"Uma pequena volta do Cubo de Rubik no Universo teria me feito ser Laurence Olivier e ele, eu."
Em dado momento do filme que eu assistia ("De agora em diante"), um dos personagens disse isso, melancólico.
Ele representava e interpretava um ator frustrado, que costumava ensaiar seus diálogos para uma plateia inexistente. Para tanto, pagava 300 dólares a quem aceitasse contracenar com ele no cenário que montara em sua casa.
Me pus a pensar o que eu teria sido se essa "pequena volta" do Cubo de Rubik tivesse sido dada quando nasci.
Se eu não fosse o que sou, quem eu gostaria de ter sido?
O Cubo de Rubik ou Cubo Mágico oferece uma quantidade exorbitante de combinações. Talvez por isso, o número procurado foi chamado de “God’s Number” (Número de Deus).
Dentre as pessoas que admiro, invejo uma única pessoa que esteve neste Planeta recentemente. Ela está no topo da minha lista. Gostaria de ter sido quem ela foi.
Por que ela e não eu?
Comentei com meu tio sobre isso. Gosto de conversar com ele. Tio Bernardo, hoje ainda vivo, é um depositário de experiências, histórias e leituras, a quem eu recorro para tentar esclarecer minhas dúvidas.
"Olhe para o céu. Cada uma daquelas estrelas brilha num lugar único", ele me disse. "Há um plano para cada um de nós."
Não me conformei com essa resposta. "Para as estrelas, aceito esse determinismo. Nem pensam nem sentem. Mas eu sou um poço de perguntas sem respostas. Como descobrirei o 'meu plano'?", argumentei.
Quando você crescer resolverá esse problema por si mesma", ele me respondeu.
Claro que esse "crescer" era metafórico, pois eu já tinha 30 anos.
"Quanto mais tempo eu precisaria para 'crescer'?”, me perguntei.
Tivemos essa conversa há cerca de dez anos. Desde então, na tentativa de simplificar minha vida ao máximo, ela transcorreu rotineira e ordenada, mas nem por isso renunciei aos seus prazeres.
Gosto de relaxar tomando um banho longo depois de um dia agitado, ou de beber um Aperol Spritz bem gelado na companhia de caros amigos, ou de me brindar com uma barra de chocolate da Kopenhagen porque venci o “dopo” (leia-se procrastinação).
Estudei, trabalhei, casei, tive filhos.
Até que... a realidade e seus imponderáveis começou a atrapalhar minha vida.
Faz um ano que meu marido comunicou o desejo de nos separarmos. Já tínhamos comemorado bodas de prata. Antes de ser desagradavelmente surpreendida com essa notícia, tudo parecia caminhar nos conformes do plano que me fora destinado.
Hoje, estou divorciada, aposentada, meus filhos moram no exterior, ainda não tenho netos.
Lembrando da pequena volta do Cubo de Rubik no Universo, espero que ela não tenha se completado ainda.
Ponho fé que ainda há muito por vir.
Enquanto isso, vou ao supermercado porque minha geladeira está vazia.
LIC
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