo cedo, estaríamos sulle strade italiane in direzione Milano, per circa tre ore.

O voo Malpensa-Guarulhos estava confirmado para as 13 horas do dia seguinte, 30 de maio.

Depois de um bom trecho de estrada, paramos em Piacenza, a cerca de 63 quilômetros de Milano. Parecia ser uma boa cidade para almoçar. Era entre uma e duas horas da tarde. 

Foi lá que vivenciamos la chiusura del pomeriggio, algo muito comum nas cidades pequenas. Piacenza parecia uma cidade fantasma, pura calmaria, com repartições públicas, restaurantes, o comércio fechados e gente voltando para casa, não necessariamente para tirar uma soneca, mas almoçar com a família, cuidar dos filhos, do cachorro. 

Para nós, turistas desavisados, foi um problema. Saímos de lá quase cinco da tarde, também porque o Danilo, que fora estacionar o carro, teve dificuldade de voltar até onde estávamos e não encontrava viva alma para orientá-lo.

Chegamos à Osteria della Pista, um hotel próximo ao aeroporto, à noite, pois a estrada estava congestionada de veículos e motos. Só tivemos tempo de levar as malas para os quartos, tomar um banho e descer para o nosso último jantar em solo italiano, de despedida. Foi um fechamento gastronômico com chave de ouro, pela qualidade da comida deliciosa e pela beleza do restaurante da Osteria.

Il 30 maggio siamo partiti per il Brasile.

Acomodada no assento do avião, ho sentito il mio cuore spezzarsi. Um pedaço ficara em Polignano a Mare, outro em Lucca.

Ainda não conseguia acreditar em todas maravilhas que havia visto e nas indescritíveis emoções que havia sentido.  

Apesar da saudade dos meus queridos que haviam ficado no Brasil, da vontade louca de revê-los e abraçá-los, eu tinha ímpetos de levantar daquele assento e voltar correndo pra aqueles lugares onde havia deixado meu coração. 

Aquela não havia sido uma simples viagem turística, era a realização de um sonho, um sonho que meu pai e meu avô, ao contarem as histórias delle loro città, ainda que, muitas delas, frutos da imaginação, haviam partilhado comigo e inculcado de tal maneira em minha mente e coração que, ao me deparar com elas, a imagem e presença deles era tão forte e palpável que, para mim, eles estavam ali comigo. 

Ainda agora, scrivendo quest'ultimo atto, a emoção me invade, me arrepia e as lágrimas correm livres, como quando eu estava lá. 

Lembrei-me da voz da Maysa, cantando “... Ah, vontade de ficar, mas ter que ir embora...”, ao fechar os olhos na decolagem. 

Naquele momento, fiz uma promessa a mim mesma e um último pedido a Deus, que já havia me presenteado com tantas bênçãos (mas Deus pode fazer muito mais do que aquilo que pedimos ou pensamos). 

Que me permitisse voltar, dessa vez pra ficar, pra que, enquanto me restar um fôlego de vida, eu possa descobrir ainda mais belezas e emoções dessa terra, della mia bella e amata Italia, la terra di miei antenatti, dove ho lasciato il mio cuore.

Pesquisa e texto: LIC

Fonte e texto final: Maria Ana Centrone Santini

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

BELLA ITALIA - DICIOTTESIMO ATTO

 

A CINQUE TERRE

No último dia de passeios pela Itália, visitamos il Parco Nazionale delle Cinque Terre, um conjunto de vilas centenárias incrustadas, à beira-mar, na acidentada costa da Riviera Ligure e uma de suas principais atrações turísticas.

Monterosso al Mare, Vernazza, Corniglia, Riomaggiore e Manarola agarram-se aos terraços íngremes com suas casas pintadas de cores vivas. Bellissimo!

A partir de La Spezia, uma cidade portuária da Ligúria, o acesso a cada uma delas pode ser de barco, de trem ou a pé pelo Sentiero Azzurro, uma trilha costeira nel Golfo dei Poeti, com vista panorâmica sobre o mar em todo o percurso, que pode ser percorrida em 5 a 8 horas, assim como poetas famosos – Lord Byron, Mary e Percy Shelley, Dante Alighieri e Eugenio Montale – fizeram ao longo dos séculos.

Coerente com nosso perfil, nem aventureiro nem com preparo físico para longas caminhadas, optamos por viajar pela ferrovia Gênova-La Spezia, que faz paradas em Levanto, Monterosso, Vernazza, Corniglia, Manarola, Riomaggiore e La Spezia, mas a linha do trem nem sempre passa por dentro das cidades.

Abbiamo viaggiato da Riomaggiore a Manarola, Corniglia, Vernazza e infine Monterosso al Mare. Descemos apenas em três. 

Em Riomaggiore, uma linda vila costeira que inspirou o cenário de “Luca”, animação da Disney Pixar de 2021, me agradei apreciando de um mirante a paisagem deslumbrante. A estação fica numa encosta e o elevador que dava acesso à cidade estava quebrado.

Em Vernazza, como a estação fica a poucos passos do centro da cidade, da praia e do quebra-mar, passeamos bastante. Tomamos um Aperol, comemos e abbiamo fatto acquisti in um mercato con banchi di tutti i generi.

E em Monterosso al Mare, que eu amei. Me pareceu uma Guarujá all’italiana, com uma extensão de praia considerável, grandes hotéis, restaurantes, comércio e casas à beira-mar com terraços repletos de primaveras. Almoçamos por lá num restaurante delicioso.

Danilo e io siamo tornati in barca in un pomeriggio molto piacevole con sole e cielo azzurro.

O percurso é mais demorado, mas nos deu a oportunidade de admirar a costa numa nova visão também encantadora das Cinque Terre, de suas casas coloridas que parecem empilhadas, dos vinhedos agarrados aos terrenos íngremes e dos seus portos repletos de barcos de pesca, veleiros e lanchas.

Pesquisa e texto: LIC

Fonte: Maria Ana Centrone Santini

 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

UMA IMAGEM

Sempre que penso ter perdido aquela pessoa que eu amo, trago à memória uma imagem, começo com essa imagem, tão-somente essa imagem.

No início do ano, por 35 dias, estive fora do país a trabalho.

Quando regressei, fui visitá-lo na tarde do dia seguinte.

Antes da viagem, eu notara que seu andar estava mais lento e arrastado. A doença progredira a um estágio crônico, deixando-o cansado e frágil.

Mas nunca o vi soltar ais e gemer ou se lamentar. O longo caminho de erros, experiências e sofrimentos o levou ao conhecimento da aceitação.

Foi se adaptando à nova realidade na calmaria, mesmo quando impossibilitado de dirigir, o que ainda lhe dava um pouco de autonomia.

Com o desamparo da velhice – já vivera 89 anos -, sentiu que precisava do outro, o que aceitou com mansidão. A Dira, antes faxineira, passou a mensalista e, conforme a necessidade, eu abastecia sua despensa, o acompanhava nas consultas médicas, comprava os remédios.

A campainha tocou, mas ele demorou para abrir a porta.

Ao me ver, nem tive tempo de abraçá-lo. Ele se abraçou em mim. “Que bom você estar aqui de novo!”, exclamou aliviado.

Senti que a vulnerabilidade do seu estado, ao procurar um ponto de ancoragem, me escolhera como porto seguro.

Me assustei, imaginando o que isso causaria na minha rotina pessoal e profissional.

Um pensamento imediato emergiu com a expressão que ouvia dele desde criança. “Faça o teu dever, suceda o que suceder.”

Eu sabia o que devia fazer, mesmo não sabendo o que iria acontecer.

Nos meses seguintes, cancelei todos os compromissos no exterior. Estive mais presente ao seu dia a dia, não só nas urgências, porém ainda atado aos aspectos passageiros da vida.

Este não é um tempo para velhos.

Papai morreu no fim do ano, sem medo, mesmo não sabendo o que o amanhã lhe traria, numa entrega consciente diante dessa inevitável interrupção dos propósitos humanos.

Desejei-lhe um pouso seguro! Que assim tenha sido!

Aquele abraço é a imagem que tenho o tempo todo no meu coração.

Então, eu o encontro de novo e lhe peço perdão!

LIC

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

METANOIA

O louvor matinal, marcado para as 8 horas de todos os dias, começaria em cinco minutos. A sala estava vazia.

Pensei que estivesse. 

Ele já estava lá, sentado diante do piano elétrico, atento às partituras do hinário, com as mãos delgadas como um fio sobre o teclado.

Minha impressão foi a mesma da noite anterior quando o capelão o apresentou. “Este é o Francisco, musicista, que vive de música, mas ainda não vive da música.”

Alto, magro, tronco e membros longos, um rosto harmonioso coberto pela barba branca, parecia um sabugo de milho, como o Visconde, aquele grande sábio do Sítio do Pica-Pau Amarelo.

Nesta manhã, vestia camisa branca de manga longa com o colarinho abotoado desde o pescoço, calça social preta enrugada sobre o sapato, desajustada ao comprimento das pernas.

Na sequência do seu bom dia, que me ofereceu sorridente esbugalhando os dentes alvos e afilados, soube porque ele estava ali.

“Hoje, o capelão fará o sermão na igreja. Vou substitui-lo. Podemos aguardar uns minutos até que os outros cheguem?”

Concordei, surpresa ao descobrir que ele não era um dos hóspedes. 

“O senhor é pastor?”, perguntei.

“Ainda não. Sirvo como missionário voluntário onde for preciso.”

E, nos breves minutos que esperamos, Francisco contou que, quando jovem, vivera de exageros, bebendo, jogando e frequentando prostitutas e o submundo, sem eira nem beira, sem regras nem fronteiras.

“Mas, um dia, me deparei com o louco da minha cidade vestido e calçado, limpo e penteado, pregando a Palavra no coreto da praça. Ele era doido mesmo, de atirar pedra. Andava imundo, vagando pelas ruas, gritando impropérios.

“Admirei e fui atrás pra saber o acontecido, porque eu também vagava a esmo. Assisti a pregação, me converti, passei a acreditar.”

“Acreditar no quê?”, perguntei.

Ele não teve tempo de responder. Outros hóspedes chegaram e Francisco iniciou o culto.

Pensei que teríamos momentos fora dali pra conversar, pois eu ficaria hospedada ainda por um tempo e, soube depois, ele era o jardineiro do Retiro.

Não tivemos.

No restante dos dias em que estive por lá, nossos caminhos se cruzaram por diversas vezes.

Ele, sempre cuidando dos jardins. Eram muitos e, por ser um período chuvoso, a grama exigia poda constante. Eu, “atarefada” com as mil e uma atividades pra completar minha desintoxicação orgânica.

Chegada a hora de partir, uma chuva diluviana naquele dia me impediu de ir até o carro com a bagagem. Meu quarto ficava na parte externa do prédio.

Pedi na recepção um guarda-chuva e alguém para levar as malas.

Francisco apareceu.

“Além de missionário, você também é pau pra toda obra”, comentei, não surpresa porque já vira Francisco levando um colchão nas costas de um quarto para outro.

Ele sorriu e caminhamos em silêncio até o estacionamento.

Com tudo ajeitado no porta-malas, na despedida, Francisco me disse: “Sabe, dona Perpétua, se as coisas neste mundo ainda não desandaram de vez, é porque o Céu sustenta a Terra. Foi essa certeza que me salvou.”

O aguaceiro que enfrentei estrada afora somado ao que Francisco dissera me fizeram lembrar da história bíblica de Noé.

Como Francisco, a Arca de madeira esteve à deriva, mas sobreviveu ao mau tempo. Sim, aquela foi a primeira de inúmeras vezes em que o Céu sustentou a Terra no seu lugar destinado.

“Cobriste a Terra com a veste do oceano, e as águas assaltaram as montanhas. Mas ao teu bramido fugiram, ao fragor de teu trovão se precipitaram, enquanto subiam os montes e desciam os vales, ao lugar a cada um destinado.”

LIC

sábado, 11 de janeiro de 2025

BELLA ITALIA - DICIASSETTESIMO ATTO

A LUCCA

Alegria mesclada com saudade me inundou quando, no dia seguinte, conhecemos Lucca sob o sol da Toscana. Esses mesmos sentimentos me envolveram quando estive em Polignano a Mare, la città dei miei nonni paterni Antonio Centrone e Mariana Scagliusi.

Quando criança e adolescente, passeei por Lucca accompagnata con il mio nonni materno, il lucchesi Enrico Della Santa. Suas histórias me seduziam e nunca imaginei, mesmo sonhando conhecer, andar por suas ruelas medievais de paralelepípedos entre os muros de pedra que a circundam.

Confesso que senti como se uma fada-madrinha mi avesse incantato e portato in queste due città. Na verdade, esse encantamento me acompanhou nos 29 dias da nossa viagem.

Lucca é também a terra natal do pintor ítalo-brasileiro Alfredo Volpi e de Giacomo Puccini. Al secondo piano di un antico edificio nel cuore di Lucca, situato nell’appartamento in cui Puccini è nato il 22 dicembre 1858, o Puccini Museum revive esse famoso compositor de ópera nas partituras assinadas de suas primeiras composições, cartas, quadros, pinturas, fotografias, esboços, inclusive no pianoforte Steinway & Sons su cui Giacomo Puccini compose Turandot.

Lucca é encantadora, uma pequena grande cidade. Para percorrer seus 185 km de extensão, de traçado irregular, alugamos um quadriciclo, pois apenas alguns táxis circulam no centro histórico. 

Nós quatro nos acomodamos e partimos para admirar as construções medievais, as muitas torres, os jardins, as mais de 100 igrejas, particularmente a igreja de Santa Zita, que deu origem ao sobrenome da minha mãe – Della Santa. Vovô contava que eles eram descendentes dessa santa, padroeira das empregadas domésticas.

Depois de poucas pedaladas, a Arianne notou que a mochila, onde ela guardava os passaportes, documentos e dinheiro, tinha caído no chão pelo vão que havia nos assentos entre nós duas. Tudo estava naquela mochila. Quase enfartei! 

A Arianne e o Danilo saíram enlouquecidos para procurar. Ma benedetto Dio! Depois de alguns minutos desesperadores e muitas lágrimas, vimos o dono da loja de aluguel de bicicletas na calçada, gesticulando em nossa direção. Lá estava a preciosíssima mochila! Uma senhora, que caminhava por perto, viu a mochila cair. Ela nos chamou para avisar, mas não ouvimos. Então, a benedetta signora entregou a mochila na loja na certeza de que voltaríamos para devolver o quadriciclo.

Che sollievo! Per me è stata l'ennesima dimostrazione che Dio è stato con noi per tutto il tempo. Só tínhamos que agradecer, agradecer e agradecer.

Continuamos o passeio e chegamos à Basilica di San Frediano que fica na Piazza do mesmo nome. Várias capelas da nobreza foram adicionadas ao interior dessa basílica nos séculos XIV a XVI. Entre elas, na nave direita, a capela de Santa Zita, decorada com telas dos séculos XVI e XVII retratando episódios da sua vida.

Zita de Lucca, aos 12 anos, foi trabalhar como empregada doméstica na casa da rica família Fatinelli, à qual serviu por 48 anos, até sua morte, em 27 de abril de 1278, sempre se distinguindo por sua bondade e atos de caridade. 

Ela foi canonizada em 1696 após o reconhecimento de cento e cinquenta milagres atribuídos à sua intercessão. Quando seu corpo foi exumado em 1580, descobriu-se que estava incorrupto após 302 anos enterrado. Dio fa miracoli!

Eu chorei diante do relicário de vidro onde está exposto seu corpo mumificado, deitado em uma cama de brocado. Pensei agradecida: “No meu DNA tem algo dela”. 

Continuando nosso passeio, já sem o quadriciclo, chegamos na Torre Guinigi, a mais importante da cidade, que pode ser avistada de longe porque, no seu topo, há um jardim com sete azinheiras que insistem em crescer nesse local tão inusitado e pouco provável. 

Para chegar lá, é preciso subir 25 lances de escadas, num total de 225 degraus (ela está a 45 metros do solo), mas que garantiram à Arianne e ao Danilo uma vista lindíssima do centro da cidade, da Piazza Anfiteatro, dos Alpes Apuanos, dos Apeninos e do Monte Pisano. 

O Zé Antônio e eu, claro, não nos aventuramos. Fomos explorar as várias lojinhas nos arredores, onde comprei, entre outras coisas, uma camiseta, um moletom e um boné de Lucca para meu amado neto Lucca. 

Almoçamos num restaurante delicioso – a cidade tem boa fama pelas suas escolas de gastronomia e bons restaurantes. No final do dia, fomos para o hotel tomar um banho e voltamos para jantar na Da Ciacco Lucca, famosa por seus lanches feitos na hora, com ciabatta, mortadella, stracciatella di bufala, pomodori secchi e rucola, na Piazza Napoleone.

A cidade estava tranquila e a noite nos convidava a uma caminhada. Foi o que fizemos e, grata surpresa, nós nos deparamos com o teatro onde seria comemorado os 100 anos da morte do grande Puccini.

Che giorno meraviglioso e indimenticabile! 

Pesquisa e texto: LIC

Fonte: Maria Ana Centrone Santini

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

BELLA ITALIA - SEDICESIMO ATTO

pisa, SULLA STRADA PER LUCCA  

Chegamos em Pisa, a cidade da famosa Torre Inclinada (campanário) que é um dos cartões-postais mais conhecidos no mundo. Seu cilindro de mármore branco de 56 metros já tinha certa inclinação quando foi concluído em 1372.

Nela estão abrigados os sete sinos del Duomo di Pisa com sua fachada de mármore cinza, pedra branca e discos de mármore colorido. O interior da catedral é revestido com mármore preto e branco, tem um teto dourado e uma cúpula com afrescos.

O Duomo está situado na Piazza dei Miracoli, onde também se encontram il Battistero di San Giovanni, o maior da Itália, construído na transição do estilo românico para o estilo gótico, e il Camposanto, um cemitério monumental, com afrescos em suas paredes que sofreram graves danos durante um ataque a bomba em 1944, restaurados com o fim da II Guerra Mundial. 

Entramos em Pisa a pé, pois de carro só é permitido para residentes. À medida que nos aproximávamos desse magnífico conjunto de edifícios, tive a impressão de estar entrando num espaço congelado no tempo.

Questa Piazza colpisce per le sue dimensioni e per la sua bellezza architettonica desses quatro monumentos reconhecidos como Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Per me, che conoscevo tutto questo solo attraverso foto, film e letteratura, è stato un impatto.

Não pudemos entrar na Catedral nem no Batistério porque estavam em reforma e nem na Torre, pois a fila era gigantesca. Apenas 30 visitantes são admitidos ao mesmo tempo. Não que eu quisesse subir seus três lances de escadas em espiral, com 296 degraus, num edifício com inclinação acentuada, mas a Arianne e o Danilo pretendiam. Me contentei com uma foto do lado de fora “segurando” a Torre.   

Quando tornerò a Pisa, se Dio vuole, sarà lì, ancora appoggiata. Depois de todas as obras para exercer força sobre sua inclinação de quase quatro metros, ela deixou de se inclinar e, aproximadamente, a cada ano, irá endireitar-se um pouco, garantem os especialistas. Portanto, durante os próximos três séculos não haverá motivo para preocupação.

Deixamos Pisa também sem tempo para conhecer dois museus localizados nas extremidades da Piazza dei Miracoli, o Museo delle Sinopie (que expõe os rascunhos dos afrescos destruídos num incêndio do Camposanto) e o Museo dell'Opera del Duomo. Estávamos ansiosos para chegar a Lucca, dove è nato mio nonno Enrico Della Santa, e pretendíamos chegar no entardecer.

Al tramonto, entriamo dalla Porta Elisa, vicino all'hotel  - Villa Lucrezia - in cui alloggiavamo a Lucca, uma cidade escondida entre largas muralhas. Villa Lucrezia é um hotel boutique lindíssimo e tem uma localização extraordinária, a 80 metros das muralhas de Lucca, exatamente em frente à Porta Elisa, uma das principais entradas para o centro histórico.

Quando saímos para jantar - nell'eccellente ristorante Gli Orti di Via Elisa -, caminhando pelos arredores do nosso hotel, eu“vi” il mio nonno andando por lá e me lembrei, com saudade, das histórias que ele contava della sua città con rubinetti che sprizzavano vino. 

Pesquisa e texto: LIC

Fonte: Maria Ana Centrone Santini


BELLA ITALIA - QUINDICESIMO ATTO

 

EMPOLI, SULLA STRADA PER LUCCA

Nossa viagem chegava ao fim. Voltaríamos para o Brasil em 30 de maio. La nostalgia di casa si mescolava alla nostalgia della mia patria adottiva, la bella Italia.

No dia 26, a caminho de Lucca, fizemos uma rápida parada em Empoli. 

O Zé Antônio conhecera um senhor numa lavanderia em Gambassi Terme que, ao saber seu sobrenome, lhe disse que havia muitos Santinis em Empoli. Talvez, o avô dele tivesse nascido lá.

A área de Empoli foi cenário da frente italiana na Segunda Guerra Mundial, fortemente danificada pelos bombardeios. Entre 1943 e 1944, devido ao avanço dos exércitos aliados, os alemães recuavam e Empoli foi violentamente cercada pelos nazistas. Em 24 de julho de 1944, acusados de colaboradores das tropas aliadas, vinte e nove civis foram retirados de suas famílias e fuzilados pelas forças armadas alemãs no que costumava ser chamada de Piazza Ferrucci.

Como era domingo, a cidade estava tranquila. Enquanto o Zé Antônio procurava o cartório para ter informações sobre os Santinis, sentei nessa praça onde há uma lápide com o nome desses civis, que são homenageados pela cidade todos os anos na data do fuzilamento. 

O cartório estava fechado, mas quando voltarmos para casa já sabemos por onde começar para descobrir a origem do avô do Zé Antônio.

Ainda a caminho de Lucca a cidade do meu avô materno, Enrico Della Santa, visitamos Pisa.

Continuiamo nel prossimo capitolo.

Pesquisa e Texto: LIC

Fonte: Maria Ana Centrone Santini

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

UM DIA NORMAL

@lic

Passando por aqui...

Tudo como dantes. Finalmente, o mundo voltou ao que era.

Hoje, foi uma 2ª feira tradicional. Nada se fez que já não se fazia antes. Foi um dia inteirinho de previstos, imprevistos, tempos vazios e intenções de fim de ano malogradas.

Mas não me entristeci. Epicteto me lembrou que “não são as coisas que me perturbam, mas meu parecer a respeito delas”.

Então, tudo bem! Ainda me restam uns dias antes que o Natal e o Ano Novo cheguem novamente.

Uns trezentos mais ou menos, porque no meio-tempo tem Carnaval, Semana Santa, Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Namorados, Festas Juninas, Dia dos Pais, Dia das Crianças, Halloween, Dia de Finados, Thanksgiving, Black Friday, outros feriados religiosos e alguns nacionais.

Como amanhã, se Deus quiser, tudo começa outra vez, pretendo tomar café sem açúcar, servir meu almoço num prato de sobremesa, fazer musculação, caminhar 30 minutos, diminuir meu tempo no whatsapp, dormir antes das 22h e ler um clássico.📚


DIA DE REIS / FESTA DA BEFANA

FESTA DA BEFANA

A celebração do Dia de Reis na Itália

Doces ou Carvão?

Dia 6 de janeiro é feriado na Itália. Celebra-se a Epifania ou Dia de Reis, uma festividade  conhecida popularmente como 'A Festa da Befana'. 

Befana é uma mulher idosa, de imagem semelhante a uma bruxa, que, segundo uma lenda popular, ajudou os Três Magos que se perderam no caminho para Belém até o Menino Jesus.

Ela também não sabia o caminho, mas os convidou para passar a noite em sua casa.

Na manhã seguinte, em agradecimento pela acolhida, eles a convidaram a segui-los e visitar o Menino, mas ela recusa.

Mais tarde, se arrepende e segue pelo caminho tomado pelos Magos levando um presente para Jesus, mas não consegue encontrá-lo e decide parar em todas as casas para dar doces para as crianças.

Desde então, a Befana passou a girar o mundo dando presentes a todas as crianças.

A data é aguardada com ansiedade pelas crianças.

A tradição popular diz que é fundamental deixar a janela aberta, com uma meia vazia, para que a velhinha possa encher de doces e caramelos as meias das crianças que se comportaram bem no ano anterior, e aquelas que foram travessas e malvadas ganham um pedaço de carvão.

domingo, 5 de janeiro de 2025

BOM SONO, BOA NOITE

Tudo na natureza tem o seu ciclo: os dias e as noites, as estações do ano, as marés que sobem e descem.

Todos os seres vivos têm seu ritmo diário de atividades e repouso. Os animais descansam. Até algumas flores fecham as pétalas à noite e as reabrem pela manhã.

O ritmo de alternação entre atividade e repouso chama-se ciclo circadiano, e difere de espécie para espécie.

Alguns anımaıs, os chamados notívagos, foram criados para caçar a noite e repousar de dia, como as corujas, os leões e as panteras.

Outros acordam cedo de manhã e procuram seu lugar de repouso logo ao pôr do sol, como as galinhas, vacas e as ovelhas.

O ser humano faz parte do grupo diurno, pois seu biorritmo sofre uma descida acentuada entre 18h e 24h, para depois retomar a curva ascendente, até de manhã.

Acontece que devido aos hábitos da sociedade moderna e a ambição incontrolada, muitas pessoas desrespeitam este ritmo, o que lhes prejudica o sistema nervoso e lhes rouba a vitalidade.

Quando vão dormir tarde, seu sono é irregular e superficial, às vezes, povoado de pesadelos, fazendo-os acordar com a cabeça pesada e preguiçosa.

Somente sono profundo, que ocorre nas horas que antecedem a meia-noite, restaura realmente as energias gastas durante o dia.

Nesta fase, os batimentos cardíacos, a pressão arterial, as funções digestivas e a atividade do cérebro diminuem bastante.

Alguns cientistas chegam a afirmar que as horas que você dorme antes da meia noite valem em dobro.

Lute para conseguir ir para a cama até às 22h.

Fonte: "Você pode ter saúde, basta querer", Catharina Walzberg