quarta-feira, 28 de agosto de 2024

BELLA ITALIA - TERZO ATTO

SILVIA, LA MADONNA DELLA CORONA, IL VOLO

No dia 5 de maio, nosso segundo dia na Itália, saímos de Milão em direção à Brescia.

O destino era Gussago. Foi a saudade que nos guiou até lá.

Iria reencontrar uma amiga muito querida de longuíssima data, desde os anos dourados do Instituto de Educação Caetano de Campos onde nos conhecemos em 1966 e completamos o Curso de Formação de Professores Primários (Curso Normal).

Assim que a Silvia mudou com a familia para Gussago, em novembro de 2018, começamos a planejar nosso reencontro na Bella Italia.

Reencontrar amigos é recuperar a porção de nós que existiu e necessita ser ativada de tempos em tempos.

O reencontro foi em família, a dela e a minha, na casa da Paula, la figlia più giovane da Silvia.

Per molte ore abbiamo goduto di buoni compagni, di deliziosi spuntini, di vino, di birra e di una vivace conversazione.

Quando nos demos conta, já eram 10 horas da noite.

O hotel - La Caporala -, onde ficamos aconchegantemente hospedados, estava a dois passos de Verona.

No dia seguinte, visitamos Madonna della Corona, um Santuário deslumbrante contruído entre o céu e a terra.

Inserido na rocha, está situado na borda de um penhasco a uma altitude de 775 metros acima do nível do mar.

As origens de sua construção remontam a uma lenda local que relata o achado milagroso de uma estátua da Pietà na borda da ravina rochosa.

Verdade sim, verdade não, milagres pela intercessão da Madonna della Corona estão confirmados nos inúmeros ex-votos e fotos que cobrem as paredes de um corredor interno.

Ainda nesse dia, fizemos um tour em Verona sem direito a visitar a casa da Julieta porque o acesso estava bloqueado por uma feira de rua, un mercatino.

No dia seguinte, fomos a Mantova, uma comuna fundada em aproximadamente 2000 a.C., pertinho de Verona. No "Romeu e Julieta" de Shakespeare, quando Romeu é exilado de Verona, sua cidade natal, após matar Tebaldo, ele foge para Mantova, num burrico.

O dia seguinte merecerá um capítulo à parte. Há muita beleza pra recordar, pois estivemos o dia inteirinho em Veneza!

Reservei nosso último dia na região do Vêneto para rever a Silvia.

Abbiamo visitato il Lago di Garda, il più grande d'Italia, Sirmione e Lazise, i comuni che lo circondano.

Em Lazise, nos encontramos para almoçar e nos despedirmos, com meu desejo veemente de voltar em breve. Che Dio lo voglia!

À noite, a cena final foi na Piazza Brà, na Arena de Verona, um anfiteatro romano possivelmente construído entre a primeira e a segunda décadas do século I d.C. 

Eu era uma entre os 15.000 espectadores da apresentação de três jovens e lindos cantores de ópera.

No palco, Il Volo!

Un altro desiderio realizzato.

Gracia a Dio.

Obrigada, Arianne querida.

LIC

Fonte: Maria Ana Centrone Santini

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

JAMILA

 

Jamila acabara de pousar na janela de um apartamento no 16° andar depois de um longo voo.

Grudadinha no vidro, viu duas pessoas olhando admiradas pra ela e ouviu uma dizer pra outra: "As pessoas acreditam que, se uma joaninha 🐞 pousar nelas, é sinal de boa sorte". 

Jamila ficou muito feliz ao escutar isso.

Dias atrás, ela decidira ser vegetariana porque estava enjoada de comer os insetos que estragavam as hortas que visitava.

Mas, se parasse de comer insetos, ficaria sem emprego.

As joaninhas ajudam os plantadores a cuidar das  hortaliças comendo os bichinhos que destroem suas plantações.

Ao saber que as joaninhas eram sinal de sorte, muito se agradou. “Oba, esse será meu novo emprego. Vou trazer boa sorte pousando nas pessoas.”

Ela se lembrou que, nos seus voos diários, sempre encontrava pessoas grandes, e também gente pequena, tristes, preocupadas, algumas até chorando.

"Acho que vou ter que voar mais baixo pra chegar perto delas", matutou. Isso porque as joaninhas viajam bem alto, até a 1.100 metros de altura.

No primeiro dia de seu novo trabalho, ela acordou bem cedinho. Estava entusiasmadíssima em poder dar sorte pra todo mundo.

Foi até um parque. “Deve ter muita gente por lá a essa hora da manhã."

Pois tinha. Deu um voo rasante para reconhecimento à procura de quem poderia ser o primeiro sortudo.

Viu uma moça de short e camiseta sentada na beira do lago.

Ao pousar na sua perna, a moça levou um susto, começou a espernear e Jamila foi arremessada pra bem longe. 

É que, apesar das joaninhas não possuírem dentes, elas mordem, assim como se fosse uma espécie de beliscão.

Meio zonza, Jamila ajeitou seus dois pares de asas, aprumou o voo e pousou no tronco de uma árvore.

"Nossa, acho que aquela moça não sabe que trago sorte. Azar dela!", concluiu.

Respirou fundo e saiu à procura de outro sortudo.

Dessa vez, escolheu um senhor que caminhava lentamente em volta do lago apoiado numa bengala.

Pousou sobre sua mão e, mais uma vez, sua mordida, que era apenas um beliscão, provocou um saculejo que arremessou Jamila pelo ar.

Desanimada, Jamila resolveu descansar um pouco no meio da vegetação, longe de gente.

Foi aí que deu de cara com um sapo enorme que, quando a viu, pulou rapidinho no lago com medo dela.

É que as joaninhas têm as cores parecidas com as de animais venenosos. Os sapos, se tiveram outra coisa pra comer, fogem delas.

"Finalmente, eu dei sorte", ela pensou sorrindo.

Voando pra casa, Jamila lembrou do que ouvira lá naquele 16° andar: "As pessoas acreditam que, se uma joaninha 🐞 pousar nelas, é sinal de boa sorte".

"Será mesmo verdade?!", se perguntou pensativa. "Bom, amanhã, eu tento de novo."

LIC

Para Luca, Felipe, Carolina, Thomas

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

BELLA ITALIA - SECONDO ATTO

SIAMO ARRIVATI A MILANO

Nel Primo Atto, chegamos na Itália, a Milano.

Mas, até então, estivemos em um avião por cerca de 12 longas horas.

A viagem foi bastante desconfortável, mesmo nos assentos da classe econômica premium.

Nos 40 cm de largura dos assentos, eu e o senhor (muito grande) ao meu lado tivemos que nos encolher na hora do jantar pra não literalmente entornar o caldo. 

Às 5 da manhã, aterrissamos em Malpensa – Zé Antônio, meu marido, Danilo e Arianne, meus filhos, eu e mais 496 outros passageiros.

Como acontece em todo aeroporto internacional, fomos apartados – “passaporto europeo qui, passaporto brasiliano lì” – por um dos aeroportuários de uma delicadeza digna de um rinoceronte.

A fila per i passaporti brasiliani era imensa e lenta. 

Quando meus joelhos reclamaram atenção, fui descansar num banco próximo.

Por obra e graça de Deus, uma funcionária do aeroporto me descobriu. Me justifiquei por estar sentada quando todo mundo estava de pé.

Ai dos orgulhos! Se não se declarar idoso, você morre na fila. Descobri isso nesse instante e tirei a prova dos nove ao longo da nossa viagem.

Ela nos levou – eu e minha companhia limitada – até o atendimento preferencial.

Com os passaportes carimbados com o "permesso italiano" após passarmos pelo controle, nos sentimos na Bella Italia finalmente.

Gloria a Dio!

Depois de um parto a fórceps para conseguir na locadora o carro que contratamos, rodamos cerca de 40 km até nosso hotel, no centro de Milão.

A partir de então, acionei o modo encantamento. Os olhos veem o que o coração está cheio. Tudo me parecia lindo!  

Doze horas depois do desembarque, “almoçamos” in una trattoria vicino all'hotel. Foi um manjar dos deuses. 

Exaustos, fomos dormir, pois o Duomo di Milano nos aguardava no dia seguinte.

Que deslumbramento diante daquela obra da genialidade humana, construída com o maravilhoso mármore branco rosado das cavernas de Candoglia, em Val D’Ossola, durante cinco séculos.

Chorei de gratidão por estar ali, por ter o privilégio de ver aquele impressionante duomo Dei!

Ainda visitamos a Galleria Vittorio Emanuele II e, naquele mesmo dia, deixamos Milão rumo a Brescia.

Uma amiga querida e sua família estavam nos esperando em Gussago!

Ci vediamo là!

LIC

Fonte: Maria Ana Centrone Santini

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

MARISE

Foi numa tarde de domingo.

Combinamos um encontro depois de passado um bom tempo sem nos vermos.

Ela insistiu pra que eu fosse à sua casa - "minha gruta copânica" - como costuma se referir à kitchenette onde mora há muitos anos.

No hall de entrada, uma surpresa. "Dona Marise mora no 31° andar, do bloco B. O elevador é aquele, à direita", me informou o porteiro.

Pela primeira vez, eu estava entrando no Copan, um prédio icônico que, na sua sinuosidade, abriga 1.160 apartamentos em 32 andares e seis blocos.

Subi sentindo a ponta dos meus dedos formigando. Tenho pavor de altura.

Percorri um longo corredor recortado por portas, muitas portas à esquerda e à direita, até chegar no número 3165.

Me fiz presente, batendo na porta com a coruja de ferro ali instalada. "Ela estava na vila da família da minha mãe, na Bohemia. A coruja era símbolo do brasão da sua família", me contou.

"Que bom revê-la, querida."

No abraço do reencontro, com a cabeça sobre seu ombro, meus olhos foram atraídos por uma imensa parede de vidro.

Através dela, vi um cenário deslumbrante a 115 metros de altura. Senti o quão distante estávamos da terra, do burburinho, da agitação, do vozerio da cidade. 

Sim, é sua gruta, seu abrigo onde ela habita e onde, agora, se refugia para viver um inesperado capítulo da sua história.

Saboreando delícias mineiras, "Assei pra vocês", passeei por seu espaço recheado de recordações, devoções e amor: fotos, relíquias, livros, muitos livros, bilhetes carinhosos pregados aqui e acolá, objetos carregados de memórias.

Por algumas horas, conversamos sobre tudo um pouco.

Até ensaiamos um dueto ao som do seu violão "cheirando a guardado" a pedido da Carolina, nossa netinha. "Quem me ensinou a nadar, quem me ensinou a nadar, foi, foi, marinheiro, foi os peixinhos do mar."

O anoitecer começou. "Ela deve estar cansada, melhor irmos embora", pensei.

Marise insistiu para ficarmos mais um pouco. "Fique até a escuridão total. O espetáculo é deslumbrante."

Lâmpadas e mais lâmpadas - nossos pirilampos urbanos - foram se acendendo, iluminando, pouco a pouco, o cenário que víamos por aquela imensa parede de vidro.

"Me faz lembrar o Manto da Apresentação, bordado pelo Bispo do Rosário", Marise comentou maravilhada. "Ele disse que é o inventário do mundo. Irá vesti-lo no Dia do Juízo Final."

Sim, aos nossos pés estava São Paulo, um pequeno inventário do mundo.

LIC

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

BELLA ITALIA - PREFAZIONE

 

IL SOGNO 

"Sonho que se sonha sozinho é só um sonho. Sonho que se sonha junto é realidade."

Dizem que essa frase é do John Lennon, outros afirmam que é do Raul Seixas. Não importa. 

O importante é que papai sonhou, eu sonhei, sonhamos juntos e o sonho se realizou. 

Foi assim...

Tenho descendência italiana. Meu avô materno, Enrico Della Santa, era de Lucca, uma das joias da Toscana, e a vovó, Fortunata Brina, nasceu em Ferrara, uma comuna da Emilia-Romagna, no norte da Itália. Os pais do papai – Antonio Centrone e Mariana Scagliusi – eram de Polignano a Mare, uma cidade à beira do Adriático, na província de Bari, capital da Puglia, região da Itália meridional.

Nasci e cresci envolvida amorosamente pela tradição e cultura italianas.

Meus cinco sentidos foram embebidos pelos aromas, sabores e cheiros das comidas daquelas regiões. Por imagens de suas festas sacras e profanas. Pelos sons de vozes, dialetos, cantos e músicas.

A memória desse tempo remoto perdura até hoje. 

Recordo os almoços em família, o cabrito ensopado, orecchiette ao sugo fatto dalla mia nonna Mariana, i deliziosi piccicatelles com erva doce. As massas recheadas - cappelletti, ravioli – fato dalla mia nonna Fortunata, regados com vinho que vovô Enrico amava e que também bebíamos, mas misturado com água.

Em junho, honrávamos San Vito martire, padroeiro de Polignano a Mare e do bairro do Brás, em São Paulo. Participávamos de uma festa típica da colônia barese, e da procissão por todas as ruas desse bairro. Em cada esquina, encontrávamos irmãos da vovó, do vovô Antonio, meus tios, tias, primos, primas, amigos.

Na bruma do passado, também vejo um quadro. Em destaque na parede da casa da vovó Mariana, ele retrata uma praia próxima de una grotta naturale, a Grotta Pallazzese, em Polignano a Mare.

Ao longe, ouço "Volare" na voz de Domenico Modugno, também ele um polignanesi, e as canções napolitanas que papai amava.

Porém, mais intensamente do que eu, isso tudo foi saboreado por meu pai. Parecia que ele já estivera e vivera lá.

A paixão com que falava daquela terra distante traduzia para mim seu desejo de conhecê-la.

"Um dia, iremos todos até lá, papai", vez ou outra eu lhe dizia.

 A vida foi acontecendo. Como sua prioridade sempre foi o bem-estar da mamãe, de seus filhos e netos, uma viagem à Itália não fez parte dos seus planos.

Papai morreu no tempo de Deus. Cedo demais para mim.

Todas essas lembranças, pouco a pouco, fizeram crescer em meu coração o desejo de realizar seu sonho.

Eram tantos os impedimentos que cheguei a pensar ser impossível.

Como para Deus tudo é possível, eu creio, no início de 2023, minha filha Arianne me deu de presente a viagem para a Itália.

Por mais que se diga ao contrário, existem coisas boas nesta vida!

Foram os dias em que estive na terra dos meus avós, muito mais emocionantes, lindos, perfeitos do que eu poderia imaginar.

Mio papa era con me.

LIC

Fonte: Maria Ana Centrone Santini

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

NECROLÓGICO

Ontem, Olga Romano Dubois, mãe de Leone, Giordano e Martina, morreu.

Filha de Enzo e Madalena Romano, era irmã de Secondo e Iolanda.

Foi casada com Francis Dubois, que já morreu também.

Mesmo aos 80 anos, estava lúcida e em perfeita sintonia com o momento presente.

"Essa maldita Dengue ainda vai me matar", disse um pouco antes de partir.

Matou mesmo.

Como disse o Riobaldo do Graciliano, "Viver é muito perigoso: sempre acaba em morte".

Rodeada por seus familiares próximos, se entregou contrariada ao Criador. 

Nos seus guardados, os filhos encontraram um envelope endereçado a eles: "Leone, Giordano e Martina, abram e leiam no meu velório, minutos antes de eu ser enterrada. Eu quero ser enterrada, viu? Se eu tiver que ser queimada, que seja só na eternidade.

Foi o que fizeram.

"Bom dia a todos. Se vocês estão escutando a leitura desta carta é porque estou morta. Não que eu quisesse, mas, como diziam minha bisavós, depois minhas avós, depois minha mãe, "para morrer basta estar vivo". Eu estou. Estava.

Não chorem nem de tristeza nem por sentimento de culpa. Se fizeram o que tinham a fazer, obrigada. Se não fizeram, deixemos pro próximo encontro. Nós, que aqui estamos, por vós esperamos.

Carreguei meu fardo o melhor que pude.

Escolhi uma profissão que me deu prazer e dinheiro, sem que eu deixasse herança nem dívidas, o que manterá meus filhos unidos.

Fiz o melhor que pude para ajudar os necessitados. Dei menos do que recebi. Foi pouco. Aqui na Terra, a coisa continua preta, apesar do funk e do futebol.    

Ganhei alguns desafetos navegando contra a corrente, e fiz poucos amigos, pois meu caráter nunca foi invejável. Meus códigos genéticos remontam ao romanos antes de Cristo.

Apesar disso, fui amada e amei de volta. O que mais alguém poderia querer da vida?

A todos, obrigada por estarem aqui hoje.

Até breve.

LIC

terça-feira, 6 de agosto de 2024

ZURI OU FELIZ DE SER O QUE SOU

Você sabia?

As girafinhas caem de uma altura de até 2 metros quando nascem!

É porque a mamãe girafa tem seus bebês em pé.

Foi assim que a Zuri nasceu num dia do mês de agosto.

Gigi, sua mãe, e Rafic, seu pai, ficaram muito felizes, pois era sua primeira filhota. Ela era linda como um amanhecer na savana.

A savana é onde as girafas vivem, lá na África, um pedaço grande, muito grande de terras.

A Zuri não se machucou depois desse tombaço porque as mamães girafas escolhem um lugar da savana com bastante capim para suavizar a caída do seu bebê.

Uns poucos minutos depois, a Zuri se levantou. Ela estava com fome e precisava ficar de pé para mamar.

Por um bom tempo, ela tomou muito leite e foi crescendo, crescendo e crescendo.

Ficou tão alta que, se morasse aqui na cidade, conseguiria olhar pela janela do segundo andar de um prédio sem sair do chão.

A Gigi e o Rafic, então, lhe ensinaram a comer o que toda girafa gosta: folhas, frutos e flores, principalmente acácias.

Acácia era o prato predileto dos seus pais. A Zuri gostou tanto que é o seu preferido também.

Num dia de domingo, eles saíram para almoçar acácias. 

No caminho, um jipe passou por eles - sempre tem gente visitando as savanas - e alguém de lá dentro disse: "A girafa é um bicho engraçado, parece que nasceu todo errado, e anda de um jeito desengonçado!".

Ao ouvir isso, a Zuri se assustou e ficou triste, mas seus pais nem ligaram, pois já tinham escutado essas coisas muitas vezes! 

"Será que é verdade"?, ela se perguntou. Na dúvida, começou a fazer um milhão de por quês: "Por quê nós temos esse pescoção, papai; por quê nossas pernas são tão longas, mamãe; por quê nós temos pintas, por quê nossa língua é azul, por quê, por quê, por quê?

Gigi e Rafic, pacientemente, responderam a todos os por quês enquanto almoçavam.

Voltando para casa, eles cruzaram novamente com aquele jipe.

A Zuri, satisfeita de acácias e dos porquês, muito feliz e orgulhosa de ser uma girafa, mostrou sua enorme língua azul pra eles.

LIC

Para Luca, Felipe, Carolina, Thomas

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

MINDFULNESS


"Você pode não acreditar, mas aconteceu. Ontem, fui tomar banho, me enxuguei e, depois que eu já estava pronta, vestida, parei e me perguntei: 'Meu Deus, eu passei sabonete?' Sem ter certeza, cheirei meu braço."

Ana Bela contou isso pra sua psicoterapeuta, assustada como sua vida estava no piloto automático.

Saiu do consultório se perguntando se não estava na hora de mudar o modo de ser, de estar na vida.

Todo dia, passeava com seu pet no mesmo horário. Só comia pão com manteiga Aviação, sem sal. Ia pro trabalho e voltava pelo mesmo trajeto. Assistia a missa sempre no mesmo banco da igreja. Repartia o cabelo da esquerda pra direita desde tanto tempo que nem se lembrava de quanto.

Sentiu que estava deixando de ser senhora absoluta na sua própria casa. A rotina a comandava. Foi tentada a romper com ela.

"Vou abrir portas e janelas pras novidades e criar novas conexões sinápticas entre meus neurônios, mudar o sistema operacional do meu cérebro", decidiu.

Dito e feito.

Experimentou e um mês sem rotina lhe gerou desconforto, incerteza e insegurança, até pro Zeca, o pet.

Foi quando lembrou que rotina era a norma na casa de seus pais, desde a hora de acordar, de tomar banho ao cair da tarde, até o cardápio das refeições em cada dia da semana.

Viviam de bom acordo com ela e a vida fluía.

Levou tudo isso pra sessão de terapia.

Saiu do consultório pensando o quanto fora impactada pelo jeito de viver da sua família.

Separando o joio do trigo, resolveu reproduzir o que fora bom.

Trocou a terapia por um aplicativo de mindfulness.

LIC