A
mesa está posta na sala de jantar, porque seremos sete: meus pais, meus três
irmãos, eu e tia Brígida, minha tia de domingo.
Era
de seus hábitos e costumes almoçar em nossa casa sempre aos domingos. Chegava exatamente
às onze horas. Para tanto, pegava o ônibus que passava às dez no ponto em
frente do mosteiro de São Jerônimo, onde assistia missa. O rigor na
pontualidade obrigava tia Brígida a receber a benção de costas, já do lado de
fora, nas escadarias da igreja.
Por
este acinte, pedia perdão, contrita e cegamente confiada no juízo sensato de
Deus.
Tia
Brígida era alta, magra, rosto pálido e sem brilho. Muitas rugas marcavam o
horizonte da sua testa. No espelho do passado, eram os olhos pequenos,
encovados, sombreados por finas sobrancelhas que se destacavam a me contar sua
história.
Fora
casada e tivera filhos. Dois meninos gêmeos prematuros que morreram com poucos
dias de vida. Depois de seguidos anos marcados por abortos espontâneos,
conseguiu convencer o marido pela adoção. Com onze anos, o menino, era um outro
menino, morreu tísico. O marido, já infiel, por fim desertou.
Nas
inutilidades dos meus domingos, tia Brígida continuamente é o ponto de partida
de minhas indagações metafísicas: por quê? para quê? Mas acredito que ela
encontrou as respostas. Por vezes, sorria. KLIMT, Gustav. Esperança II (1908) |
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