segunda-feira, 24 de março de 2025

ATÉ PEDRO!

Tempos atrás, Jesus e Pedro caminhavam juntos em direção a um vilarejo.

Fazia muito, mas muito calor naquele dia.

Eles subiam uma montanha íngreme e Pedro começou a reclamar.

"Ai, Jesus, meu irmão, vamos parar um pouco pra descansar..."

"Força, Pedro, mais umas duas horas e chegamos ao vilarejo."

Pedro, ainda resmungando, disse a Jesus:

"O Senhor poderia ter arranjado um cavalo para esse seu velho amigo..."

Jesus, olhando Pedro, disse:

"Um cavalo? Está bem. Mas com uma simples condição: que você reze o Pai Nosso sem a menor distração, sem se afastar das palavras."

Pedro riu feliz. "Isso é fácil, Jesus."

Ele abaixou a cabeça, fechou os olhos e, concentrado, começou... "Pai Nosso, que estais nos Céus, santificado seja o Vosso nome..."

Até que... na parte "seja feita a Vossa vontade", Pedro abriu um olho, um olho só e disse:

"Jesus, com uma sela de couro, uma bela sela de couro, viu?!"

MEDITAR EM CONTAS

Considerado instrumento sagrado para orações na religião católica, o Terço tem 54 contas na guirlanda e mais cinco próximas do crucifixo, e pode ser encontrado em tamanhos menores.

Enquanto com a boca repetimos o Pai Nosso, a mente percorre, com Jesus, os mistérios de sua vida, paixão, morte, ressurreição e glorificação, e atende a três estados oracionais dirigidos a Deus: louvor, pedido, agradecimento.

E, com Maria, a mente percorre os acontecimentos dos quais Ela participou, unida a seu Filho.

Essas duas orações têm origem no Evangelho.

Que durante a recitação do Terço aconteçam distrações, é normal. Isso ocorre em qualquer oração, não somente no Terço.

Deus não repara nisso. Ele sabe de quê somos feitos.

sexta-feira, 21 de março de 2025

DIA MUNDIAL DA POESIA

DEUS!
Eu me lembro! Eu me lembro! Era pequeno
E brincava na praia; o mar bramia
E, erguendo o dorso altivo, sacudia
A branca espuma para o céu sereno.

E eu disse a minha mãe n'esse momento: 
"Que dura orquestra! Que furor insano!
Que pode haver maior que o oceano,
Ou que seja mais forte do que o vento?"

Minha mãe a sorrir olhou pr'os céus
E respondeu: "Um Ser que nós não vemos
E maior do que o mar que nós tememos,
Mais forte que o tufão, meu filho, é Deus!"

Casimiro de Abreu (1839-1860)

Essa data foi implementada na 3ª Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em 1999.

Pretende-se salientar a importância da poesia enquanto manifestação artística comum a toda a Humanidade. Celebra-se também a criatividade, a pluralidade linguística e cultural e promove-se o ensino e declamação da poesia.

terça-feira, 18 de março de 2025

CRÔNICA SOBRE UMA CRÔNICA

 

O amor impede a morte! Sei o que estou dizendo quando escrevo isso: já perdi seres queridos, muitos, que estão vivos porque eu os amo.

Mas a morte continua sendo um mistério. Minha compreensão sobre isso, e sobre tantos outros mistérios, é limitada. Nem o instinto ou a intuição me ajudam a conviver em paz com eles.

Tem dias que ela me aterroriza, quando imagino a solidão em que deve viver um morto. Não tenho natural predisposição para a convivência. Por vezes, sou um pouco ausente. Porém, estar sozinha pela eternidade não me agrada. Gosto de ficar só bem acompanhada.

Aceitando essa minha incompreensão sobre o derradeiro destino, aceito como dever ir até o fim e protagonizar o epílogo do livro de quem escreveu e determinou todos os meus dias. Sim, estou falando de Deus.

Algo está sempre por acontecer. O outono, desta vez. Ele já está à espreita, em suspenso no amanhecer lento, no vento fresco ao anoitecer, com umas e outras folhas de árvores mudando de cor e caindo. É um tempo de aceitação quase unânime porque equilibrado, nem oito nem oitenta no frio e no calor.

Vou interromper um pouco porque o interfone tocou. “Sim, Antônio, pode colocar no elevador social.” Os livros chegaram. Há muito não fazia isso, comprar livros. São itens valiosos, mas caros. Num ímpeto, comprei seis, para as noites insones, feriados prolongados e dias santos. Por incrível que pareça, tem santo para todos os dias, de santa Adelaide a santa Zita. Enfim... são 2.000 anos de Cristianismo. Não tem com K e com Y na língua portuguesa. Em outro idioma, talvez tenha.

Estou estudando inglês. Tenho motivos para isso: amo esse idioma e quero melhorar minha saúde cognitiva. Quem entende do nosso cérebro sugere que ser bilíngue na idade adulta pode ajudar a evitar a demência. Deus do céu, é o que desejo!

A propósito, me lembrei agora das senhorinhas que vivem naquele casarão de dois andares. Pele rugosa, flácida, cabelos brancos, andar lento são alguns sinais que denunciam sua idade – 80, 90, dona Hipólita com 102 anos – e a demência. Elas vivem na zona cinzenta do esquecimento, com flashes emaranhados do passado, num tempo que é agora, mas se desvanece no instante imediato.

Por quê, meu Deus, por quê? É mais um daqueles mistérios que não compreendo. Nem compreenderam os homens no passado. 

Um deles, meditando sobre a vida e a condição humana, escreveu: “Somos breves como o sono, como a relva que brota com a alvorada, germina e floresce pela manhã, mas, ao pôr do sol, murcha e seca”.

Só o amor impede a morte!

O dia está ameno. Vou visitá-las hoje. 

LIC



segunda-feira, 3 de março de 2025

JUSTIFICANDO

Todos os anos, no final das férias de verão, a ladainha era a mesma.

“Você não fica com vergonha dos seus filhos voltarem para casa com saudade da comida da empregada”?

Pois eu não ficava e fazia coro com eles, sem vergonha. “Dona Vera, que saudade do seu arroz e feijão!”

Na casa dos meus pais, era minha mãe que cozinhava, desde sempre e foi para todo o sempre.

Em meia hora, o almoço estava pronto; quarenta minutos no máximo às quintas-feiras, quando era dia de macarrão ao alho e óleo, bife à milanesa e salada de brócolis.

Não que ela gostasse de cozinhar. Não gostava. Ela amava costurar.

Mas foi uma das obrigações que, presumida e assumidamente, se aceitava com o casamento naqueles tempos.

Nem sei se isso já tinha mudado no meu tempo ou se mudou nestes tempos de agora.

O que aconteceu foi que minha sogra – que seu pouso eterno tenha sido seguro – me deu de “presente” uma auxiliar do lar. E eu escolhi, dentre muitas candidatas, a que aceitou a única exigência: saber cozinhar.

A razão, motivo, justificativa, desculpa era eu trabalhar das 8h às 14h.

A verdade é que eu não sabia cozinhar e não herdei o consentimento da minha mãe sobre esse item do contrato.

Até tive boa vontade e tentei seguindo o passo a passo do “Cozinhando com Ofélia”. Mas meu primeiro jantar feito à mão foi cenário de um pesadelo na cozinha.

Foi então que a Covid-19 chegou. E a humanidade, eu inclusive, foi obrigada a trabalhar intensamente na mudança de hábitos, costumes e atitudes.

Dona Vera, por opção dela, e com minha aceitação incondicional, parou de trabalhar aqui em casa.

Sem ela, o processo de adaptação foi penoso, tem sido intenso, e dura até hoje. Mas não desperdicei oportunidades de transformação.

Já sei fazer arroz “soltinho”. O segredo é não mexer durante o cozimento porque pode liberar amido extra, deixando o arroz pegajoso.

Sei cozinhar feijão e engrossar o caldo. É só separar uma pequena porção dos grãos cozidos, amassá-los para liberarem amido, devolver na panela, deixar cozinhar por mais alguns minutos, sem tampa.

Apesar de tanto tempo passado desde a Pandemia, é só por enquanto. Pareço a humanidade que, desde então, tem trabalhado tão pouco para se transformar.

Apesar disso, se continuo não gostando de cozinhar, tenho analisado seriamente com o terapeuta minha resistência profunda a essa ocupação que, dizem, é uma arte que requer criatividade e imaginação.

Minha mãe não gostava de cozinhar, mas usava sua criatividade e imaginação costurando.

Prefiro usá-las escrevendo. Como Mário de Andrade, “escrevo sem pensar, tudo o que meu inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi”.

Foi o que fiz até este ponto final.

P.S.: Hoje, eu aprendi, e fiz, jiló refogado sem o gosto amargo. Oh glória! 

LIC