Chovia muito. Águas de março fechando o verão. As ruas
estavam alagadas e a enxurrada que transbordava das margens da rua Vergueiro
impedia qualquer tentativa de travessia.
Eram seis e meia da tarde. Uma multidão de paulistanos àquela
hora voltava para casa. Era essa também a minha intenção. Parado na frente da
entrada principal do Centro Cultural São Paulo, eu estava na calçada errada,
pois o ponto do meu ônibus ficava no lado contrário. Segurava a bengala com uma
das mãos, o guarda-chuva com a outra e esperava alguém disposto a me acompanhar
na empreitada.
Depois de quase uma hora aguardando um braço
solidário, senti que os que passavam por mim, antes ocupados em se salvar do
dilúvio, nem se davam conta da minha necessidade.
Com a impaciência domesticada por 30 anos de
cegueira, me dispus a esperar a chuva pelo menos amenizar para ter a ajuda de
um sobrevivente. Foi quando ouvi alguém me perguntar:
- Quantos quilos o senhor pesa?
Pergunta estranha para aquele
momento e lugar... Mas respondi.
- Uns sessenta quilos.
No minuto imediato, me vi erguido do chão por
braços vigorosos. E, sem que eu tivesse tempo para uma recusa ou qualquer
reação de protesto, fui levado até o outro lado da rua... no colo.
Cheguei em casa com a roupa encharcada, mas com os sapatos secos.
LIC, jul. 2015
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