sábado, 20 de julho de 2024

ELE DESCANSA, MAS NÃO DORME

Um casamento religioso depois de 15 anos do casamento civil e dois filhos.

Foi um amigo de longa data que me convidou pra cerimônia.

Aceitei o convite, participei da renovação do sim da Juliana e do Raphael.

Mas acho que meu amigo estava mais feliz que o casal, pois, além de tio da noiva, era o pároco da igreja.

"Eles decidiram oficializar sua união perante Deus. É disso que se trata", ele acrescentou.

Sim, a Deus se deve obediência e reverência, eu aprendera na escola dominical.

Meus pensamentos, entre voltas, reviravoltas e saltos acrobáticos, estacionou no passado com (ou sem?) Deus.

Na casa dos meus pais, religião se traduzia em rezar o Pai Nosso antes de dormir e no "A bênção, vó." quando ela vinha nos visitar.

Isso bastava pra vivermos com alegria e paz, em casa ou lá fora.

As aulas de religião nos meus anos primários, que eu assistia amedrontado, mudaram esse cenário no meu interior.

Deus tomou existência num ser não humano, composto de moléculas bisbilhoteiras e vingativas, sempre à espreita pra me castigar.

Nunca mais comi um pedaço de bolo escondido da minha mãe que não me sentisse "vigiado" ou à espera da punição.

Desde então, trilhei um caminho tal qual o dos judeus no deserto em direção à Terra Prometida, com dissidências, decepções, desvios, desafios, sempre sob sua vigilância.

Mas que deixou de me amedrontar quando, como Guimarães Rosa, passei a ter certeza que "tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim dá certo".

Vivo apostando nisso quando me pego "comendo bolo escondido da minha mãe" ou quando me surpreendo parado à margem da estrada.

Ele descansa, mas não dorme.

LIC



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