Quando
leu a mensagem, sentiu o tempo parar. Suspensa por segundos, imóvel, a Terra se
deteve, perdeu movimento, se precipitou no infinito.
“Francesco
è morto”, era a breve mensagem que a amiga lhe enviara de Milão, às 8h da manhã
daquele 21 de abril.
Pouco
a pouco, ao sair daquele momento de estupor, quis saber mais. A morte é um tema
que provoca assombro, temor, repulsa, mas desperta curiosidade.
Foi
confirmar a veracidade da informação. Uma enxurrada de notícias já circulava
pela internet. Soube que o Papa morrera às 7h35 pelo horário de Roma, que haveria
nove dias de luto, que o enterro aconteceria entre o quarto e o sexto dia após
a morte, que já estavam sendo preparadas as cerimônias fúnebres, de 15 a 20
dias após o “trono vazio” aconteceria o Conclave.
E
que, por fim, a fumaça branca, subindo da chaminé da Capela Sistina, sinalizaria
a eleição do novo Bispo de Roma.
Ao
lembrar a frase que, na França, se proclamava o novo monarca, sentiu que logo se
esqueceria Francisco. “Il Papa è morto, viva il Papa." Da sacada da Basílica de
São Pedro, ecoaria pela praça o “Annuntio vobis gaudium magnum; Habemus Papam”.
Somos
ingratos! E nesse somos ela se colocou também, com tristeza e confissão, recordando
o enterro de seu pai. Um homem pode ser bom filho, bom pai, trabalhador,
honesto, doar para a caridade, mas o número de pessoas no seu funeral
geralmente dependerá do clima.
Certamente,
isso não aconteceria nas exéquias de Francisco, uma cerimônia repleta de
tradições, simbolismos e protocolos. Ele não é um simples mortal. Apesar de ter
morrido como um simples mortal “pois és pó e ao pó voltarás", concluiu.
Aparecemos
e desaparecemos, disse a si mesma. Deus nos leva pelo rio da vida tão depressa
quanto o sono, como a erva que nasce pela madrugada, germina e brota pela
manhã, mas à tarde murcha e seca, recitou em silêncio o verso de um Salmo que tinha
como mantra. Ninguém sabe o fim da sua história.
Envolvida
por um profundo sentimento de luto, esqueceu que a Terra não tinha parado de girar
em torno de si mesma e do sol.
Quando
escutou as onze badaladas do relógio cuco, despertou. Desligou a televisão, o
notebook, o celular e mergulhou na trivialidade da vida, nos fatos nada extraordinários.
A
vida continua e os leões estão soltos na arena, disse, encostando a barriga na
pia para lavar a louça do jantar, não sem antes comer inteirinho o coelho de
chocolate que sua filha lhe dera no dia anterior.
Tomás
de Aquino disse que o primeiro remédio eficaz contra a tristeza é qualquer
prazer. O momento da morte é incerto mesmo, se justificou.
LIC