sábado, 21 de dezembro de 2024

XÔ, TENTAÇÃO!

 

Naquele dia...

Logo ao amanhecer, pensei ativar o celular pra ler as trivialidades matinais, bem acompanhada do cafezinho e do pão nosso de cada dia. Um vício adquirido e estimulado por meu onipresente, onisciente, onipotente celular. 

A tempo, me conscientizei que não tinha nada mais que o dia de hoje. É que lembrei da oração que fizera à noite ao deitar. “Guarda-me, Senhor, em teu amor. Se eu morrer sem acordar, recebe minha alma”. 

Eu não parti desta para melhor e, vivinha da silva, me ouvi dizendo for myself: “Desliga esse celular”.

Há mais de uma semana, eu estava entregue à preguiça da imobilidade. Culpa da minha mente tão humana viciada no bem-bom das distrações e superficialidades do mundo virtual e ancorada em desculpas climatológicas de um inverno atípico. 

Num dia, agouravam fortes rajadas de vento. Noutros, ondas de calor inesperadas, chuvas esparsas, trovoadas ocasionais, num padrão climático ambivalente. 

Tomei coragem e fui tirar a camisola. Meu abdome globoso se mostrou nu e cru. Como a coragem cresce com a ocasião, decidi caminhar no parque.

Era preciso viver com a necessidade do dia corrente. Outras viriam, mas essa era premente. Dominar a preguiça não tem preço. Lembrei da campanha priceless da Mastercard. O descontentamento comigo mesma começou a diminuir e com meu corpo envelhecente.

O porteiro da noite cumpria a última hora da sua jornada. Abriu o portão com um bom dia sonolento. 

O céu ainda estava cinzento. Com passos rápidos, percorri as ruas calmas e desertas àquela hora da manhã. Eram poucas. Em quatro minutos no máximo, chegaria ao destino.

Não foi o que aconteceu. 

Novamente, me ouvi falando for myself: “Uma vassoura nas tuas mãos também pode varrer teus males”. 

Lembrei-me, então, das minhas necessidades realmente prementes. Meia volta volver, em dois minutos cheguei a um novo destino. Arrumei a cama, “varri” a casa com o aspirador, tirei o pó dos móveis, limpei os banheiros, troquei os lençóis e as tolhas, passei a roupa acumulada de uma semana, fiz a barra da calça que vou usar no Natal, pus o feijão de molho, finalizei um texto que estava encruado etc. etc. etc.

A “caminhada” foi longa e não eliminei nem um milímetro sequer do meu abdome. Mas sobrevivi a uma manhã inteirinha com o celular desligado. Isso não tem preço!

Liguei o celular só depois do almoço e, de imediato, recebi uma mensagem da operadora: “Dorina, o que você faria com mais internet todo mês?”. Interrompi a conversa num golpe certeiro. Xô, tentação!

LIC

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