Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo,
E ao
beber nem recorda
Que já
bebeu na vida,
Para
quem tudo é novo
E
imarcescível sempre.
Coroem-no pâmpanos. ou heras. ou rosas volúveis,
Ele
sabe que a vida
Passa
por ele e tanto
Corta
a flor como a ele
De
Átropos a tesoura.
Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isto,
Que o
seu sabor orgíaco
Apague
o gosto às horas,
Como a
uma voz chorando
O
passar das bacantes.
E ele espera, contente quase e bebedor tranquilo,
E
apenas desejando
Num
desejo mal tido
Que a abominável onda
O não
molhe tão cedo.
Odes de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1946.
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