segunda-feira, 29 de julho de 2024

UM OÁSIS OU UMA PADARIA?

São 5h da manhã.

Desperto sempre nesse horário, na primavera, no verão, no outono e no inverno, domingo a domingo.

Após cumprir o ritual de toda manhã, e apesar do frio, saí pra comprar pão.

Era um sábado de um feriado prolongado.

Fui a pé.

Ainda estava escuro. Ao abrir a porta de casa, uma lufada de vento e 10 °C de sensação térmica me surpreenderam.

Não cruzei com viva alma nos 300 metros que caminhei até meu destino.

Depois dos 100 metros finais, dobrei a esquina e tive a sensação que, penso eu, os beduínos têm ao cruzar o deserto e avistar um oásis.

Foi um maravilhamento.

Parei por segundos para admirar aquele "oásis" reluzente que se destacava no cenário escuro da manhã.

Aquela imagem não sai da minha memória.

Caminhei mais lentamente pra que a proximidade não desfizesse o encantamento.

A realidade pode destruir coisas belas.

Lembrei da Adélia Prado. De vez em quando, Deus me dá poesia. Vejo uma padaria e enxergo um oásis.

O dia começou a clarear. Senti aromas no ar, ouvi sons, percebi movimentos. O sino da paróquia ressoou seis vezes. Despertei.

Voltei pra casa com seis pãezinhos e os pés no chão. Meu mundo retomara sua ordem natural.

LIC

P.S.: Adélia Prado (1935-   ) "De vez em quando, Deus me tira a poesia. Olho pedra, vejo pedra mesmo."

sexta-feira, 26 de julho de 2024

BELLA ITALIA - PRIMO ATTO

Aconteceu o que não esperávamos.

Como marinheiros de primeira viagem, por um quase, um grandessíssimo quase, meu marido e eu não embarcávamos.

A viagem pra Itália, pra eu conhecer a cidade onde meu pai - José Oronze Centrone - nasceu e outras tantas, desde sempre foi meu único sonho de consumo.

Quando o Zé Antônio e eu chegamos aos 50 anos de casados, minha filha nos deu de presente essa viagem - 30 dias italianos, com buona pasta, tanta cultura e ricordi.

Organizadíssima como só a Arianne sabe ser, ela escolheu a melhor data pra estarmos por lá, montou o roteiro, reservou os hotéis e passeios etc. etc. etc.

"Mãe, você e o papai só têm que providenciar os passaportes."

Ato contínuo, desenterrei os nossos passaportes pra conferir a datas. Bati o olho e vi, eu SÓ vi a data de emissão: 19 de maio de 2014.

Em algum lugar, em algum momento, ouvi que os passaportes são válidos por dez anos. Então... "tutto è a posto, grazie a Dio!", exclamei, e não olhei mais nada.

Mas, como dizia minha nonna, "vedete solo quello che volete vedere".

A contagem regressiva me levava cada vez mais para perto da bella Italia e, toda noite, eu lhe enviava um recado: "Stiamo arrivando".

Na véspera da partida, seguindo recomendação da minha sobrinha que recentemente voltara de uma viagem à Europa, resolvi tirar um xerox dos passaportes. "É bom tia, ter uma cópia, por medida de segurança."

Tirei os passaportes da bolsa - já estava tudo ajeitadinho - e, ao abri-lo, a primeira coisa que vi, isto é, SÓ vi, foi a "date of expiry".

Entendo quase nada de inglês, mas o "date of expiry" me arrepiou: 19 de maio de 2019.

Telefonei correndo pra Arianne. "Filha, o 'date of expiry' quer dizer data de expiração?"

"Sim, mãe, validade."

Senti náuseas, dor de estômago, dor de barriga, quase desmaiei! Era 16h30 da quinta-feira, 2 de maio de 2024, véspera da nossa partida pra bella Italia. Meu sonho de consumo cominciò a crollare come la torre pendente di Pisa.

"No, no, mio Dio. No, no, mio Dio", eu só conseguia repetir. "No, Dio mio, non farmi questo."

E a Arianne só conseguia repetir: "Mãe, não tem jeito, não tem jeito, vocês não podem viajar com o passaporte expirado!".

Pensei em telefonar pra minha amiga que mora na Itália, pra ver se ela teria uma solução. Nem me dei conta que a Silvia já devia estar dormindo há muito tempo. 

Foi quando o telefone tocou. Era minha sobrinha, a mesma que sugeriu a cópia do passaporte. Santa Priscila! Ela lembrou que a Polícia Federal, nesses casos, emite passaportes emergenciais nos Postos de Expedição dos aeroportos.

Às 4h da madrugada do dia 3 de maio de 2024, nós estávamos no aeroporto. O Posto só abria às 8h. Nosso voo era às 13h.

Adesso, sono le 5 del mattino di sabato a Milano e siamo appena atterrati.

Un sogno che diventa realtà! Grazie a Dio!

Texto e pesquisa: LIC 

Fonte: Maria Ana Centrone Santini

terça-feira, 23 de julho de 2024

MARIA, DE MAGDALA

 

Em 22 de julho se festeja liturgicamente o grau de importância para toda Igreja de Maria de Magdala, ou Maria Magdalena, por seu testemunho de fé em Jesus de Nazaré, o Messias (Māšîaḥ em hebraico), o Cristo (Christós em grego) para os cristãos.

Mas quem foi essa Maria, do povo de Israel, cujo nome deriva do lugar onde se supõe que ela nasceu e viveu parte de sua vida?

Recebi mensagens pelo whatsapp nessa data e um post que me impressionou particularmente acentuava suas palavras aos Doze: "Vi o Senhor! E ouvi o que ele me disse".

O que ela viu?

Os evangelhos atestam que Maria viu e, por ter visto, anunciou a vida a partir de um sepulcro, a ressurreição de Jesus de Nazaré.

Esse acontecimento, que é o mais importante do cristianismo, surpreende por ter sido testemunhado por uma mulher.

Maria viveu durante o Império Romano (último período da civilização romana), que durou cinco séculos, num ambiente patriarcal, como foi quase toda a Antiguidade, onde as mulheres tinham pouco protagonismo.

Apenas no primeiro século do cristianismo, Hipólito, bispo de Roma (170-235), aclamou Maria de Magdala apóstola.

Um reconhecimento tardio a quem esteve ao lado de seu Rabuni (Mestre) nos momentos fundamentais de sua vida até as últimas consequências, com uma confiança inabalável em seus ensinamentos de paz, alegria e fraternidade.

LIC

P.S.: Maria de Magdala, em nenhum trecho dos evangelhos, é apresentada como prostituta, mas o papa Gregório (590-605) a confundiu com a "pecadora anônima" que ungiu os pés de Jesus (Lc 7, 36-50), possivelmente por questões fora do âmbito da fé.

Em 1969, o papa Paulo VI lhe devolveu sua dignidade.

Fonte: Minicurso online "Maria de Magdala: apóstola dos apóstolos", irmã Aila Pinheiro, nj

sábado, 20 de julho de 2024

ELE DESCANSA, MAS NÃO DORME

Um casamento religioso depois de 15 anos do casamento civil e dois filhos.

Foi um amigo de longa data que me convidou pra cerimônia.

Aceitei o convite, participei da renovação do sim da Juliana e do Raphael.

Mas acho que meu amigo estava mais feliz que o casal, pois, além de tio da noiva, era o pároco da igreja.

"Eles decidiram oficializar sua união perante Deus. É disso que se trata", ele acrescentou.

Sim, a Deus se deve obediência e reverência, eu aprendera na escola dominical.

Meus pensamentos, entre voltas, reviravoltas e saltos acrobáticos, estacionou no passado com (ou sem?) Deus.

Na casa dos meus pais, religião se traduzia em rezar o Pai Nosso antes de dormir e no "A bênção, vó." quando ela vinha nos visitar.

Isso bastava pra vivermos com alegria e paz, em casa ou lá fora.

As aulas de religião nos meus anos primários, que eu assistia amedrontado, mudaram esse cenário no meu interior.

Deus tomou existência num ser não humano, composto de moléculas bisbilhoteiras e vingativas, sempre à espreita pra me castigar.

Nunca mais comi um pedaço de bolo escondido da minha mãe que não me sentisse "vigiado" ou à espera da punição.

Desde então, trilhei um caminho tal qual o dos judeus no deserto em direção à Terra Prometida, com dissidências, decepções, desvios, desafios, sempre sob sua vigilância.

Mas que deixou de me amedrontar quando, como Guimarães Rosa, passei a ter certeza que "tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim dá certo".

Vivo apostando nisso quando me pego "comendo bolo escondido da minha mãe" ou quando me surpreendo parado à margem da estrada.

Ele descansa, mas não dorme.

LIC



quinta-feira, 11 de julho de 2024

"NO PARAÍSO, TUDO SE RESOLVERÁ."

Como em todas as manhãs, Murilo foi caminhar no parque. "Pelo menos, meia hora todo dia, para abaixar o colesterol", recomendou o cardiologista.

Esperando o semáforo abrir, o relógio digital de rua capturou sua atenção ao mostrar a temperatura: 14 °C.

O que veio a seguir também: "A vida é feita de grandes momentos e dos outros também".

Essa frase o impressionou e acompanhou Murilo durante toda a caminhada.

"Grandes momentos, tive muitos." 

Nos primeiros 1.000 metros, relembrou o grande momento que marcou sua vida desde o início.

"A morte do meu pai, de tifo, em 1929. Eu tinha 8 anos. Mamãe ficou sem eira nem beira com sete filhos. Viemos para São Paulo à procura de trabalho. Minhas três irmãs e mamãe, todas mal letradas, só sabiam costurar. Foi o que fizeram. Costuraram fardas e mais fardas para os jovens que participaram da Revolução de 1932. Tempos difíceis."

"Eu e meus três irmãos mais velhos íamos no final das feiras livres recolher verduras, frutas e legumes que ainda podiam ser aproveitados. O dinheiro era pouco, bem pouco. Tempos difíceis."

Nos 1.000 metros seguintes, nova lembrança, outro grande momento. “Em 1939, eu tinha 18 anos quando explodiu a II Grande Guerra. Morávamos em um dos cortiços do Brás. A escassez de alimentos aumentou, no mundo todo. A insanidade também. Ao fim dessa guerra, 60 milhões de pessoas tinham morrido. Tempos difíceis."

Quatro quilômetros de caminhada e Murilo lembrou de um momento espantoso, grande também. Bombas atômicas foram jogadas em Hiroshima e Nagasaki para acabar de vez com a Guerra. A destruição dessas cidades foi instantânea. “Eu tinha 24 anos. Pensei que o Fim dos Tempos tinha chegado. Que má sorte! Eu e a Suzana estavamos pensando em casar. Tempos difíceis."

O Fim dos Tempos não chegou, mas estava à espreita. Os Estados Unidos e a União Soviética começaram a Guerra Fria, sem bombas, mas com muitas ameaças de uma guerra nuclear. “O mundo viveu sob essa ameaça por 46 anos. Terminaram de brigar só em 1991. Eu estava casado com a Suzana, tínhamos três filhos, dois netos, o dinheiro continuava pouco. Tempos difíceis."

"Foi então que o preço do petróleo aumentou 400%, desestabilizando a economia mundial. Depois tivemos ditadura militar, dívida externa, tivemos hiperinflação, etc. etc. etc. Tempos difíceis."

Sem perceber, caminhara por mais de uma hora. 

"Por hoje, basta. Se o Fim dos Tempos não chegou naqueles tempos, não vai ser agora."

Murilo morreu antes de conhecer o Putin e o Kim Jong-Un.

LIC

terça-feira, 9 de julho de 2024

MARCEL

 

Num lugar muito, muito longe daqui, morava um macaquinho.

O nome dele era Marcel e seu apelido era macaco-narigudo.

O nariz do Marcel era enorme, maior que o nariz de qualquer macaco que existe no mundo. Tinha 10 centímetros! Era do tamanho de uma lagartixa!

Todos na família dele tinham nariz grande. 

Mas o Marcel não gostava de ter aquele narigão, pois ele era o único macaco-narigudo na escola.

Ficava muito, muito chateado. Ia pra escola triste e acabrunhado.

Tirava nota baixa porque vivia distraído só pensando no que fazer pra diminuir seu narigão.

Um dia, a professora escreveu “martelo” na lousa e o Marcel escreveu “castelo” no seu caderno.

Voltando da escola, o Marcel não achava a árvore onde morava e subiu na árvore do macaco seu vizinho.

Dona Monke, sua mãe, já estava preocupada quando o Marcel chegou e foi logo se explicando: "Eu me confundi e subi na árvore do senhor Zumba, mamãe!"

Toda noite, tinha briga porque o Marcel deitava na cama errada, quer dizer, no galho errado. "Cada macaco no seu galho", reclamava o Cacau, seu irmão.

Dona Monke, sem saber que o Marcel andava distraído por causa do narigão, achou que ele não estava é enxergando bem.

Resolveu levá-lo ao doutor que cuidava de olhos.

"Dona Monke, seu filho precisa de óculos”, o doutor disse depois de examiná-lo.

O Marcel não gostou nem um pouco. "Lá na escola, agora, vão me chamar de macaco-narigudo quatro-olhos, mamãe”, ele disse muito, muito triste.

Dona Monke não deu muita atenção e, cuidadosa como era com seus filhos, prontamente comprou óculos pro Marcel. Com uma armação grande e grossa por causa do seu narigão.

Pois não é que, se olhando no espelho, o Marcel ficou muito, muito feliz?!

Viu que os óculos disfarçavam seu nariz!

Desse dia em diante, não tirou mais os óculos nem pra dormir.

Nem errou mais de árvore e nem de galho.

Na escola, nunca mais escreveu nada errado. É o primeiro da classe e seu apelido agora é macaco-narigudo sabichão.

Porém, quando o Marcel se apaixonou por sua amiga de classe, a Marcelina, ele passou a usar lentes de contato.

Sabem por quê? Porque, quanto maior o nariz, mais sucesso com as macacas-narigudas. É dos narigudos que elas gostam mais. 

Para Luca, Felipe, Carolina, Thomas

LIC

segunda-feira, 8 de julho de 2024

ERA UMA VEZ...

Era uma vez... um gato xadrez.

"Um gato xadrez, vovó?! Não existe gato xadrez!", o Luca disse.

O Luca tinha razão. Ele tem 9 anos. É meu neto primogênito, filho do meu filho primogênito. 

O Felipe e a Carolina, meus dois outros netos, olharam pro Luca e pra mim sem entender porque um gato não podia ser xadrez.

É que o Felipe tem 4 anos e a Carolina tem 2 anos e, nas historinhas que eles escutam, tudo pode acontecer. 

Todos estavam em férias. Não fomos ao parque porque era uma tarde de julho fria e chuvosa.

Então, começou a sessão “Senta que lá vem história”, com pipoca.

O Thomas, meu neto que tem 1 ano, nem se importou com o gato xadrez. Quando escutou “Senta que lá vem história”, subiu na mesa da sala de jantar. Ele está com essa mania agora. Acho que é porque ele é o mais pequenininho de todos e não quer ficar por baixo.

Voltando ao gato xadrez, pra salvaguardar a fantasia e a imaginação pro Felipe e pra Carolina, contei pra eles a história de um macaco-narigudo, que existe de verdade! Mas o da história foi "inventado".

Num lugar muito, muito longe daqui, morava um macaquinho.

O nome dele era Marcel e seu apelido era macaco-narigudo.

O nariz do Marcel era enorme, maior que o nariz de qualquer macaco que existe no mundo. Tinha 10 centímetros! Era do tamanho de uma lagartixa!

Todos na família dele tinham nariz grande. 

Mas o Marcel não gostava de ter aquele narigão, pois ele era o único macaco-narigudo na escola.

Ficava muito, muito chateado. Ia pra escola triste e acabrunhado.

Tirava nota baixa porque vivia distraído só pensando no que fazer pra diminuir seu narigão.

Um dia, a professora escreveu “martelo” na lousa e o Marcel escreveu “castelo” no seu caderno.

Voltando da escola, o Marcel não achava a árvore onde morava e subiu na árvore do macaco seu vizinho.

Dona Monke, sua mãe, já estava preocupada quando o Marcel chegou e foi logo se explicando: "Eu me confundi e subi na árvore do senhor Zumba”, mamãe!"

Toda noite, tinha briga porque o Marcel deitava na cama errada, quer dizer, no galho errado. "Cada macaco no seu galho", reclamava o Cacau, seu irmão.

Dona Monke, sem saber que o Marcel andava distraído por causa do narigão, achou que ele não estava é enxergando bem.

Resolveu levá-lo ao doutor que cuidava de olhos.

"Dona Monke, seu filho precisa de óculos”, o doutor disse depois de examiná-lo.

O Marcel não gostou nem um pouco. "Lá na escola, agora, vão me chamar de macaco-narigudo quatro-olhos, mamãe”, ele disse muito, muito triste.

Dona Monke, cuidadosa como era com seus filhos, não deu muita atenção e prontamente comprou óculos pro Marcel. Com uma armação grande e grossa por causa do seu narigão.

Pois não é que, se olhando no espelho, o Marcel ficou muito, muito feliz?!

Viu que os óculos disfarçavam seu nariz!

Desse dia em diante, não tirou mais os óculos nem pra dormir.

Nem errou mais de árvore e nem de galho.

Na escola, nunca mais escreveu nada errado. É o primeiro da classe e seu apelido agora é macaco-narigudo sabichão.

Porém, quando o Marcel se apaixonou por sua amiga de classe, a Marcelina, ele passou a usar lentes de contato.

Sabem por quê? 

Eu conto da próxima vez.

LIC


domingo, 7 de julho de 2024

PRIMAVERA, VERÃO, OUTONO, INVERNO... E

Certo dia...

Assisti, pela segunda vez, "Primavera, Verão, Outono, Inverno...e Primavera".

Até então, só a beleza da fotografia me impressionara.

Mas, daquela vez, o nome do filme chamou particularmente minha atenção, pois me sugeriu o movimento do Universo em um moto-perpétuo.

Estou estudando cosmologia e a mecânica celeste, aparentemente, se movimenta em um moto-contínuo, com tudo funcionando perfeitamente e ainda produzindo energia em grande quantidade.

O sol, a lua, as galáxias, os planetas percorrem sempre a mesma órbita. Os anos, os meses, as semanas, os dias e as horas se sucedem sempre iguais.

Os lobos devoram cordeiros. As aves voam e as serpentes rastejam.

O bem-te-vi canta sempre o mesmo canto. A macieira sempre dá o mesmo fruto.

Na Primavera, chegam as andorinhas e, no Outono, elas partem.

Os animais e o ser humano se multiplicam sempre da mesma forma.

O sangue que circula no meu corpo percorre sempre o mesmo caminho.

O que vive se repete continuamente dentro de padrões numa lealdade inconsciente ao Princípio, ad aeternum.

Fui direto à fonte original para saber o por quê de tanta mesmice.

"A repetição gera convicção", foi a resposta. 

Mas por que ainda não estamos convictos de que tudo está bem, de que é assim que tem que ser?

Adão e Eva tem uma desculpa desculpável: tinham acabado de chegar no Jardim do Éden, tiveram tudo isso por só uma vez.

Mas e nós? Estamos nessa mesmice há cerca de 2 milhões de anos. Por que ainda não nos convencemos que depois da Primavera, Verão, Outono e Inverno... vem a Primavera outra vez?

Acho que estamos confusos sobre o que pode nos tornar felizes. 

Assista ao filme.

LIC

quinta-feira, 4 de julho de 2024

PREGUIÇA

Faz algum tempo, vi um bicho-preguiça ao vivo e em cores.

Não exatamente em cores porque ele é monocromo: marrom desbotado.

O nome tem a ver com o metabolismo muito lento do seu organismo. Eles podem levar semanas para digerir algo que outro animal do seu porte faria em questão de horas. E se movem sete centímetros por segundo, mais devagar que uma tartaruga! E dormem cerca de 14 horas por dia! E descem da árvore para fazer suas necessidades fisiológicas uma vez por semana.

"Deus me livre ser como ele!", foi meu pensamento imediato.

Claro que eu não estava pensando em ser bicho e desbotado.

Ser preguiçoso é que eu não quero ser, com aquele rosto sonolento de bicho-preguiça.

Pra todos os outros meus pecados eu tenho ótimas desculpas, mas pra preguiça não preciso. Não sou.

Eu raramente faço absolutamente nada. E, se é pra hoje, faço agora. Não procrastino.

O ócio me dá preguiça.

Por que será que a preguiça não corre nas minhas veias mesmo sabendo que ela é o melhor dos 7 pecados capitais, pois impede que se cometa os outros seis?

Nas sessões de terapia, já vasculhei meu inconsciente pra saber da ancestralidade da minha diligência. Não, não é diligência de faroeste, aquelas carruagens movidas por cavalos no Velho Oeste americano.

É diligência “virtude”, o antídoto da preguiça, pois cada um dos 7 pecados capitais tem seu contrário.

Quando ouço, em velório, alguém dizer “morreu, agora descansou”, me arrepio. Fico imaginando o falecido deitado em uma nuvem branca lá no firmamento, "descansando" pela eternidade ao som de harpas, na companhia de anjinhos voando de um lado para o outro.

Não, eu não aguentaria. Decididamente, assim que chegar na Porta de São Pedro, apresento meu currículo.

LIC

terça-feira, 2 de julho de 2024

O HOMEM PROPÕE, MAS DEUS DISPÕE


Logo cedo, virei a página do meu calendário de mesa e estava lá: Segundo Semestre.

Na página seguinte, o dia: 1° de julho, segunda-feira.

Eu sei que o primeiro dia da semana é domingo.

Mas é na segunda-feira que o dia a dia recomeça e, nesta em particular, por uma coincidência cronológica, começou a segunda metade do ano.

'Bateu' uma culpa, mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa quando lembrei de algumas das minhas metas de fim de ano - não cumpridas - cujo prazo de validade venceram ontem, 30 de junho.

E agora?

Foi então que, se juntando a esse início de mês culposo, minha máquina de lavar roupa parou de funcionar no enxague, cheinha de lençóis, fronhas e toalhas da troca da semana.

E quem é que sobrevive sem máquina de lavar roupa?! Eu não.

Nem as mensagens via WhatsApp encorajadoras que recebi logo cedo: "Bem-vindo, julho, que o melhor aconteça!", "Enxergue o novo mês com esperança.", "Desafie-se neste novo mês!", "Permita-se viver intensamente em julho." etc. etc. etc., me encorajaram.

"Bom dia, 'seu' Takeda. Minha máquina de lavar não tá enxaguando, o senhor pode vir consertar hoje?", telefonei pro técnico.

Horror dos horrores. 'Seu' Takeda só tinha horário pra quinta-feira!

Sobrou pra Zeni, a diarista, enxaguar e torcer aquela roupaiada.

Foi então que tive um estalo desculposo. "Já sei como colocar a culpa, mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa 'pra fora de casa'."

A Zeni vive dizendo, quando quero descartar um produto com prazo de validade vencido: "Não jogue não, dona Yara. Eles põem essa data pra vender mais. Pode esperar mais uns 10 dias que ainda vai tá bom".

Pois bem. Vou fazer o mesmo com minhas metas não cumpridas. Estendo o prazo de validade por 180 dias, até o próximo Réveillon.

Afinal de contas, por mais que tracemos metas, façamos planos, a vida vai acontecendo à nossa revelia e pode ser virada pelo avesso a qualquer momento. 

A gente propõe, mas Deus dispõe.

O dólar sobe, alguém querido se vai, as ações despencam, começa uma guerra, o rio transborda, se perde o emprego, surge um vírus estranho, a máquina de lavar roupa pára de funcionar.

LIC