Eu guardo a lembrança vívida daquele momento caloroso e agradável.
Está congelado no tempo, tendo se desdobrado silenciosamente em inúmeros episódios ao longo da nossa convivência.
Era o dia do meu aniversário. Eu completava 15 anos.
Antes dos convidados chegarem, meu pai me chamou em seu escritório.
"Senta aqui, Nina."
Estranhei o convite. Meu pai educava falando pouco, atento ao necessário, evitando o supérfluo.
Para mamãe, que gostava de discursar e argumentar, repetia um trecho da carta de Tiago: "Seja o teu sim, sim, e o teu não, não".
Não foi uma longa conversa porque logo a campanhia tocou. Eram os convidados chegando.
Na ânsia de recebê-los, mal escutei a frase que meu pai disse ao me abraçar carinhosamente na despedida. "Nina, a vida é uma permissão de Deus".
Sem ter consciência de seu significado profundo, por todos esses anos, vivi sem levá-la a sério. Estava lá, no mais escondido de mim porém latente.
Aos poucos, comecei a tomar as rédeas da minha vida, me apropriando do mundo e das pessoas que o foram povoando, agindo de acordo com minhas necessidades e desejos.
Sempre algo fora de mim fazia um movimento para me trazer de volta àquelas palavras.
Tracei a linha das minhas vivências, o campo dos meus afetos, sentimentos e emoções, sem dar conta da sua essência.
Estabeleci planos e metas, colocando pedra sobre pedra no edifício cujo único arquiteto acreditava ser eu mesma.
Ledo engano.
Ao saber que me restam poucos meses de vida, eu a compreendo inteiramente.
Pouco sei de Deus, menos ainda como ele atuou em mim.
Mas não chegamos ou partimos por livre e espontânea vontade nem quando queremos. "A vida é uma permissão de Deus."
Espero ter feito por merecê-la.
LIC
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