O meu olhar. O olhar do outro. O olhar profano. E o místico. Feminino e masculino. Olhares apaixonados. Outros, razão pura. Todos, restritos. Poucos se aproximam do Infinito. São nossos olhares, distintos olhares sobre o mesmo Universo. Porque "agora vemos em espelho e de maneira confusa, mas, depois, veremos face a face. Agora meu conhecimento é limitado, mas, depois, conhecerei como sou conhecido" (1Cor 13, 12).
sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
PORQUE COMEMORAMOS O ANO NOVO
domingo, 22 de dezembro de 2024
UM DIA DE CADA VEZ
@lic
Passando por aqui...
Quero que o Natal passe rapidamente e o 1° de Janeiro, ligeiro.
Para eu poder voltar a todos os outros dias.
Dizem que o Natal e o Ano Novo são as datas mais adequadas para
reforçar os laços familiares e de amizade.
Eu os contradigo, pois preciso de um ano todo, e em doses
homeopáticas, para isso.
Quem consegue robustecer o amor, a família, a amizade, o ser,
o existir, o fazer em tão poucos dias?
Sou humano, falível, instável, inseguro, frágil, incompleto.
Preciso do suportável do dia do dia. Day by day. Just enough.
Senhor, afasta de mim esse cálice!
P.S.: Continuo lendo os clássicos.
LUCAS 1, 39-45
Visitação de Maria a sua prima Isabel
Assim que Maria soube, partiu apressadamente para a montanha.
Não porque estivesse incrédula com a profecia ou incerta da Anunciação, ou duvidasse, mas porque estava feliz com a promessa e ansiosa para realizar um serviço devotamente, com o impeto que lhe vinha da alegria interior.
Onde agora, cheia de Deus, ela poderia se apressar para ir, se não para o alto?
A graça do Espírito Santo não permite nenhuma lentidão.
Santo Ambrósio
sábado, 21 de dezembro de 2024
XÔ, TENTAÇÃO!
Naquele dia...
Logo ao amanhecer, pensei ativar o celular pra ler as trivialidades matinais, bem acompanhada do cafezinho e do pão nosso de cada dia. Um vício adquirido e estimulado por meu onipresente, onisciente, onipotente celular.
A tempo, me conscientizei que não tinha nada mais que o dia de hoje. É que lembrei da oração que fizera à noite ao deitar. “Guarda-me, Senhor, em teu amor. Se eu morrer sem acordar, recebe minha alma”.
Eu não parti desta para melhor e, vivinha da silva, me ouvi dizendo for myself: “Desliga esse celular”.
Há mais de uma semana, eu estava entregue à preguiça da imobilidade. Culpa da minha mente tão humana viciada no bem-bom das distrações e superficialidades do mundo virtual e ancorada em desculpas climatológicas de um inverno atípico.
Num dia, agouravam fortes rajadas de vento. Noutros, ondas de calor inesperadas, chuvas esparsas, trovoadas ocasionais, num padrão climático ambivalente.
Tomei coragem e fui tirar a camisola. Meu abdome globoso se mostrou nu e cru. Como a coragem cresce com a ocasião, decidi caminhar no parque.
Era preciso viver com a necessidade do dia corrente. Outras viriam, mas essa era premente. Dominar a preguiça não tem preço. Lembrei da campanha priceless da Mastercard. O descontentamento comigo mesma começou a diminuir e com meu corpo envelhecente.
O porteiro da noite cumpria a última hora da sua jornada. Abriu o portão com um bom dia sonolento.
O céu ainda estava cinzento. Com passos rápidos, percorri as ruas calmas e desertas àquela hora da manhã. Eram poucas. Em quatro minutos no máximo, chegaria ao destino.
Não foi o que aconteceu.
Novamente, me ouvi falando for myself: “Uma vassoura nas tuas mãos também pode varrer teus males”.
Lembrei-me, então, das minhas necessidades realmente prementes. Meia volta volver, em dois minutos cheguei a um novo destino. Arrumei a cama, “varri” a casa com o aspirador, tirei o pó dos móveis, limpei os banheiros, troquei os lençóis e as tolhas, passei a roupa acumulada de uma semana, fiz a barra da calça que vou usar no Natal, pus o feijão de molho, finalizei um texto que estava encruado etc. etc. etc.
A “caminhada” foi longa e não eliminei nem um milímetro sequer do meu abdome. Mas sobrevivi a uma manhã inteirinha com o celular desligado. Isso não tem preço!
Liguei o celular só depois do almoço e, de imediato, recebi uma mensagem da operadora: “Dorina, o que você faria com mais internet todo mês?”. Interrompi a conversa num golpe certeiro. Xô, tentação!
LIC
sexta-feira, 20 de dezembro de 2024
ADVENTO
À ESPERA
Uma espera que cresce a cada semana e encontrará satisfação quando os sinos da Missa do Galo anunciarem que o Verbo se fez carne.
Com esse anúncio, seremos colocados diante do Menino na manjedoura.
Estendendo as mãos, Ele nos dirá o que mais tarde seus lábios de Mestre repetirão até o último suspiro na cruz: "Segue-Me".
UMA CANÇÃO DE NATAL
Incapaz de compartilhar momentos de amizade e de compreender a magia do Natal, Ebenezer Scrooge só encontra refúgio na riqueza e na solidão.
Até que, num 24 de dezembro, recebe a visita do fantasma de Jacob Marley, seu ex-sócio falecido há sete anos.
É ele quem avisa Scrooge que mais três espíritos o visitarão para lhe dar a chance de mudar seu triste fim e ser poupado de vagar a esmo depois de morto, como Marley.
Assim, o Fantasma dos Natais Passados, o Fantasma do Natal Presente e o Fantasma dos Natais Futuros levarão o protagonista a uma viagem no tempo, mostrando-lhe que a generosidade é sempre a melhor escolha.
Um dos livros mais carismáticos da literatura inglesa, uma canção de Natal, recebe o crédito por ter concebido a celebração dessa data como a entendemos hoje: uma ocasião para agradecer e ajudar o próximo.
quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
BELLA ITALIA - QUATTORDICESIMO ATTO
san gimignano e firenze
Logo cedo, estávamos na estrada novamente,
ma non prima di aver fatto colazione con stile na Tenuta
Sant’Ilario ao ar livre, diante da paisagem sedutora dos vales da Toscana. Imagens,
sons, sabores, cores, odores e toques acalentaram nosso corpo e alma.
Passamos o dia em San Gimignano, uma
cidade sobre colinas da Toscana, a sudoeste de Florença, rodeada por muralhas
do século XIII. Conhecida como a "cidade das belas
torres", teve 72 no seu período de prosperidade, algumas com 50 metros de
altura! Atualmente, apenas 13 permanecem de pé.
Na animada e movimentadíssima Piazza della
Cisterna, ponto de encontro popular, saboreamos il gelato più buono del mondo,
na Gelateria Dondoli. A cidade velha está centrada nessa Piazza triangular
repleta de tabernas, lojas, oficinas e cafeterias.
Il giorno dopo... arriviamo a
Firenze, uma cidade que respira arte, cultura, beleza e sabores, um museu a céu
aberto. Altri desideri, molti desideri realizzati.
O encanto começou quando nós nos vimos
diante da majestosa catedral de Santa Maria del Fiore, o Duomo de Firenze, uma
das maiores igrejas católicas, resultado de um trabalho que se estendeu por
seis séculos. Sua fachada é um enorme e magistral trabalho de mosaico em
mármores coloridos em estilo neogótico. Meravigliosa!
Caminhando pelas ruas do centro histórico
de Firenze, chegamos à Ponte Vecchio, sobre o rio Arno. Ela é a ponte de pedra
mais antiga da Europa, cartão-postal da cidade. Com suas casas e lojas
belíssimas de joias a preços proibitivos para mortais comuns, é também uma das
mais famosas do mundo.
Conhecemos o Davi de Michelangelo, na
Piazza della Signoria, uma das praças mais importantes de Firenze. É deslumbrante
tamanha a perfeição, mesmo sendo uma das cópias do original que está na
Galleria dell'Accademia, muito próxima da monumental Piazza del Duomo.
A Arianne e o Danilo fizeram uma visita
rápida ao Palazzo Medici Riccardi, a primeira residência da poderosa famiglia
Medici. Concluído em 1460, é um dos mais notáveis modelos de arquitetura renascentista
em Firenze.
Almoçamos novamente a bisteca fiorentina
assistindo uma manifestação popular, uma procissão acompanhada com música
religiosa, de homens e mulheres com roupas típicas, carregando escudos e
bandeiras medievais, desfilando vicino al nostro ristorante “La Grotta
Guelfa". Un altro regalo di Firenze a noi.
E, de noitinha, fomos All’Antico Vinaio, à
procura de seus sanduíches feitos na hora, com pão italiano e recheados ao
gosto do freguês, famosos pelo sabor delicioso. Já de volta à Tenuta
Sant’Ilario, esse foi nosso jantar harmonizado com um bom vinho toscano.
Ma a Firenze c'è ancora molto da vedere. Se
Dio vuole e lo permette, tornerò quando vivrò già in Italia.
Texto e pesquisa: LIC
Fonte: Maria Ana Centrone Santini
sexta-feira, 22 de novembro de 2024
BELLA ITALIA - TREDICESIMO ATTO
TOSCANA, L’ANIMA D’ITALIA
Arrivederci, Roma!
Com nostalgia, nos despedimos da “Cidade
Eterna”, berço da cultura e da civilização ocidental e cristã, centro da Igreja
Católica.
De lá, viajamos durante quatro horas ansiosos
para saborear a Toscana. Conhecida por sua arte, arquitetura, culinária, vinhos
reconhecidos mundialmente e paisagens deslumbrantes, essa região é um deleite interminável
para os cinco sentidos.
No dia 23 de maio, rodamos em direção a Gambassi
Terme, cerca de 35 quilômetros a sudoeste de Florença. Gambassi è il nome di
una famiglia della nobiltà fiorentina residente nell'area dal 1350.
Antes de chegarmos a Gambassi, fizemos pausas
para apreciar as belezas peculiares de algumas das cidades e vilarejos do Val
d’Orcia – Pienza, Montalcino, Montepulciano e Siena. Sob a chuva da Toscana, só não
conseguimos visitar Montalcino.
Em um trecho desse itinerário, paramos pra
conhecer uma das inúmeras vinícolas dessa região onde são produzidos vinhos com
uvas Trebbiano e Sangiovese. Lá, fomos presenteados por um espetáculo bucólico adornado
por ciprestes, um dos símbolos da Toscana, construções romanas de pedra, cenários
arrebatadores imortalizados em vários filmes. Lembrei da emocionante cena final
do “Gladiador”, estrelado por Russell Crowe.
Seguimos para Montepulciano,
uma cidade medieval murada, no topo de uma colina, que abriga palácios
renascentistas, igrejas antigas, belas praças e pequenos recantos escondidos.
Caminhando por suas ruas se pode admirar uma incrível vista para a paisagem
circundante coberta por vinhedos fabulosos. A Arianne e o Danilo andaram
bastante por elas, mas meus joelhos me impediram de acompanhá-los. Restiamo, Zé
Antônio e io, ammirato il magnifico paesaggio.
Fora da cidade, ci siamo imbattuti
inaspettatamente nel Tempio di San Biagio, una meravigliosa scoperta. O Templo
a esse mártir, bispo e santo católico, uma das obras-primas da arquitetura
renascentista italiana, totalmente revestido por mármore travertino, fica no
meio de um prado. San Biagio, o São Brás que invocamos nos engasgos, por sua
experiência como médico, era procurado para a cura de doenças físicas e, em
particular, de doenças da garganta.
Sobre um mirante, desfrutamos de um
horizonte infinito, quase surreal de tão deslumbrante, sobre o Val d’Orcia.
Ainda sob a chuva da Toscana, chegamos em Pienza,
na província de Siena. Sua história está intrinsecamente ligada ao papa Pio II (pontífice
de 1458 a 1464) que, no pequeno burgo de Corsignano onde nascera, mandou
construir essa cidade planejada segundo os moldes da Renascença. De rara
beleza, Pienza (“cidade de Pio”), em 1996, foi declarada Patrimônio da
Humanidade pela Unesco como “obra-prima do gênio criativo humano”.
Já em Siena, sob ameaça de um negro céu
tempestuoso, pouco pudemos ver dessa cidade montanhosa da Toscana repleta de
construções medievais de tijolos. Apenas passamos pela Torre del Mangia, o mirante
com 102 metros de altura, pelo Duomo e fomos conhecer a praça principal, a
Piazza del Campo, em forma de meia-lua, onde se encontra o Palazzo Pubblico
(prefeitura) do século XIV e seu famoso Campanile (campanário).
Guidando lungo la strada provinciale 4
Volterrana, siamo andati a Gambassi Terme. Tínhamos reserva para o jantar no
restaurante do hotel onde ficamos hospedados, a Tenuta Sant’Ilario, nas
proximidades di questa bela cittadina minuscola, com três ruas, quatro “cu”
largo, como dizia minha mãe.
A Tenuta Sant’Ilario nasceu da restauração
de uma antiga torre fortificada do século XII. É uma hospedagem rural, do
agriturismo que propõe aos viajantes estadia em locais imersos em vinhedos e olivais,
e de administração familiar. Todas as suas acomodações são decoradas em estilo
toscano, com pisos de madeira, vigas e paredes de pedra expostas, mas também com
TV de tela plana, ar-condicionado, geladeira e wi-fi gratuito.
Abbiamo concluso la giornata in grande
stile. Jantamos na Trattoria Toscana Sant'Ilario, onde vivemos momentos
prazerosos num ambiente elegante, espaçoso e confortável, enquadrado em paredes
de vidro.
È stato lì che abbiamo finalmente assaggiato
la gustosa bistecca alla fiorentina (lombo de um novilho geralmente da raça bovina
chianina). Temperada somente com sal, pimenta-do-reino moída na hora e um
excelente azeite de oliva extravirgem, é preparada na brasa, por vezes, com lenha
“temperada” com casca de laranja e limão. Uma iguaria dos deuses.
Il giorno successivo a quella notte è per
il prossimo capitolo.
Texto e pesquisa: LIC
Fonte: Maria Ana Centrone Santini
domingo, 10 de novembro de 2024
APRENDENDO A VIVER
@lic
Passando por aqui...
"O que você pensa quando o sol se põe?" Em uma cena do filme Che ora è?, Marcello Mastroianni faz essa pergunta a seu filho. Nesse exato momento, o relógio da igreja badalou a Hora do Angelus. 18h. Anoitecia. Congelei a tela. Desviei meu olhar para o horizonte e, por instantes, me vi diante da brevidade da vida. Mais um dia estava chegando ao fim. Lembrei de Sêneca. "A maior parte da vida se passa agindo mal, uma grande parte sem fazer nada, toda a vida se passa fazendo outra coisa que não o que seria necessário fazer." Me lembrei da louça do almoço e da cama desarrumada. Me debrucei sobre a pia, estiquei os lençóis, telefonei pros meus pais.
Os clássicos me despertam.
Leia os clássicos. 📚
sexta-feira, 8 de novembro de 2024
BELLA ITALIA - DODICESIMO ATTO
NELLA CAPITALE
Primo
giorno
Chegamos em Roma à noitinha guiados pelo
Google Maps para encontrar nosso hotel.
Paramos diante do grande portão de entrada
da Villa Angelina, uma morada do século XIX que, em 1921, se tornou a Casa
Geral da Ordem da Companhia de Maria Nossa Senhora, fundada na França em 1607.
Atualmente é uma Casa per Ferie, com suítes
espaçosas, equipadas de todos os confortos modernos, terraço panorâmico e um
parque com vários cantos de relaxamento cercados por árvores e jardins.
Villa Angelina fica em Trieste, um distrito
elegante de Roma, na Via Nomentana, a poucos passos da estação de metrô
Sant'Agnese-Annibaliano, em frente a um ponto de ônibus que conecta toda a cidade.
Pela quase impossibilidade de estacionar o
carro no entorno dos pontos turísticos de Roma, aproveitamos a localização
estratégica desse hotel para viajar de metrô, de ônibus e a pé. Isso nos
permitiu mergulhar na vida cotidiana do povo italiano.
Como a recepção oferece serviço 24 horas,
fomos recebidos por uma das religiosas dessa ordem católica, uma chinesa criada
no Brasil. No nosso país há 70 anos, a Ordem é mantenedora do Colégio da
Companhia de Maria, existente no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Il giorno dopo, siamo andati in Vaticano, ai Giardini, ai Musei e alla Cappella Sistina.
A visita aos Jardins do Vaticano é sempre guiada, não se permite o passeio livre. Os Jardins ocupam mais da metade desse que é o menor país do mundo em superfície territorial e população.
São jardins encantadores, surpreendentes, com uma paisagem complexa de bosques, monumentos medievais, esculturas, extensões florais, muitos com a “marca” de algum pontífice. Por exemplo, o jardim do Papa João XXIII é um roseiral com espécies diversas de rosas.
Percorremos seus 23 hectares num micro-ônibus aberto, que permitiu admirar a surpreendente cúpula da Basílica de São Pedro, o que me emocionou muito.
A Basílica é o único caso no mundo cristão de uma construção sagrada nascida diretamente sobre a sepultura de um mártir. Perpendicular ao seu centro, lá no subsolo, está o túmulo de Pedro, um pescador pobre, humilde, ignorante que deixou as redes, seguiu Jesus e, depois de negá-lo por três vezes, recebeu dele a missão de “apascentar suas ovelhas".
Mais uma vez, me questionei se o esplendor e a riqueza que vi no Vaticano condizem com quem foi Jesus, com quem foi Pedro. Esse foi um dos motivos que me fez optar pela Igreja protestante.
A visita completa inclui os Museus do Vaticano, que expõem extensas e valiosas coleções de arte e arqueologia doadas ao longo dos séculos à Igreja Católica Romana. Diante da enormidade de objetos que preenchem suas 54 galerias, optei por explorar as nove salas do Museu Gregoriano Egípcio, com suas múmias, sarcófagos, relevos, inscrições de palácios assírios e o famoso Livro dos Mortos.
De lá, percorremos um longo corredor, tão longo que precisei parar por três vezes para descansar. Suas paredes laterais estão cobertas com “armários” que guardam presentes valiosos, alguns expostos em nichos fechados de vidro, dados aos papas por diversas personalidades e países.
Por esse caminho, muitos, mas muitos e muitos turistas nos acompanhavam em direção ao mesmo destino: a Capela Sistina.
Como ninguém é de ferro, fizemos uma parada estratégica. Foi então que, indignada com a atitude grosseira della donna che presidiava la toilette nei confronti di una turista, il mio sangue italiano ribolliva.
Sem pensar duas vezes, eu disse alto e mais ou menos em italiano, com sotaque brasileiro: “Signora, lei lavora qui per noi. Altrimenti non avresti un lavoro. Capito? Quindi si calmi. Con molta calma.”
La signora mi guardò, ma non rispose. Ainda bem, porque eu não saberia continuar o “diálogo”, mas lavei minha alma.
Num grupo limitado de pessoas, entramos na Capela Sistina, uma das capelas do Palácio Apostólico da Cidade do Vaticano, residência oficial do Papa, e sede do conclave no qual o Colégio dos Cardeais escolhe um novo pontífice.
Em poucos minutos, em silêncio e de pé, admiramos fascinados os belíssimos afrescos que cobrem suas paredes, em particular os da abóboda e o da parede atrás do altar com o Juízo Final, duas obras de Michelangelo pintadas entre 1508 e 1512.
Por fim, recebemos a benção de um frei depois da oração que ele fez em italiano e de rezarmos o Pai Nosso e a Ave Maria.
Abbiamo concluso la giornata mangiando in uno snack bar.
Secondo
giorno
O programa desse dia incluía uma visita guiada às ruínas dos três sítios arqueológicos mais visitados em Roma: o Fórum Romano, antigo centro da vida pública, política, econômica, cultural, social e religiosa, onde o culto aos deuses acontecia; o Monte Palatino, área residencial dos imperadores, a mais central das sete colinas de Roma e uma das mais antigas partes da cidade, a 40 metros acima do Fórum Romano; e o Coliseu, construído entre o ano 72 d.C. e 80 d.C. no governo de Tito.
In questi spazi, santuari dell'antica Roma e dell'Impero Romano, a volte mi sembrava di essere in un sogno.
No
Coliseu, até chorei lembrando a infinidade de seres humanos martirizados ali e
o tanto de sangue derramado por poder, orgulho e prepotência nesse enorme
anfiteatro romano, com lugares para cerca de 60 mil espectadores.
Construído para divertir os habitantes de Roma, era parte da estratégia do Panem et Circenses dos governantes romanos para evitar revoltas e manter a população contente e passiva.
Abbiamo pranzato tardi in un locale della zona.
Terzo
giorno
Roma è un museo a cielo aperto che merita di essere visto nella sua interezza.
Nesse dia, fizemos um passeio num ônibus Hop-on Hop-off por toda a cidade, selecionando os lugares onde desceríamos.
O primeiro foi a Villa Borghese, um parque enorme que oferece programas culturais, uma galeria com importantes obras de arte e opções gastronômicas. Se Dio vuole, tornerò a visitarla perché richiede più di un giorno a piedi.
Descemos na Piazza di Spagna, um dos lugares mais concorridos de Roma, cuja escadaria é uma de suas áreas mais especiais, um local de encontro para os cidadãos locais e de merecido descanso para os turistas.
Caminhando, chegamos na Fontana di Trevi onde, apesar da enorme quantidade de turistas, consegui espaço para sentar em suas muradas, tirar uma foto, lavar o rosto e as mãos em suas águas e jogar uma moeda embalada com meu desejo profundo de voltar.
Andando a esmo, demos “de cara” com o Panteão, que fica no coração da cidade, na praça da Rotonda, e é um dos maiores símbolos do grande Império Romano. Impactante. Quase desmaiei de emoção. Como estava abarrotado de turistas, desistimos de conhecer seu interior.
Voltamos ao ônibus Hop-on Hop-off e, de passagem, vimos mais monumentos, mais igrejas, mais ruínas, inclusive o Castelo de Santo Ângelo, que hoje é um museu. Nas margens do Rio Tibre, a poucos passos do Vaticano, il Castello di Sant'Angelo é um edifício com quase dois milênios de paz e guerra em Roma.
Conta-se que, em 590, enquanto uma grande epidemia de peste devastava a cidade, o Papa Gregório I teve uma visão do Arcanjo São Miguel no topo do castelo, anunciando o fim da epidemia. Como lembrança da aparição, o edifício foi coroado pela estátua de um anjo.
Em homenagem a quem é chamado pelos italianos de "Pai da Pátria", descemos no Monumento a Vittorio Emanuele II. Vittorio, quando rei da Sardenha (1849-1861), unificou a Península Itálica num único estado e reinou até sua morte em 1878.
Stanchi per la camminata, siamo tornati all'oasi di Villa Angelina.
Domani
si parte per la Toscana.
Addio, Roma.
Texto
e pesquisa: LIC
Fonte:
Maria Ana Centrone Santini
segunda-feira, 4 de novembro de 2024
BELLA ITALIA - UNDICESIMO ATTO
A REGGIA DI CASERTA
Era uma vez um rei chamado Carlos Sebastián de Borbón y Farnesio.
Ele era moreno, com um rosto magro e um nariz saliente.
Reinou como Carlos III na Espanha, como Carlos VII em Nápoles e como Carlos V na Sicília.
Historiadores contam que Carlos de Borbón foi um monarca de grandes feitos, alguns bem sucedidos, outros nem tanto.
Naquele 20 de maio, saindo de Nápoles em direção a Roma, nós visitamos um de seus ambiciosos projetos: a Reggia di Caserta, que Carlos não viu terminado e onde jamais morou, pois teve que partir de Nápoles para ocupar o trono espanhol por morte do seu irmão, Fernando VI.
Caserta è un comune italiano, capoluogo dell'omonima provincia in Campania, a circa 36 chilometri da Napoli.
Reggia di Caserta (Palácio Real de Caserta) é uma impressionante obra-prima arquitetônica do século XVIII, um complexo monumental que inclui o Palácio Real (com 47.000 metros quadrados), o Parque Real, o Bosque de São Silvestre e o Aqueduto Carolino.
Carlos de Borbón pensou construir um palácio que competisse com outros palácios reais europeus, como o de Versalhes, mas principalmente como um centro administrativo, político e cortesão, distanciando a corte da agitação de Nápoles, com todos os progressos urbanísticos da época, combinando beleza e funcionalidade, e que simbolizasse o poder real.
Por mais que eu escreva sobre essa maior residência real do mundo, declarada patrimônio da humanidade pela Unesco, não conseguirei esgotar suas maravilhas.
Reggia di Caserta é uma paragem imperdível para quem visita a Itália, onde história e arte se encontram num ambiente majestoso.
Após a II Guerra Mundial, o Palácio foi restaurado e aberto ao público como um museu vivo (todo mobiliado e decorado) autônomo do Ministério da Cultura da Itália que recebe visitantes o ano inteiro, inclusive de estudantes italianos por sua importância cultural e histórica.
Fizemos um longo passeio guiado de quadriciclo, por mais de duas horas, pelo Parque Real e seus jardins, que ficam na parte de trás do Palácio.
São mais de 123 hectares, divididos em estilo italiano e inglês, com fontes, esculturas e uma espetacular cascata que se ergue no final da longa avenida principal.
Passamos pela Floresta Antiga (Bosco Vecchio), onde se praticava a caça; pela Castelluccia, um lugar de jogos e diversão para os pequenos príncipes; pelo Jardim Inglês que tem estátuas trazidas das escavações de Pompeia e inúmeras espécies exóticas de todas as partes do mundo. Do Líbano, trouxeram um cedro que precisa de quatro pessoas para ser “abraçado”. Do Brasil, uma araucária e coqueiros.
O Aqueduto Carolino, com 38 quilômetros, na parte final do Parque, servia e ainda serve para abastecer os jogos de água della Reggia e de todo o Palácio, como também para fornecer água para o território do entorno.
Danilo e Arianne hanno accompagnato un gruppo di studenti e il loro insegnante in una visita guidata all'interno del Palazzo, que tem 40 metros de altura, cinco andares, mais de mil ambientes, inclusive uma capela do tamanho de uma igreja, 1742 janelas e 34 escadas, uma delas com 117 degraus.
Santo cielo! Non sono riuscito ad arrampicarmi su nessuno di essi.
Così Zé Antonio e io siamo rimasti al piano terra ad aspettarli. Mi sono immaginata nei panni di Sissi l'imperatrice, mentre scendevo quelle scale.
À tardezinha, pegamos a estrada para Roma a 199 km de distância.
Texto e pesquisa: LIC
Fonte: Maria Ana Centrone Santini
domingo, 27 de outubro de 2024
BELLA ITALIA - DECIMO ATTO
Costiera Amalfitana
Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras. Pois isso é a pura verdade em se tratando da Costiera Amalfitana.
Este capítulo, portanto, terá mais imagens que texto. Ao longo do passeio, aproveitamos os mirantes para registrar com muitas fotos o que admiramos nesse dia.
Maravilhoso, impressionante, diferente, surreal, bucólico, impactante é como, insuficientemente, consigo traduzir a beleza dessa área de 50 km às margens do Mar Tirreno, ao sul da Itália, na região da Campânia.
Considerado patrimônio da Unesco, esse pequeno trecho nos presenteou com cenários naturais deslumbrantes adornados pelo mar de cores azuladas, enormes montanhas, pequenos vilarejos cheios de história e excelente gastronomia!
Percorremos a Costa de carro, pelas estradas estreitas, tortuosas e de mão dupla à beira das encostas e na companhia dei nostri già noti piloti italiani impazziti. Apesar do stress que isso provocou, não foi capaz de abalar minha alegria, minha felicidade, meu encantamento com esse trecho do nosso roteiro.
Não descemos em Amalfi por dois motivos: meu cansaço, que me impediu, por algumas vezes, de subir, descer escadarias e ruas íngremes, e pela dificuldade de encontrar lugar para estacionar o carro.
Abbiamo visitato a piedi Positano e Sorrento, due delle tante belle città di questo pezzo di terra, montagna e mare benedetto da Dio.
Almoçamos em Positano e circolamo per le sue strade piene di negozi, ristoranti e gelaterie, entre muita, muita gente que disputava com muitos, muitos carros e ônibus os mesmos espaços geográficos. Nas ruas de Positano, dois corpos podem ocupar o mesmo lugar do espaço, contrariando uma das leis de Newton.
Sorrento é encantadora e charmosa, tanto que foi imortalizada nas obras de grandes artistas, como Byron, Goethe e Wagner. Como é uma cidade mais plana, andamos bem mais por lá. Até pudemos descansar e, sentados, admirar a praia que já víamos mais próxima.
O Zé Antonio visitou uma plantação dos limões da costa sorrentino-amalfitana com que se faz o famoso limoncello, um delicioso licor doce produzido pela infusão das cascas desse fruto em álcool.
E, para coroar com requinte esse passeio, ao ver aquela Ferrari vermelha no estacionamento de um hotel por onde passávamos, não me contive. Encostei nela e tirei uma foto: “Sono a Sorrento e ho una Ferrari”. Quale gloria!
No final do dia, retornamos a Nápoles. Era la nostra ultima volta lì e abbiamo concluso con una vera pizza napoletana.
Texto e pesquisa: LIC
Fonte: Maria Ana Centrone Santini
terça-feira, 22 de outubro de 2024
O COLECIONADOR DE OSSOS
Acordei preocupada porque fui dormir preocupada por causa do filme que assisti ontem à noite.
Era um drama de suspense em que dois policiais investigam os crimes de um serial killer. O assassino
sequestra e mata suas vítimas com requintes de crueldade.
Depois do terceiro assassinato, desliguei a televisão.
Por pior que seja o filme, vou até o fim, mas meu hipotálamo foi ativado, ativou minha glândula pituitária que desencadeou a liberação de adrenalina, noradrenalina e cortisol.
Resumindo, comecei a ficar com medo.
Antes de ir pra cama, enviei mensagem pra meus filhos. Como diz a Mafalda do Quino, muitos desnorteados estão despertos à noite, até na Cochinchina.
Precisava me certificar que todos estavam a salvo. Um deles não me respondeu nem deu confirmação de leitura.
Tentei controlar aquela descarga de hormônios.
Tranquei as janelas e portas da entrada social e a de serviço a sete chaves.
Acendi todas as luzes do meu apartamento (lembrei de 📽 "Um clarão
nas trevas"), tomei banho de olho na porta do banheiro que deixei escancarada
(lembrei de 📽 "Psicose"), fui até a cozinha ver se as bocas do fogão
estavam apagadas, aproveitei pra comer uma banana, tomei um copo d’água. Dizem
que melhora o sono e contribui para a homeostase corporal.
Nisso, o relógio da igreja badalou 12 vezes.
Como o dever sempre bate à minha porta,
fui dormir. Tinha agendado uma reunião online para 8h da manhã do dia que
estava prestes a começar.
Acordei às 5h30. Ao abrir meu celular, uma
mensagem saltou aos meus olhos. “Hoje é uma página ainda em branco.”
“Sim, concordo. Mas já tem compromisso ocupando
as linhas das 8h às 9h30.”, pensei. “O
restante da página vou escrever com...”
Eu ainda não sabia, pois dependia da
mensagem que eu esperava daquele filho que nem dera confirmação de leitura – “Se
Deus é Pai, ele está bem!” – e do resultado da reunião.
Fui caminhar no parque, sem celular, pra baixar
a ansiedade. Voltei pra casa depois de uma hora de caminhada moderada, com boa
dose de endorfina.
Abri o celular. Meu filho disse que estava
tudo bem, fora dormir cedo. A reunião fora adiada.
A página daquele dia estava totalmente em
branco! Por um instante, fiquei sem saber o que “escrever”.
Foi quando o filme, aquele filme de ontem
à noite, começou a me atrair. Desliguei o celular, liguei minha Smart TV.
A maldade me paralisa, mas personalidades
"nefastas" atraem minha curiosidade. Por que algumas pessoas têm
prazer em ser cruéis? Queria respostas.
O serial killer matou com requintes sádicos mais três pessoas, mas seu instinto assassino foi frustrado na última tentativa.
E que decepção, que resposta reles o escritor (o filme foi baseado num romance) deu pra tanta maldade!
Os assassinatos eram apenas um plano de vingança contra um dos dois
investigadores.
Meia página do meu dia fora mal “escrita”.
Por isso, digo e repito, leia os clássicos!
Pelo menos, o assassinato perpetrado por Raskólnikov, em Crime e Castigo, tinha motivações filosóficas, o que, de maneira nenhuma, o justifica.
Mas nos faz refletir sobre as sombras da alma, sobretudo na possibilidade de redenção humana.
Na meia página restante desse dia, "escrevi” a
rotina da minha tranquila, estável e imutável vida.
LIC
sábado, 19 de outubro de 2024
3 SEGUNDOS
@lic
Passando por aqui...
Existe uma regra simples e clara para acabar com a procrastinação. É a regra dos 3 segundos. A partir do momento que o procrastinador decide fazer algo, em 3 segundos ele deve agir. Após essa ínfima fração de tempo, a tentação do "faço depois" pode ser irresistível.
Minhas sábias e gentis avós assim traduziam essa regra: "Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje".
Então, quando o despertador ⏰ tocar, deixe de enrolação. Levante!
Sobrando um tempinho (há de sobrar), leia os clássicos. 📚
sexta-feira, 18 de outubro de 2024
BELLA ITALIA - NONO ATTO
quinta-feira, 17 de outubro de 2024
BELLA ITALIA - OTTAVO ATTO
A NAPOLI
Chegamos em Nápoles no dia 16 de maio, depois de uma viagem longa de 300 quilômetros.
Cruzamos Basilicata, uma região da Itália meridional que faz fronteira a oeste com a Campania, onde está Nápoles, no sul da Itália.
Nossa chegada a Nápoles foi, mais ou menos, como chegar a São Paulo pela Marginal Tietê às 5h30 da tarde. Se, de maneira geral, i piloti italiani sono spericolati, audaci, temerari, indisciplinati, os de Nápoles são tudo isso ao cubo. O trânsito é caótico.
Nápoles é a terceira cidade mais populosa da Itália, atrás de Roma e Milão. Está cercada por montanhas e fica ao lado do famoso Monte Vesúvio. Banhada pelo mar Tirreno, Nápoles tem um intenso movimento portuário.
Me pareceu muito diferente das cidades já visitadas, recheadas de cenários antigos, retratos de séculos de histórias, algumas também cosmopolitas. Nápoles me fez lembrar da porção antiga do centro de São Paulo, a região do Brás onde minha avó morou e do Mercado Municipal.
Nosso hotel estava numa zona residencial, mais ou menos central, com muitos prédios, quase todos do mesmo tamanho, uns tão próximos dos outros que nosso horizonte era as janelas dos prédios vizinhos. As ruas sem saída, estreitas, de mão dupla, tinham carros estacionados dos dois lados das calçadas.
À noite, fomos saborear a famosa pizza napolitana na “Pizzaria di Napoli”, uma das melhores e mais antigas da cidade. E conhecemos o centro da cidade – sujo, escuro, pichado, mal cuidado, cheio de becos, desprotegido. Nápoles não é uma cidade 100% tranquila em relação a assaltos e furtos em vias públicas.
Mas seu centro histórico foi declarado patrimônio mundial pela Unesco. Coisas deste mundo!
Foi em Nápoles que também conhecemos a rusticidade do italiano, de forma visível, tangível e palpável. De maneira geral, é preciso tato e diplomacia no trato com o napolitano.
Siamo arrivati a Capri il giorno dopo, grazie a Dio. Isso porque saímos ilesos ao passar de táxi pela “encruzilhada da morte”, uma esquina do nosso hotel que é um entroncamento de, pelo menos, seis ruas de mão dupla que desembocam numa praça. Sem semáforo, sem preferencial, só rezando um Pai Nosso para se salvar.
A caminho do porto, passamos pela Spaccanapoli, uma rua comprida, reta e estreita que atravessa o antigo centro histórico da cidade de Nápoles, limitada para o tráfego de carros e não aconselhável para turistas. Seu nome significa "Divisor de Nápoles", pois parece dividir aquela parte da cidade.
Embarcamos no ferryboat que nos levaria a Capri, uma grande balsa com vários assentos, como um ônibus aquático, ocupado por gente de todas as tribos, raças e nações.
Chegando nessa belíssima ilha mediterrânea montanhosa, de origem calcária, tínhamos um barco reservado à nossa espera. Por quatro horas, visitamos várias ilhas e grutas da costa, num belíssimo passeio por um mar de água azul turquesa. Recordei de cenas de vários filmes.
Optamos por não fazer o passeio in funicolare em direção ao Monte Solaro, pois poderíamos admirar os cenários espetaculares que se vê desse ponto mais alto da ilha no passeio de carro que faríamos pela Costa Amalfitana nos próximos dias.
Abbiamo pranzato sul lungomare, passeggiato lungo il molo principale, preso un gelatino, comprei uma echarpe linda pra mim, aguardando a hora do ferryboat.
À tardezinha, embarcamos de volta a Nápoles. A chegada ao porto me lembrou a saída de torcedores de um jogo de futebol no Estádio do Pacaembu: gente, muita gente gritando, oferecendo moto, táxi, van.
Escolhemos ir de van. Era um pouco alta e tive dificuldade pra entrar. Horror dos horrores! Tive a impressão que, se eu demorasse mais dois minutos pra levantar a perna e subir, o motorista ia me pegar e jogar lá dentro. Apesar de sua estranheza, rudeza, seu mal humor e mudez, chegamos sãos e salvos ao hotel. Gloria a Dio, grazia, Signore, che ci ha riportato qui!
Domani andiamo a Pompei.
Texto e pesquisa: LIC
Fonte: Maria Ana Centrone Santini
domingo, 13 de outubro de 2024
AJUSTES
@lic
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Algo sobre o que ninguém pode contestar é que o mundo precisa de ajustes. Por exemplo, ainda não caiu em desuso matar gente. E não é de agora. Caim matou Abel lá no princípio. Desde então, são irmãos que matam irmãos, já que há um único Pai Nosso para gregos e troianos. Guerras e mais guerras têm preenchido nossos dias. Apesar de períodos ocasionais de relativa paz, dizem que alusivos a 99,99% do tempo da existência do Planeta, as guerras têm sido uma constante entre nós.
Quer saber o porquê?
Leia os clássicos.
quarta-feira, 9 de outubro de 2024
EXPECTATIVA
@lic
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O Sêneca disse que a expectativa é o maior impedimento para se viver. Eu acrescento, sem nenhuma pretensão filosófica, que "expectativa é igual paçoca, do nada esfarela tudo". Minhas sábias e gentis avós completariam afirmando que é contar com o ovo que está dentro da galinha.
Não sabemos o que o amanhã nos reserva. 🤷🏻♀️
Diante dessa enorme incerteza, só nos resta o just enough, day by day.
E ler os clássicos. 📚
terça-feira, 8 de outubro de 2024
BELLA ITALIA - SETIMO ATTO
DA BARI A POLIGNANO A MARE
Depois de quatro horas de viagem, em estradas margeando a costa litorânea, chegamos a Bari. O percurso de aproximadamente 385 quilômetros foi cansativo, principalmente porque convivemos novamente con la spericolatezza degli automobilisti italiani. Eles dirigem como se não tivessem amanhã. Molto stressante.
Bari é uma comune da província de Bari, na região da Apuglia.
Que emoção imensa ao chegar lá. Tudo me pareceu familiar, pois Bari tem um espaço reservado no meu coração desde quando criança eu escutava as histórias que meu pai contava dessa terra distante.
Nós nos hospedamos em um Airbnb de frente para o Adriático. A cor desse mar, de um azul intenso, me pareceu único, indescritível!
Bari é bem fácil de ser visitada a pé. Foi o que fizemos durante todo aquele único dia nessa linda cidade.
Conhecemos a “Strada delle Orecchiette”, uma rua famosa onde as mulheres baresas produzem artesanalmente a típica massa orecchiette, que tem esse nome porque lembra uma pequena orelha. Abbiamo immediatamente aggiunto questa pasta e questa focaccia al nostro menu, símbolos gastronômicos de Bari.
Almoçamos orecchiette ao sugo, proprio come i pranzi della domenica a casa di mia nonna Mariana. Lembro que, já nas proximidades da sua casa, da rua, sentíamos o perfume do molho que ela apurava desde cedo.
Em Bari, a “Conserva Centrone”, cujos produtos em conserva – azeitona, beringela, tomate seco, pimentas, pepinos, picles – são conhecidos até no Brasil, pertence a parentes distantes do meu pai. Infelizmente, não conseguimos manter contato com eles, pois a fábrica estava fechada no dia que fomos até lá.
Encerramos nossa estada no agito da noite barese, nel centro storico, na Piazza del Ferrarese, próxima ao mar, entre bares, restaurantes locais, molte persone, molti giovani, luz e som.
No dia seguinte cedo, seguimos para Polignano a Mare.
Polignano a Mare fica no calcanhar da Itália, a 36 quilômetros ao sul de Bari. Seu núcleo mais antigo fica sobre um complexo rochoso voltado para o mar Adriático.
No decorrer da nossa viagem, foi surpreendente observar a diversificada geografia física e formação geológica da Itália: uma mistura de relevo montanhoso (predominante), belíssimas regiões litorâneas, lagos, falésias e vastas planícies campesinas, como da charmosa região da Toscana.
Muitas emoções e marcantes experiências sensoriais, que me levaram às lágrimas diversas vezes, estavam por vir.
Em Polignano a Mare, onde meus avós paternos nasceram, ho sentito fortemente la presenza di mio padre, per la passione con cui parlava sempre di questa terra che, purtroppo, non ha mai conosciuto.
Ao olhar o mar de Polignano, vi os olhos do meu neto, o Lucca, naquele azul profundo, numa tonalidade inconfundível, resultado do encontro do tom esmeralda do Mar Adriático com o azul turquesa do mar Jônico.
Nos quatro dias em que ficamos por lá, pudemos presenciar alguns hábitos, costumes, tradições ainda caras aos italianos, como a celebração religiosa da Primeira Eucaristia, na igreja de San Vito, mártir, padroeiro de Polignano. A Igreja Católica Apostólica Romana tem sido a religião dominante na Itália há mais de 1.500 anos.
Em uma das praças, há uma imagem desse santo, provavelmente nascido na Sicília, cuja história está envolvida pela lenda. Filho de um pagão obstinado, aos 7 anos de idade era um cristão convicto e realizava prodígios de curas. Por sua fé, foi martirizado e morto em 15 de junho de 303 d. C. com apenas 15 anos.
Num outro momento, em uma pequena ruela, nos deparamos com uma senhorinha toda de preto. Ela nos chamou e contou em dialeto, que sua filha foi traduzindo, “che suo marito di oltre 60 anni è morto una settimana fa” e que o Zé Antônio lembrava muito ele. Pediu para abraçá-lo e beijá-lo. Nem é preciso dizer que a choradeira foi geral.
Na "Piazza Domenico Modugno", mio padre era di nuovo presente. Papai amava e escutava chorando esse cantor, um polignanesi, que ganhou o mundo cantando “Volare”, uma das mais conhecidas músicas italianas no mundo, lançada em 1958.
Além de explorarmos ao máximo Polignano a Mare nesses dias, visitamos algumas cidades da costa e do interior da Puglia, recheadas de ruínas greco-romanas e povoados milenares: Monopoli, Capitolo, Lecce, no salto da bota, Ostuni, linda, com sítios arqueológicos, muitos ainda a serem explorados, e Alberobello.
Foi com surpresa e alegria que encontrei em Ostuni, na Piazza Sant’Oronzo, a imagem de santo Oronzo (bispo), padroeiro da cidade, origine del nome del mio caro papà: Giuseppe Oronzo Centrone.
Em Alberobello, encontramos novamente San Vito, numa capela antiquíssima que primeiro recebeu sua imagem como santo protetor. Lá, conhecemos, e quase nos hospedamos em um dos “trulli” (plural de “trullo” gr. = “cúpula”), pequenas casas circulares com tetos e cúpulas cônicas, feitas em calcário, sem uso de qualquer argamassa, cimento ou rejunte, apenas pedras. Suas portas e paredes costumam ser brancas, decoradas com símbolos religiosos. Há várias explicações para a origem dessas casas que, atualmente, servem como moradia, hotel, lojas e restaurantes.
Por fim, já a caminho de Napoli, visitamos Matera, considerada uma das mais antigas cidades habitadas, com assentamentos humanos de mais de 10.000 anos atrás e organização social. Matera é famosa por seu centro histórico, conhecido como Sassi di Matera, Patrimônio Mundial da Unesco desde 1993. Os “sassi” (do latim “saxum“ = “colina” ou “grande pedra“) são cavernas esculpidas nas colinas rochosas, construídas umas sobre as outras, unidas por ruas sinuosas e escadarias íngremes, habitadas desde a Antiguidade. A Arianne e o Danilo visitaram uma igreja em uma dessas cavernas decorada com afrescos pagãos. Durante as duas Grandes Guerras, muitas famílias se refugiaram ali, o que confirmamos nas fotos penduradas nas paredes do restaurante em que almoçamos, adaptado em uma dessas sassi.
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Texto e pesquisa: LIC
Fonte: Maria Ana Centrone Santini
sábado, 5 de outubro de 2024
MEDITAÇÕES
@lic
Passando por aqui...
Existem dias para as coisas mais improváveis, como o Dia do Tomate. 🍅
Mas, segundo o Marcus Aurelius (escrevi em latim porque ele tem homônimo até no futebol verde amarelo), hoje é um dia especial. "Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida", da minha vida, da nossa vida sobre este Planeta. Então, celebre-o com refeições saudáveis, convivências saudáveis, papos saudáveis, pensamentos saudáveis, atos saudáveis.
E leia os clássicos. 📚